Mãe solteira > Pai secreto

Quando tinha 38 anos aconteceu… Engravidei menstruada e estava tomando pílula. O médico disse que era impossível, mas quando refizemos os cálculos descobrimos que ela deveria ter sido gerada no final de minha menstruação. Para mim foi uma surpresa. Ou enfrentava a gravidez ou não ia ser mãe jamais. Pela idade e também pela situação da vida. Conversei muito com minha sócia, ainda não tinha aberto a empresa, a gente já tinha escritório alugado, mas nada ainda formalizado.

Acho que a gravidez foi até uma mola para que tocasse mesmo a empresa adiante, porque eu tinha um motivo muito forte para que desse certo e tomei a decisão de ter o filho independente do pai. Já conhecia o pai há dez anos, a gente tinha uma relação não de namorado freqüente, mas se encontrava para bons momentos e nunca cobramos nada um do outro, cada um tinha a sua vida. Falei para ele que estava grávida, para explicar a situação que eu estava grávida dele e que tinha engravidado menstruada. Era uma situação delicadíssima, para qualquer um desconfiar. Então falei que estava grávida, que ia assumir e ia ter sozinha. Ele perguntou se era dele e se isso ia impedir da gente namorar. Eu disse que se fosse dele, eu teria ficado grávida menstruada ou menstruei já grávida. Quanto ao namoro, a gravidez não iria atrapalhar de jeito nenhum. Continuamos namorando até os seis meses de gravidez. Foi a última vez que o vi antes da Flora nascer.

O único segredo durante a minha gravidez foi sobre o pai. Não sabia qual seria a sua reação depois que a criança nascesse. Se ele ia assumir ou não. Enquanto não tive essa certeza, não disse seu nome para ninguém. Inventei uma historinha de um cara que conheci num evento, que era estrangeiro, pintou o clima e aconteceu, uma camisinha rompida. Achava que não tinha que expor a pessoa sem antes ela ter assumido. Jamais deixaria de ser amiga dele independente dele assumir ou não, mas graças a Deus ele assumiu numa boa.

Sempre evitei filhos, porque atrapalharia a minha profissão. Afirmava que se quisesse uma alegria, eu adotava uma, porque tem tanta criança abandonada, mas se não ficasse grávida com certeza não adotaria. A minha vida estaria muito solta com as minhas loucuras de vida solteira. A Flora veio num momento mesmo para me pôr numa diretriz na vida, porque sempre fui muito inconseqüente, estava sempre indo para qualquer lado sem pensar no que podia acontecer no dia seguinte e a Flora me colocou muito dentro de uma linha. Tinha uma preocupação que nunca tinha tido de ter que dá certo, das minhas responsabilidades porque a minha vida ia mudar. A empresa foi crescendo e me senti mais forte para poder assumir a maternidade independente do pai.

A gente começa a ter uma visão diferente da vida. Comecei a pesar mais as coisas, sempre tive um pavio muito curto e passei a querer entender melhor as atitudes das pessoas. Comecei a ser mais comedida até nas minhas reações, a pensar mais, a aceitar mais as dificuldades e as atitudes de outras pessoas. Antes era mais radical e de repente comecei a medir mais as coisas. A sensação do nascimento, da expulsão, a gente sente isso, um vazio na barriga, não senti dor, mas senti a sensação de que tinha saído. Acho que para mim foi um momento muito mágico, de você ver aquela coisa saindo viva, queria rir e chorar ao mesmo tempo.

O pai foi me fazer uma visita de amigo para levar um presentinho. Eu queria falar com ele nesse dia na minha casa, a Flora estava com um mês, ele estava super gripado, não podia ficar muito próximo da neném. Depois ele chegou na hora do banho, a empregada estava fazendo faxina, foi uma visita muito rápida. Não tive chance de conversar com ele. Logo depois dessa visita telefonei para ele e insisti para irmos jantar. Achava que ele tinha que saber, antes ele não tinha como ter certeza, mas com ela nascida podia-se fazer o exame do DNA. Disse que precisava conversar, saímos para jantar e não sabia como começar o assunto. Nós temos um amigo em comum que ia ser pai. Tinha descoberto que a namorada estava grávida e foram viver juntos numa boa.

Então eu disse a ele que não estava sabendo como ia falar, que ia ser de supetão, para ele me desculpar porque passei o jantar inteiro tentando arranjar uma maneira de falar que ele era o pai da Flora. Foi um choque. Disse a ele que se duvidasse a gente faria o exame de DNA. Mas se não quisesse fazer o exame, nem assumir, que ficasse à vontade porque foi uma atitude egoísta minha ter o filho. Ele tinha todo o direito de não assumir, de não querer saber, mas que eu achava que ele tinha que saber que a filha era dele, ainda que isso não mudasse nossa relação.

Ele de repente se sentiu excluído de todo o processo. Estava de viagem marcada para Londres e quando ele voltou foi me visitar, foi muito engraçado porque a Flora era a cara dele. Trouxe presentes para ela, mas chegou na hora do suco de laranja. Ele começou a falar e ela largou o suco, coisa que ela nunca fez porque era o suco predileto dela, ela largou e ficou olhando para ele muito interessada na conversa dele, ele brincou com ela. Depois perguntei que nome ele gostaria de colocar na filha dele, ele disse que Flora era bonito. A partir daquele momento que ele se preocupou em querer trazer coisas para ela, eu sabia que ele estava assumindo a paternidade. No dia em que a mãe dele foi conhecer a neta, ela disse para a gente cuidar logo da papelada. Eu tenho Nogueira no nome e Flora ficou Cato Nogueira porque ele também é Nogueira.

Graças a Deus deu tudo certo. Flora tem um pai que é presente, tem muita gente por aí que é separado e que o pai não vê nunca e que assumiu a paternidade logo de cara e que não dá a menor atenção. Comigo não. A gente vive cada um na sua casa, mas ele é super presente na vida dela. Ele a leva à creche, passeia com ela todos os finais de semana, está presente em todas as fases dela, das pirraças, das manhas, do bom humor.