Antes de continuarmos a nossa história sobre as rainhas que passaram pelo Brasil, vou atender a um pedido das leitoras que perguntaram sobre as rainhas de Portugal, antes de Carlota Joaquina reinar em solo brasileiro.
A primeira foi D. Luisa de Gusmão, espanhola que se tornou rainha de Portugal pelo casamento com D. João IV em 1633. Depois da morte do rei, assumiu a regência do reino durante cinco anos, durante os quais teve de enfrentar a oposição do Conde de Castelo Melhor, que pretendia que o futuro rei, D. Afonso VI, invocasse o seu direito ao trono, fato esse que ocorreu em 1662, apesar da pouca aptidão do futuro monarca para o cargo. Em 1663, afastou-se e foi viver no Convento das Carmelitas Descalças, em Xabregas.
D. Maria Francisca de Sabóia era portuguesa e reinou por ser esposa de D. Afonso VI, com quem casou-se em 1666. Como toda a corte, Dona Francisca era uma mulher muito auspiciosa e, no momento oportuno, contribuiu para o afastamento do próprio marido, D. Afonso VI, do trono. Com a anulação do casamento pelo Papa, pode-se casar novamente, em 1668, com D. Pedro II (com o qual mantinha já um relacionamento), que tomou conta do governo, primeiro como regente e, depois, jurado nas cortes de Lisboa. Nesse mesmo ano, D. Maria Francisca teve, do seu casamento com D. Pedro, uma única filha, D. Isabel.
D. Maria Sofia de Neuburgo foi a segunda mulher de D. Pedro II. Era filha de Filipe Guilherme, duque de Neuburgo e eleitor palatino do Reno. Casou-se com D. Pedro em 1687. Foi mãe de sete filhos, entre os quais D. João V.
D. Maria Ana de Áustria, mulher de D. João V, era Arquiduquesa da Áustria, filha do imperador Leopoldo I e da imperatriz D. Leonor Madalena. Em 1708, casou-se por procuração em Viena, na Áustria, com D. João V. Foi regente de Portugal em 1716 e novamente entre 1749 e 1750, nos últimos anos de vida de D. João V. Teve seis filhos, entre os quais a infanta D. Maria Bárbara (que viria a casar com D. Fernando de Espanha), D. Pedro (que casaria com D. Maria I) e D. José (que seria rei de Portugal).
Na semana passada falamos sobre D. Maria I.
Vamos então à vida da famosa Carlota Joaquina, Princesa do Brasil e, depois, Rainha de Portugal. Filha dos reis de Espanha Carlos IV e Maria Luísa de Parma, nasceu na Espanha em 22 de abril de 1775. Quando completou 10 anos de idade, casou-se por procuração com D. João VI. Quando viu o marido pela primeira vez, intuiu que o seu casamento seria um fracasso, pois tinha achado-o horrendo. Por isto, na noite nupcial, mordeu a orelha do marido e sacudiu-lhe um castiçal no rosto. A vida sexual do casal foi sempre uma tragédia. Apesar disto, ficaram casados por 36 anos. Tiveram nove filhos, mas, como dizem as más línguas, cinco deles não descendiam de D. João VI. Carlota Joaquim de Bourbon era uma mulher muito feia. D. Leopoldina (que casou com D. Pedro I), quando a viu pela primeira vez, achou-a tão feia que “baixou os olhos como não querendo voltar a vê-la; as marcas da varíola, o corte de cabelo, cordões e mais cordões de pérolas e pedras preciosas enroladas em seus cabelos, pendendo de seus cachos gordurosos como cobras”.
Mas, como todo mundo sabe, sua feiúra era proporcional à sua alma ardente, ambiciosa, inquieta, repleta de paixões e sem escrúpulos. Seus gritos de raiva, quando os prometidos jovens negros não eram trazidos a sua cama, conforme combinado, eram ouvidos em toda a cidade. Suas filhas não gostavam dela, como pode ser comprovado neste depoimento de D. Maria Tereza: “Ela é uma Bourbon e teve de casar com um Bragança, que não é uma estirpe boa. Com os portugueses tudo é indefinido… pouca ambição, pouco espírito de luta. Os nossos pais não nos amam, eles nos separaram; Pedro teve sorte de poder viver com o pai. Nós, as moças, as minhas duas irmãs e meu irmão Miguel, tivemos de viver com ela… meu pai mandou prendê-la num convento, porque não podia mais confiar nela. Ela se oferece aos criados. No Convento da Ajuda tentaram conter o seu desejo com uma alimentação especialmente leve, mas ela voltou ainda mais briguenta, mais desajustada…”.
Dizem que Carlota era ninfomaníaca e que, quando chegavam barcos do estrangeiro, ia pessoalmente ao porto escolher garotos para satisfaze-la. Devido ao seu comportamento escrachado, Carlota Joaquina sempre foi vista pelos historiadores de maneira negativa. O fato é que ela era profundamente infeliz e, ao contrário dos procedimentos reservados às mulheres da corte na época, reagiu com violência contra o seu destino. Se estava mal-humorada, mandava chicotear todos aqueles que não se ajoelhavam quando ela passava com seu cortejo.
Enfim, Carlota detestava o Brasil, o considerava ‘país de negros e macacos’ e quando pode retornar a Portugal ficou radiante. No dia 25 de abril de 1821, Carlota Joaquina, seu marido D. João VI, seu filho Miguel, seis princesas e 4.000 cortesãos, levando mais de 50 milhões de cruzados roubados às escondidas do Banco do Brasil, valor que correspondia à grande parte do Tesouro Real Brasileiro, embarcaram de volta à Europa. Seu desprezo por estas terras era tanto que ao embarcar no navio, Carlota tirou os sapatos e disse: “Nem nos calçados quero como lembrança a terra do maldito Brasil”.
De volta à Corte, continuou seus planos de dominar Portugal, através do filho D. Miguel. Morreu em 1830, no Palácio de Queluz.