Basta checar no dicionário: o significado de liberdade nada tem a ver com imprudência. O desrespeito às leis de trânsito tem feito cada vez mais vítimas fatais, e isso não se resume a acidentes de carro. Recentes estatísticas apontam para o alarmante aumento das mortes entre os motociclistas e, no que tange às mulheres, segundo o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, esse número foi multiplicado por 16 no período entre 1996 e 2010. A independência que uma moto inspira, portanto, deve vir a companhada de consciência. Além de prezar pela educação no trânsito, não se descuidar da sua própria segurança resultará num bem coletivo. E a tecnologia sopra a favor.
Um equipamento recém-lançado no Brasil pretende colaborar positivamente para mudar as estatísticas. Item cada vez mais exigido pelos consumidores de automóveis na hora da compra, o airbag ganha uma nova versão para motos através de uma vestimenta inflável inventada pelo engenheiro japonês Kenji Takeuchi. “Precisamos criar a consciência e a responsabilidade individual. Uma pessoa é motociclista por prazer ou praticidade, sendo que, do total, 59% usam o veículo como forma de locomoção. Existe uma preocupação legítima da família de quem monta numa moto e vai trabalhar, por exemplo. A espera pela volta é angustiante. Existem o capacete, a jaqueta, mas numa moto a proteção acaba sendo o próprio piloto”, diz o executivo Milton Nakamura, da fabricante Mugen Denko, que já disponibiliza o produto em mais de 20 países.
O airbag é ativado por meio de um cabo espiral fixado à motocicleta e à jaqueta. Quando o motociclista é ejetado da moto, o cabo se estica acionando automaticamente um cartucho acoplado de gás CO2. O airbag infla durante o voo, formando uma barreira de ar comprimido dentro da jaqueta, que absorve o impacto. Instantes depois, ele desinfla, permitindo que o condutor possa se movimentar novamente. Pilotos profissionais e forças policiais de diversos países já fazem uso do produto. “Numa queda, ele é capaz de proteger pescoço, coluna cervical, cóccix, as laterais e caixa toráxica”, enumera o executivo. No crash test realizado pelo Japan Automotive Research Institute (Jari), comprovou-se que, em caso de impacto lateral e quedas, o produto reduz em 75% o impacto gravitacional na coluna e no tórax, e em cerca de 40% a aceleração e o impacto no pescoço e na cabeça.
Nakamura reforça que o airbag deve ser aliado a outros equipamentos de segurança para garantir a tranquilidade total do motociclista. “Ele deve ser usado com capacete e luva. A mão é a primeira parte do corpo que vai ao piso durante um acidente, é a proteção instintiva do condutor. O capacete, por sua eficácia comprovada, já é obrigatório, regulamentado. Acreditamos que o uso do airbag venha a ganhar força através de um processo de conscientização, por ser um produto do bem, com um cunho de responsabilidade social muito grande”, aponta ele, que, ao apelo social, acrescenta um dado econômico. “Também é uma economia para os cofres públicos. Cada acidente de moto custa aproximadamente R$ 50 mil ao governo”.
Embutido
Além da versão vestimenta, o airbag para motos foi incorporado ao próprio veículo, de forma semelhante à realizada na indústria automotiva, em 2005, pela Honda. Um de seus modelos de luxo contém o dispositivo de segurança, que funciona a partir de sensores posicionados no garfo dianteiro que disparam a bolsa inflável, localizada acima do tanque do combustível, protegendo o piloto em caso de colisão frontal.