Como a batata frita chegou aos saquinhos e virou o petisco mais consumido do mundo?

por | ago 23, 2017 | Ciência

A batata é um alimento nativamente americano, que só chegou à Europa depois de 1500. Mas batata frita é uma receita europeia, reportada como nascida na França no fim do século 18 – essa origem francesa explica porque na língua inglesa ela é chamada de “french fries” no idioma inglês.

Menos de 100 anos depois, nos Estados Unidos, a famosa batata frita francesa recebeu um novo tipo de corte e, pronto, nasciam os chips. Entenda como o tubérculo mais famoso do mundo chegou a um saquinho e agora é vendido em mercados de todos os lugares.

Criação das batatinhas: a favor da crocância 

As batatas fritas chips nasceram em Nova York, mas não exatamente onde você está pensando. Elas não foram criadas em restaurantes de fast-food do polo cultural mais importante dos Estados Unidos, mas em uma cidadezinha pequena, cuja principal atração é um lago, no interior do estado de Nova York – cuja capital é a famosa NY.

Na cozinha do elegante resort Moon Lake Lodge, localizado na cidade de Saratoga Springs, George Crum pensou em uma forma de evitar que as tradicionais batatas fritas não ficassem tão encharcadas de óleo.

Então, tentou diversas técnicas até que cortou as batatas o mais fino que poderia e depois fritou as fatias até ficarem crocantes. Por fim, as encheu e sal e pronto: sucesso na hora!

Uma curiosidade é que George Crum era negro e ocupava o cargo de chef de cozinha, algo raro à época de sua criação, por volta de 1850 – no Brasil, por exemplo, a abolição da escravidão aconteceria apenas 1888.

A popularidade de sua receita foi tanta que ele abriu, em 1860, seu restaurante próprio, o “Crumbs House”, mas sua descoberta não rendeu por muito tempo: nos EUA, a população negra não tinha direito a registrar patentes de suas criações e rapidamente a batata frita em chips foi reproduzida em diversos restaurantes.

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O petisco mais popular que existe

As batatas fritas chips são o lanche mais popular dos EUA e provavelmente do mundo – por lá, o consumo do alimento é gigantesco: aproximadamente 550 mil toneladas por ano.

Um levantamento de 2015 constatou que no espaço de um ano, são vendidas aproximadamente 633 milhões de pacotes de batatinhas da marca Lay’s.

A Lay’s foi, inclusive, a marca que popularizou o petisco nos Estados Unidos. O fundador da companhia, Herman Lay foi o responsável: encheu o porta-mala de seu carro com sacos de batata frita chips e percorreu estados do sul do país vendendo o produto para mercearias regionais.

A estratégia funcionou por 40 anos, de 1920 a 1961, quando a marca se fundiu com uma empresa de Dallas e se tornou uma gigante.

Como a batata frita chegou aos saquinhos

Antes de virar um hit, as batatas chips eram vendidas a granel. Ficavam armazenadas em recipientes de vidro ou grandes barris e servidas em sacos de papel – semelhantes aos de redes de fast-food atuais. Mas como o alimento é frito, sua vida útil era bastante curta.

A ideia de colocar as batatinhas em sacos herméticos e, assim, manter sua crocância nasceu na Califórnia, em 1926. Consta que Laura Scudder, uma produtora local de batatas chips, criou um mecanismo para colocá-las em um saco de papel de cera e uma prensa de ferro selasse por completo o pacote. Com o ar interno, elas também não quebravam com facilidade.

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Mil sabores de batata

Se toda a história da batata frita chip é norte-americana, há um toque irlandês nos sabores que conhecemos hoje.

Na década de 1950, o dono da empresa Tayto, Joe Murphy, desenvolveu uma tecnologia que era capaz de temperar a batata durante o processo de fabricação. E logo sabores como queijo, cebola, vinagre e churrasco foram criados – e inspiraram todos os tipos de salgadinhos.

Hoje, não é difícil encontrar os sabores mais inusitados, como feijoada, vinagre e pizza.

Batata chips no Brasil

Os dados sobre a produção e consumo do produto no Brasil não são tão acurados quanto nos EUA, mas um levantamento realizado em 2011 informa que a indústria de batatinhas fritas chips aqui representa 10% da produção total de batatas no país. Isso representa cerca de 380 mil toneladas do alimento – de batata bruta, não necessariamente de batatas fritas.

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