Na paz do narguilé – O narguilé é uma tradição que vem do Oriente Médio. Símbolo de paz e sociabilidade

Nada como ficar com uns amigos jogando conversa fora. Geralmente, nas rodas de bate-papo surgem os assuntos mais inusitados, ainda mais quando a roda é formada por pessoas que têm uma certa cumplicidade. Infelizmente, nesses últimos tempos, o assunto tem sido sempre o mesmo, e nada animador. Foi pensando em bons momentos de bate-papo que lembrei de um verdadeiro cachimbo da paz que conheci com amigos Libaneses e Tunisianos, o narguilé.

Numa de minhas aventuras pelo mundo afora, descobri o ritual desse momento de descontração que é o de fumar o narguilé. Vou contar a história desse costume típico do Oriente Médio. Quem sabe não nos animamos todos com esse exemplo de convívio e relaxamos um pouco?

Também chamado de shisha ou hookah, o narguilé, esse cachimbo com água, é símbolo de hospitalidade, convívio, confiança e amizade e pode também ser considerado como um cachimbo da paz.

Um velho sábio turco chamado Ismet Ertep declarou: “Fumar um narguilé não é como fumar um cigarro. Os cigarros são para pessoas nervosas, estressadas. Quando se fuma um narguilé, você tem tempo para pensar, exercendo a paciência, a tolerância, dando tempo para apreciar as pessoas com quem você está. Os fumantes de narguilé têm uma relação mais calma com a vida do que os fumantes de cigarros”.

Mas, afinal de contas, como é esse tal de narguilé? Ele pode ter vários aspectos. O mais comum lembra um pé de lâmpada alto, cheio de água. Na parte superior, tem um pequeno prato sobre o qual se coloca a mistura de frutas, flores e tabacos que serão queimados e destilados na água. Um grande tubo com uma piteira leva esse vapor com fumaça a boca de quem estiver fumando. Existem vários sabores de tabacos, geralmente são meio adocicados, já que para dar uma solidificada à mistura escolhida, a liga é feita com mel ou melaço.

O ato de fumar o narguilé é um momento de socialização apreciado e respeitado em vários países, como na Grécia, Tunísia, Turquia, Líbano, Líbia, Jordânia, Egito, Índia, mas cada qual com suas regras sociais. No Líbano, por exemplo, o narguilé é tão popular entre os homens como entre as mulheres, como entre jovens e mais velhos. Representando o convívio, é intimamente relacionado à serenidade e ao bom entendimento entre os membros de uma comunidade. Uma senhora Libanesa conta que em Beirute, durante os longos anos de guerra, a sua família e vizinhos levavam o narguilé para os esconderijos subterrâneos, transformando-o em um companheiro dos períodos obscuros. Na mesma cidade, existe o festival do narguilé, organizado num bosque que, durante a guerra, demarcava as duas diferentes partes da cidade, a dos católicos e a dos muçulmanos. O narguilé, hoje em dia, é um símbolo de paz e pode ser fumado nos cafés abertos, ao contrário da Tunísia onde só pode ser fumado em ambientes fechados.

Para se dar esse pequeno prazer é bom contar com uma hora de relaxamento. O primeiro passo é escolher bem a companhia, depois, o bar ou café onde você se vai passar essa pequena hora e, por fim, a mistura de aromas. Aí, começa um ritual de abrir e fechar caixinhas coloridas, cada uma com seu recheio delicioso: maçã, melão, melancia, especiarias diversas. As caixas são decoradas com desenhos de flores, mulheres envoltas em seu véu passeando sobre um camelo no deserto, um sultão sobre um belo elefante, enfim, cenas exóticas vindas do Oriente Médio.

Depois das primeiras baforadas, o ritmo cardíaco diminui, os músculos do pescoço e dos ombros relaxam. Agora sim, você está pronta para encarar uma conversa animada, mesmo cheia de opiniões divergentes. Com certeza, você chegará a um monte de conclusões e, certamente, todas pacíficas.