Educar os filhos não é uma tarefa fácil e um questionamento freqüente dos pais é quanto ao uso do “famoso” castigo. Afinal, deve-se ou não castigar os filhos? Como e quando fazê-lo? Vamos então pensar melhor sobre este assunto .
Recorrendo ao dicionário, encontramos como significado para a palavra castigar – dar ou infligir castigo a; punir; repreender; aperfeiçoar; penitenciar. Quando pensamos na educação de nossos filhos, fica claro que apenas um destes significados faz sentido: “aperfeiçoar”.
Antes de castigá-la, explique, converse. O castigo é sempre conseqüência de algo que a criança tem consciência de que fez de errado
Isso porque, antes de mais nada, é preciso ter em mente que o objetivo maior na educação dos filhos é o de ensinar valores, ajudá-los a formarem-se indivíduos saudáveis. Neste processo, que implica necessariamente em acertos e erros, conquistas e fracassos, o castigo deve aparecer como um artifício para aperfeiçoar a conduta da criança e não se reduzir a simples punição, um modo de fazê-la sofrer pela atitude cometida.
O castigo tem por finalidade ajudar a criança a se desenvolver de maneira sadia, isto é, numa direção moral, deve fazê-la entender e fixar regras que, se ela as aplicar, lhe facilitará a conquista do autocontrole, preservando o sentido de sua liberdade interior, crescendo com autonomia e responsabilidade.
Contudo, não é difícil observar algumas atitudes dos pais que vão de encontro a esta proposta, como, por exemplo, deixar-se levar pela raiva. Quantas vezes diante de uma falta dos filhos, o sentimento de raiva não toma conta dos pais e por conta disso tomam atitudes drásticas?
Não se deve satisfazer o instinto de vingança ou o ressentimento. Muito menos usar o castigo como válvula de escape para a raiva provocada, pois quase sempre se excede o limite e a criança, além de humilhada, acaba não tendo a oportunidade de falar e ouvir sobre o que aconteceu. Com isso, ao invés de repensar sua atitude, fica com raiva também. Conclusão, o tal castigo perde totalmente o sentido, uma vez que serviu simplesmente para aliviar a ira dos pais e não para corrigir o comportamento do filho.
Vale ressaltar que os pais podem e devem falar sobre os sentimentos que a atitude da criança despertou neles, seja raiva, vergonha, chateação etc. Mas é fundamental ser capaz de agir com calma e coerência . A criança precisa entender o motivo do castigo, que é a sua atitude que está sendo corrigida e não achar que está sendo punida por autoritarismo ou irritação do adulto.
Outra situação é a desmedida do castigo. O velho e conhecido “fazer tempestade num copo d’água”, ou seja , na ânsia por educar os pais aplicam sempre severas penas nos filhos. É preciso ter coerência na hora de estabelecer o castigo. Quanto maior o grau da infração maior o castigo e vice-versa. Castigue somente quando o ato mereça e não apenas para manter a moral. Muitas vezes uma cara feia dos pais ou um “não gostei do que você fez!” resolvem o problema. Além do que, lembre-se de que ser sempre tolhido pode resultar em insegurança e falta de iniciativa.
Tão complicado quanto estas situações é aplicar o castigo sem antes ter ensinado a criança o certo. Há momentos em que a criança erra por estar experimentando algo novo, sem ter a noção de que aquilo é errado. Antes de castigá-la, explique, converse. O castigo é sempre conseqüência de algo que a criança tem consciência de que fez de errado.
De fato, o fundamental é manter o diálogo e sempre conversar com a criança sobre a atitude cometida, explicando porque, de acordo com os valores da família, esse e aquele comportamento não são aceitáveis e, o mais importante, fazê-la entender que, embora precise, de alguma forma, responder pelo que fez, ela tem a chance de ressignificar e crescer. A criança não pode temer o castigo, mas despertar a consciência para o que é certo e, desta forma, procurar acertar.
Assim, o foco deve ser diferente: o castigo deve trazer consigo a completa aplacação do sentimento de culpa da criança. Dado o castigo a criança deve se sentir mais leve, pois entendeu, sem humilhação, que errou e, com isso, se mostra mais alegre e confiante no adulto do que antes do erro. A conseqüência natural então é a intenção de agir direito, de reparar, se possível, as más conseqüências do erro. Enfim, o castigo deu resultado.
Uma correção eficaz deve deixar sempre aberta uma porta à possibilidade de superação e crescimento.
Márcia Mattos é psicopedagoga e pedagoga do Apprendere Espaço Psicopedagógico