O aumento da temperatura da Terra impacta todas as formas do planeta. As calotas de gelo dos pólos tendem a derreter, o nível dos mares subir, os solos continentais mudam sua composição e os seres vivos precisam se adaptar ao novo mundo, como, por exemplo, as videiras, plantas nas quais nascem as uvas.
E nessa ciranda do equilíbrio terrestre, uma consequência será a transformação do vinho como o conhecemos hoje. A questão que fica é: para melhor ou pior?
Altas temperaturas mudam localização das vinícolas
Quase todas as previsões indicam que as temperaturas subirão muito ao longo do século. Institutos europeus indicam aumento de até 3 ºC nos próximos 50 anos, e, na Austrália, o centro nacional de pesquisas científicas afirma aumento de até 5 ºC até 2070.
Um relatório do Greenpeace prevê que a França, principal produtora de vinhos do mundo, veja sua temperatura subir 6 ºC até o fim do século.
Essa nova configuração climática pode estimular que as grandes produtoras de vinho façam um movimento cada vez mais ao norte e ao sul do planeta. Especialistas imaginam que países como Canadá, Inglaterra e Suécia passem a ser pólos de boas vinícolas no hemisfério norte.
Ao sul, Austrália e, principalmente, Argentina e Chile (nas regiões da Patagônia) despontam como os principais potenciais produtores de vinho.
Mudanças no sabor: há 2 possibilidades
As videiras são plantas muito resistentes e suportam variações de temperatura de -20 ºC até 40 ºC. Podem se adaptar a quase todos os terroir (termo usado para designar o terreno no qual ela é plantada) conhecidos, mas, claro, há diferença entre as espécies. Consequentemente, nota-se a diferença no sabor do vinho.
Em uma região mais quente, por exemplo, o tempo de amadurecimento da uva é mais curto, o que torna o vinho mais adocicado e menos alcoólico. Em tese, isso produz vinhos mais saborosos, mas caso a temperatura esteja alta demais e relacionada à épocas de chuva, o resultado pode ser exatamente o oposto.
Os dois principais estudos sobre o tema abordam diferentes aspectos da produção de vinho e cada um aponta um caminho: o planeta mais quente pode ser melhor ou pior para as uvas.
Vinhos melhores e pequeno desequilíbrio na produção
Um artigo publicado na revista científica Nature investigou as datas de colheita de uvas entre 1600 e 2007 apenas na França e na Suíça. Notou-se que entre 1981 e 2009, o colheita da uva aconteceu sistematicamente mais cedo do que nos 300 anos anteriores.
O levantamento informa que de 1600 a 1980, ocorreram 73 colheitas uma semana antes do previsto, mas que, nos anos seguintes, apenas duas colheitas não foram antecipadas. Ou seja, a exceção virou regra.
A conclusão é de que alterou-se de vez o ciclo de colheita das uvas, o que permitiu tomá-las para produção de vinho antes do período de seca mais rígida e, portanto, mais saborosas.
Assim, a expectativa é que as colheitas antecipadas sejam, daqui para frente também, de melhor qualidade, com poucas alterações para o manejo da planta e da fruta.
Qualidade cai e menos área de produção
Estudo produzido pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos vai em outra direção. A compreensão é que, de fato, historicamente a antecipação das colheitas foi positiva, mas que se o aumento de temperatura seguir o ritmo atual, a colheita será antecipada demais e afetará a qualidade e o sabor da fruta.
Mas a pesquisa tem como principal fator de preocupação a redução drástica nas áreas propícias para a viticultura: até 2050, algumas regiões podem perder até 73% de terroir.
As regiões mais prejudicadas serão aquelas descritas como de clima mediterrâneo. É o caso das redondezas do Mar Mediterrâneo, que podem perder até 68% de terras aptas para a viticultura. A Califórnia (60%) e o Chile (25%, sobretudo no norte do país) também serão gravemente afetados, afirma o estudo.
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