
Quando Kate Midletton saiu do hospital após dar Charlotte à luz, de parto normal, tão impecável quanto uma…princesa, as brasileiras ficaram chocadas. Perguntas pipocaram e até a teoria da conspiração de que foi usada uma barriga de aluguel foi criada. “Como pode alguém sair assim tão bem de um parto normal?”. “Mas a mulher não tem que ficar um mês na cama para se recuperar?”. “Só pode ser mentira, esse parto foi inventado.”
Não é de se espantar que os brasileiros e brasileiras tenham feito comentários como esstes: o Brasil é campeão mundial no ranking de cesáreas. Para se ter uma ideia, o índice de cesarianas recomendados pelo OMS (Organização Mundial de Saúde) é de 15%. No Brasil este índice é de 52%. Quando este número é analisado levando em conta apenas os hospitais da rede privada, sobe para espantosos 83%. Estudos revelam que, pela dificuldade de encontrar um médico disposto a fazer parto normal na rede privada, um número cada vez maior de gestantes têm procurado a rede pública para realizar parto normal.
Ao mesmo tempo em que a cesariana é um avanço médico que ajuda a salvar muitas vidas, a banalização da cirurgia apresenta grandes riscos tanto para a mãe quanto para o bebê. Problemas respiratórios e ligados a frequentes partos prematuros (por erro no agendamento precoce da cirurgia) são um exemplo.
No entanto, o parto normal ainda parece um bicho de sete cabeças envolto em mitos.
O parto de Kate Middleton deu abertura para que discussões como a luta pela humanização do parto no Brasil entrassem em destaque.
Veja a seguir alguns dos mitos que envolvem o parto normal:
Falta de dilatação

Um dos argumentos mais usados pelos médicos. A verdade é que toda gestante tem dilatação. O que acontece é que cada mulher leva um tempo diferente até que a dilatação ocorra e, muitas vezes, esse tempo é grande e os médicos não esperam. Fatores como nervosismo e o “clima” do ambiente que cercam a mulher podem influenciar no retardação da dilatação.
Parto normal “alarga” a mulher

Esse medo faz com que muitas mulheres optem pela cesárea logo quando descobrem que estão grávidas. É importante saber que o canal vaginal é um músculo que tem enorme capacidade de dilatação e contração, e é feito para isso. Fazer exercícios, principalmente focando na musculatura da região, e seguir uma alimentação balanceada é garantia de que nenhum “mal” vai acontecer.
A dor do parto normal é maior

Dar à luz, seja por cesariana ou por parto normal é dolorido. Na cesariana, evita-se a dor do parto, mas existe a dor do pós-parto. Afinal não se deve esquecer que a cesariana é uma cirurgia. São feitos cortes profundos e o corpo precisa de tempo para se recuperar. No parto normal, toda dor fica concentrada durante o trabalho de parto e a recuperação é mais rápida. Mulheres que fazem parto normal em geral retomam as atividades mais rapidamente.
A mulher não entrou em trabalho de parto

Um relevante número de gestantes é encaminhado para a cesariana com o argumento de que “elas não entraram em trabalho de parto” e a vida do bebê pode ser colocada em risco se demorar muito para nascer. Este argumento é muito parecido com o da “falta de dilatação”: não faz sentido. Da mesma forma que cada mulher tem um tempo de trabalho de parto que pode chegar a durar mais de 24 horas. Os sinais vitais do bebê precisam sempre ser checados para saber se há risco real ou se é preciso intervir com a cesariana.