Imaginem a cena: você está dirigindo direitinho, sem infringir lei alguma de trânsito, e é fechado por um carro distraído que lhe faz desviar e (quase) bater num terceiro. A cena, que já aconteceu comigo, com você, e que diariamente deve acontecer com muita gente, não raro termina com você conseguindo ultrapassar o tal carro “desligado”, notando que o motorista estava distraído porque dirigia falando no celular.
O assunto ressurgiu para mim outro dia quando duas amigas queridas – mães, executivas e geeks – estavam atualizando o Twitter no meio do trânsito. Ao contarem que estavam dirigindo, lá fui eu responder: cuidem-se, não é prudente. E li duas das desculpas mais tradicionais neste caso: “Mas eu não falo, apenas mando mensagem de texto” e “Garanto que só falo no celular quando o sinal fecha ou está muito congestionado”.
Os pesquisadores da Universidade de Utah (EUA) usaram um simulador para demonstrar os efeitos do celular nos motoristas, monitorando o foco da atenção do motorista, e comprovaram que uma das atividades que mais o deixa distraído no trânsito é o envio de mensagens de texto. Além disso, há comprovação de que o motorista que usa o celular enquanto dirige tem quatro vezes mais chances de se envolver em acidentes – a mesma de quem está com 0,8 de álcool no sangue (o que legalmente já é sinal de embriaguez).
Um fato que nem você, caso tenha este hábito, poderá refutar: quase sempre os motoristas que dirigem usando celular trafegam mais devagar (o que em cidades como Sampa, com vias de trânsito rápido e velocidade média alta, é um grande risco) e nos deixam a sensação de que o carro anda em ziguezague, sem falar em outras manobras que, no mínimo, atrapalham o trânsito. Há registros de alguns mais distraídos que simplesmente passam reto em semáforos vermelhos, já pensaram?
Isso tudo sem falar no custo financeiro mesmo. Está lá, no capítulo XV das infrações do Código Brasileiro de Trânsito, Art. 252, item VI: “Dirigir o veículo (…) utilizando-se de fones nos ouvidos conectados a aparelhagem sonora ou de telefone celular” é considerado uma infração média (que “vale” quatro pontos na carteira) e tem multa no valor de cerca de R$ 85. O famoso fone de ouvido, tão útil para quem usa transporte público, não é permitido aos motoristas! E pouca gente sabe até tomar uma multa e tentar recorrer.
Se você não consegue mesmo se controlar e não pode ficar sem atender ao celular enquanto dirige, há no mercado uma variedade de equipamentos que reduzem (mas não eliminam) os riscos do uso de celular a bordo, como aparelhos de viva-voz, simples ou com gravador, e suportes para painel que fazem o mesmo que o bluetooth do aparelho de som automotivo integrado. Segundo li, eles custam entre R$ 50 e R$ 200, um valor bem razoável se comparado ao da multa, não é mesmo?
A alternativa é optar por aparelhos que não ocupem as mãos, como o bluetooth, mas é bom lembrar que mesmo assim os riscos ainda não são eliminados. Eu adotei esta alternativa no modelo de carro que usamos agora: o painel já veio com o som integrado que se conecta automaticamente por bluetooth ao meu celular quando entro no veículo. Confesso que é muito prático, é como conversar com alguém que está dentro do carro comigo e, apesar de exigir atenção, não me distrai fisicamente (só mental e piscologicamente).
Mas nem por isso eu deixei minha prática antiga como motorista: tenho toques diferentes para marcar quem são os contatos que devo atender (como minha mãe, meu esposo, a pessoa que cuida dos meus filhos, minha assistente no trabalho). Se um deles liga, eu busco um lugar para encostar o carro e retorno.
Os amigos mais chegados já sabem deste hábito e não insistem muito se eu não atendo nos primeiros toques: mandam logo SMS e eu retorno assim que posso. E o Twitter, que as amigas usavam naquele dia, também pode ser aliado do motorista: meu aplicativo para usar o Twitter no celular me avisa na hora quando recebo replies (menções) ou DM’s (mensagens privadas). Quando não estou mais dirigindo posso ler e responder sem incômodos.
O que não vale a pena é arriscar. Temos que adotar uma conduta correta como cidadãs – ainda mais sendo mães de mocinhos que logo estarão por aí repetindo nossa conduta como motoristas, né? – e estar ciente de que os perigos de dirigir usando celular é um dos conceitos da educação para o trânsito, das orientações sobre a importância de se cumprir as leis de trânsito e de como dirigir com cuidado e de maneira defensiva e observar as condições do tráfego, tendo como objetivo a prevenção de um problema, evitando o agravamento dos índices de acidentes.
P.S.: Você sabia que a educação para o trânsito já foi proposta como disciplina a ser incluída nos currículos dos ensinos fundamental e médio? A ideia é que, com campanhas educativas que abrangem desde o alerta sobre o perigo de dirigir usando celular até a mistura fatal de álcool e direção, consigamos reduzir os índices de mortalidade nas ruas e estradas do País, estimulando condutas positivas de motoristas e pedestres.
Samantha Shiraishi é jornalista profissional, diplomada pela UFPR. Atuou durante 10 anos em redações de jornais e revistas no Brasil e no Japão. Edita também, em parceria com W3Comunicação, a revista eletrônica De olho nos blogs. É voluntária da SaferNet e embaixadora 2.0 do movimento Todos Para Educação. Desde junho de 2010 é a representante da América Latina no Norton Online Family Advisory Council.
Blog – A vida como a vida quer – www.samshiraishi.com