Vá entender as mulheres

A coisa mais louca do mundo é ser mulher. Ter nascido mulher. Os homens têm razão quando dizem que não nos entendem. Se nem nós sabemos porque agimos como agimos, como é que eles vão entender ? Ser mulher é se encher de esperanças a toda a hora, a todo momento, principalmente em se tratando do nosso assunto predileto: o sexo oposto. Quando “eles” entram na pauta do dia, o que não é raro, é batata: todos os comentários podem ser cortados pela metade, senão por um terço. Nós, mulheres, temos uma capacidade ímpar de fantasiar a realidade, distorcer os fatos, sonhar, acreditar. Excelentes arquitetas, construímos castelos de areia no ar que se desmancham ao menor sinal de vento. Nos enchemos de expectativas que, mais cedo ou mais tarde, se mostram totalmente infundadas e então, lá vem ela, la grande decépcion.

O homem diz “gostei de você”, a gente entende “te amo muito e quero passar o resto dos meus dias ao teu lado, minha princesa idolatrada”. Mas ele disse só “gostei de você”, que significa exatamente isso: que gostou da gente. Não interessa, a gente interpreta sempre o que quer, escuta o que manda o nosso nem sempre tão certo instinto feminino, rouca voz interior. Aí, a gente passa a noite inteira sonhando com o cara, isso depois, é claro, de já ter ligado para todas as nossas amigas e ter espalhado aos quatro ventos que achamos o homem da nossa vida: um gentleman, educado, bem-humorado, inteligente e que ainda por cima quer casar com a gente.

Então existe o maldito dia seguinte, quando você encontra esse mesmo gentleman no corredor do seu trabalho, que passa por você e mal lhe cumprimenta, e vai saindo assim mesmo, de soslaio, em direção à porta da rua, talvez até mesmo pensando: puxa, de onde é que eu conheço aquela mulher? Você, com um sorriso até as orelhas, e o simancol esquecido em casa, fica desapontada, mas logo já acha uma explicação para o fato: ele é “tímido”. Que bonitinho! Continua já se vendo numa casinha branca, de cortinas rendadas, fazendo cafuné na cabeça dele, enquanto a criançada corre ao redor da mesa da sala. Fulaninho, não sobe ai! O cachorro late lá fora, e tudo é tão certo que já parece verdade. Concretizado. Não há dúvidas. Tudo é uma questão de tempo, afinal, ele disse que gosta de você.

Na festa seguinte, com o decote atééé o umbigo e os dentes polidos à cal, você brilha os olhos ao vê-lo entrar no salão. O mesmo porte, um terno azul marinho, um celular como uma flor a enfeitar a lapela e.. ops, uma namorada a tiracolo, engatada no braço. Puxa vida, com essa você não contava! Puff. O conto de fadas virou pesadelo, ou melhor, você acordou para a vida. O príncipe era mesmo um sapo, e fadas-madrinhas nunca existiram. Mas ele não disse que gostava de mim? Sim, ele sussurara essa frase ao pé do seu ouvido. E agora você bem se lembra… o tom de voz não era tããão meloso assim. Na verdade, ele estava gripado naquele dia. E rouco. E ele nem olhou no seu olho, nem fez cara de galã. Mas aquelas piscadinhas.. Ih, caramba, seria cacoete? Era. E a prova era ele estar ali, se piscando, sorridente, com a tal da namorada. E falar nela, que mal gosto, hein?

A nota da coitada cai lá pra baixo, e a inexistente fidelidade feminina vem à tona: quem é essa perua? Colocamos toda a culpa da nossa frustração na outra, “ela” soprou nosso castelo, “ela” foi o vento, maldito vento. Grandíssimo engano. Tendemos também a culpar o homem, mas na verdade, nem um dos dois tem culpa de nada: tudo estava na nossa cabeça. A culpa é toda nossa, nós, porta-bandeiras da realidade, passistas número um na arte de sonhar acordadas, primeiro lugar para o troféu fantasia. Abram alas: quando uma mulher não quer ver, ela não enxerga mesmo.

Por isso, amigas, tendamos a ser mais realistas. Homens, quando dizem uma coisa, provavelmente estão a dizer exatamente isso: uma coisa. São diretos, objetivos, e não têm o dom da insinuação. Esse papo de “deixar no ar”, para eles só se aplica no futebol. É o que é, não o que poderia ser. É toda nossa a tendência a desenrolar palavras e montar a música mais bela aos nossos ouvidos. Não tentem ler o que não está escrito, nem ouvir o que não está na partitura. Sejamos mais rap, e menos marcha nupcial. A não ser, é claro, que ele diga que gosta de você.