Recontar a vida da primeira e única mulher que governou o Brasil, Isabel Christina Leopoldina Augusta Michaela Gabriela Raphaela Gonzaga de Bragança e Bourbon, ou melhor Princesa Isabel, é a última homenagem que fazemos às mulheres que marcaram a história da corte brasileira.
No dia 29 de julho de 1846, os canhões do Morro do Castelo, no Rio de Janeiro, anunciaram o nascimento da Princesa Imperial Isabel Christina, filha de Dom Pedro II e de Dona Teresa Cristina, no palácio da Quinta da Boa Vista. Os festejos do nascimento duraram sete dias e pararam a cidade.
Segundo os historiadores da época, a nossa Princesa foi uma criança muito inteligente, além de bonita. Pelas fotografia e pinturas, sabe-se que ela era esguia, estava sempre belamente vestida e usava delicados brilhantes nos cabelos.
A Princesa Isabel casou-se, totalmente apaixonada, com Luiz Felipe Gastão Orleans, o Conde d’Eu, com 18 anos, em 1864. Viveram felizes por um ano e meio, mas quando apresentou-se a sua dificuldade na concepção de um herdeiro, a sua relação ganhou contornos trágicos. Uma princesa poderia ser tudo, menos estéril, pois na sua fertilidade estava a garantia de permanência do poder em sua família.
Tentando vencer este obstáculo, em 1868, a princesa resolveu fazer um milagroso tratamento com Água Mineral, a ultima novidade da Europa. Foi para Minas Gerais com o marido, o Dr. N. Feijó, e alguns amigos para experimentar as Águas Minerais de Caxambu. Não se sabe bem como, mas a cura chegou logo e logo depois ela geraria três herdeiros para garantir a perpetuação dos Orleans e Bragança: D. Pedro do Gran Pará, D. Antonio e D. Luiz, bonitos e saudáveis.
Sua presença na história do Brasil se deu após a guerra do Paraguai, quando se tornou Regente do Império. Sua primeira Regência foi marcada pela vitória do abolicionismo com a promulgação da Lei do Ventre Livre, a 28 de setembro de 1871.
Todos os brasileiros conhecem o episódio da assinatura da Lei Áurea. Mas poucos sabem que se ela não tivesse obrigado o Barão de Cotegipe, Presidente do Conselho, e todo o seu Ministério, a demitir-se e, com isto, criar a oportunidade para que João Alfredo Corrêa de Oliveira organizasse um novo Ministério, Liberal, a Lei Áurea nunca teria acontecido. Muitos criticam esta lei, por ter sido paliativa e gradativa, mas o fato é se não fosse isto, a libertação dos escravos ocorreria muitos anos depois, conforme era o desejo da aristocracia rural.
A vida política da Princesa Isabel foi interrompida com a proclamação da República e a decretação do banimento da família real, que foi obrigada a sair à noite, na Canhoneira “Parnaíba”, sem a companhia dos filhos que ainda se achavam em Petrópolis. Tudo isso causou em Isabel um desgosto profundo. No exílio sofreu outros golpes. A morte da mãe, as dificuldades financeiras, a morte do pai.
Assim, com muita tristeza, ela se tornou Chefe da Casa Imperial no exílio, que hoje é representada pelos filhos de seu neto Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, filho de Dom Luiz, o segundo na linha sucessória. O primogênito, Dom Pedro de Alcântara, renunciou para se casar com uma plebéia.
A princesa morreu em Paris, França, no dia 14 de novembro de 1921, sem conseguir rever o Brasil. O decreto de banimento só foi revogado em 1922, no Governo de Epitácio Pessoa.