A nova balzaquiana

Lá pelos anos 1990, a mulher estava no auge aos 30. Casada com o homem da sua vida, tinha filhos ou se preparava para tê-los e a vida profissional já se encontrava estável ou em vias de decolar. Hoje, muitas mulheres têm vivido isso aos 40. Seriam elas as novas ‘balzacas’? Seria o fim da “Idade da Loba”? Se aos 40 anos a mulher se preparava para a velhice, com filhos encaminhados na vida e um marido que já sonhava com a aposentadoria, agora ela quer novidade. Algumas ‘quarentonas’ estão refazendo suas vidas ou mergulhando de cabeça em novos projetos.

Ana Castilhos, artista plástica de Niterói (RJ), beira os 40. “Tenho 38 com muito orgulho”, brinca. Para ela, é por volta da quarta década de vida que chegará ao auge. “Mulheres de 40 continuam sendo mulheres de 40. Só que melhores”, defende. “Entre as minhas amigas desta idade, vejo que a mulher está em busca de uma possível segunda relação, está mais seletiva, pensando em ter filhos e se dando novas chances”.

A satisfação e as realizações da minha avó e da minha mãe, por exemplo, não estão mais satisfazendo as necessidades das mulheres de hoje. Elas sabem que têm potencial para muito mais

Para muitas, não existe mais espaço para aquela famosa crise dos 30 anos. Nessa idade a mulher está ativa, produzindo, em plena forma física e intelectual – como a mocinha de 20 anos de antigamente. Aos 40, começa a buscar a estabilidade que a mulher balzaquiana pretendia no passado.

Para a psicóloga Valderez Penna, 48 anos, essas mudanças de comportamento refletem o fato de que envelhecer está mais doloroso para a mulher. “Imagina a dor que é trocar todo esse espaço que ela conquistou pelo tricô da aposentadoria?”, compara. “Hoje, envelhecer e deixar a rotina é como abandonar as conquistas. Talvez isso reflita para ela como se fosse uma perda”.

Do alto de seus 47 anos, Christianne Felipe, bancária de Goiânia (GO), acredita que a mulher não sofre mais pressão de ter de casar e constituir família. Com isso, há mais espaço para pensar em si e no futuro profissional. “Me casei aos 24 e fui mãe aos 26. Na época, já achava cedo demais para casar”, lembra ela, que, então, já trabalhava e tinha acabado de se formar em Direito.
“Tem gente que acha que filhos podem atrapalhar os planos de vida. Quando essa preocupação aparece, se aparece, acaba sendo em torno dos 40 mesmo”, observa Christianne. A filha mais nova dela, Aline, é um exemplo que reforça a tese. A universitária, de 20 anos, não quer se casar tão cedo. “Aos 30, me vejo correndo atrás dos meus sonhos e, aos 40, já mais estabilizada. Aí, sim, eu pensaria em me casar e ter um filho. Casada aos 30? De forma alguma”, afirma, entre risos.

Para Christianne, o individualismo dos tempos atuais pode ter afetado a forma como as pessoas levam a vida e os relacionamentos. “As mulheres e os homens se preocupam mais com a realização pessoal, como ascensão profissional, intelectual, independência financeira e cultural.”

A psicóloga Valderez Penna acredita que isso também se deve à mudança da mentalidade e dos anseios da vida contemporânea. “A satisfação e as realizações da minha avó e da minha mãe, por exemplo, não estão mais satisfazendo as necessidades das mulheres de hoje. Elas sabem que têm potencial para muito mais. A mulher sabe que está preparada emocional e psicologicamente para prolongar a sua vida”.