A irlandesa Niamh Ní Dhohmnaill e o norueguês Magnus Meyer Hustveit namoraram por quase um ano e dividiam um apartamento em Dublin, capital da Irlanda. Durante esse período, a mulher começou a estranhar o fato de acordar sem o pijama com o qual tinha dormido. Daí veio a suspeita, comprovada depois, de que o namorado estava abusando sexualmente dela durante a noite.
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Estupro de namorado
Niamh veio a público pela primeira vez contar sua história, que teve um desfecho revoltante. Ela relatou que a primeira vez em que percebeu o abuso, estava dormindo e acordou com o corpo encharcado do que parecia ser sêmen. Ao questionar o namorado sobre o assunto, ele afirmou que vinha fazendo isso durante todo o relacionamento. “Um dia acordei e ele estaava se masturbando e assistindo à pornografia ao meu lado na cama e disse que havia feito sexo comigo enquanto eu dormia de três a quatro vezes por semana”, disse a mulher ao Newsbeat, da BBC.
A vítima terminou o relacionamento com o homem e, por acreditar que não adiantaria ir à polícia sem provas, escreveu um e-mail para ele perguntando o que acontecia quando ela estava dormindo e ele confessou, por escrito, os estupros. O caso foi a julgamento e Magnus foi considerado culpado pelos crimes sexuais. “Não vi remorso no rosto dele em nenhum momento durante o julgamento e me lembro de ter estranhado que ele nunca quis pedir desculpas pelo que fez”, disse Niamh.

Desfecho revoltante
O problema é que Magnus acabou escapando da sentença: o fato de ter admitido o crime atenuou a pena, uma vez que, segundo o juiz, o processo não teria prova alguma sem essa confissão. Indignada, a mulher entrou com um recurso judicial para rever a decisão. “Minha grande preocupação é que as pessoas vejam essa história e desistam de denunciar a violência sexual. Não acredito que os estupradores façam isso apenas uma vez e só ao denunciá-los podemos impedir que esses crimes voltem a acontecer”, desabafou.
Com isso, apesar da denúncia e confissão do crime de estupro e violência sexual, Magnus teve sua pena suspensa e continua livre. Segundo o juiz responsável pelo caso, o processo não poderia ter sido aberto sem a confissão do homem, o que deu a ele o benefício da suspensão da condicional.
É possível ser estuprada dormindo?

Esse foi um dos questionamentos enfrentado por Niamh ao denunciar o caso. De acordo com uma representante da ONG inglesa Rape Crisis, que presta assistência a vitimas de estupro, isso é uma realidade, mas é difícil mapear a incidência de mulheres que são violentadas durante o sono, principalmente porque as vitimas sentem muita dificuldade de tocar no assunto. “Nós sabemos que a maioria dos estupradores são pessoas próximas à vitima e que é muito raro que meninas e mulheres mintam [no sentido de inventar] sobre abusos que sofreram”, explicou.