Entre todos os tipos de doenças, acidentes, guerras, violência e falta de recursos, nada é mais nocivo ao ser humano e ao planeta Terra do que a poluição. Os impactos ambientais que as atividades humanas promovem ao redor do globo contaminam o ar, o solo e a água de modo que as doenças geradas neste processo matem anualmente 9 milhões de pessoas no mundo – isso representa 16% do total.
Esta é a conclusão do trabalho realizado pela Global Alliance on Health and Pollution (GAHP, ou Aliança Global de Saúde e Poluição em tradução livre) sobre os dados globais de 2015 e publicado pelo periódico científico The Lancet. De acordo com o estudo, a poluição além de matar, custa muito: as perdas são estimadas em US$ 4,6 trilhões (cerca de R$ 14,8 trilhões), aproximadamente 6,2% da economia mundial por ano.
O estudo analisou dados oficiais de diversos países e resultou, também, no mapa interativo Pollution.org, que reúne informações sobre contaminação de ar, água e solo e, também, número de mortes relacionadas à poluição. O Brasil registra 489 óbitos para cada 1 milhão de habitantes. Brunei tem o melhor desempenho (95 óbitos) e a Somália é a nação que mais sofre (3.261 óbitos).
Segundo relatório anual da Organização Mundial de Saúde (OMS), 92% da população mundial vivem em ambientes nos quais a qualidade do ar não cumpre as metas estabelecidas pela entidade. De acordo com a organização, 3 bilhões de pessoas estão diariamente expostas a fontes de energia potencialmente intoxicante em suas próprias casas – caso de carvão, madeira e esterco.
Veja as principais descobertas da pesquisa:
Nada é mais nocivo à saúde do que a poluição
Em 2015, doenças causadas pela poluição foram responsáveis pela morte prematura de 9 milhões de pessoas, ou seja, 16% de todas as mortes que ocorreram no planeta. Exposição ao ar, água e solo contaminados mata mais gente do que alto consumo de sódio, obesidade, álcool, acidentes de trânsito ou subnutrição, diz a pesquisa. A poluição é responsável por três vezes mais mortes que Aids, tuberculose e malária juntos, e 15 vezes mais que guerras ou outras formas de violência.
Quem mais sofre
Do total, 92% das mortes relacionadas à poluição ocorrem em países de renda média ou baixa. Crianças enfrentam os riscos mais altos, porque a exposição, mesmo que pequena, no útero e na primeira infância podem resultar em doenças permanentes, doenças incapacitantes, redução de aprendizado e até morte prematura, diz o artigo.
As doenças relacionadas com a poluição causam perdas de produtividade que reduzem o produto interno bruto (PIB) em países de baixa renda e países de renda média em até 2% ao ano. São também responsáveis por grande para do orçamento disposto para saúde em todas as nações: 1,7% das despesas anuais de saúde em países de alta renda e cerca de 7% das despesas de saúde em países de renda média que estão fortemente poluídos e em desenvolvimento rápido.
As perdas na saúde e no bem-estar devido à poluição são estimadas em US $ 4,6 trilhões (cerca de R$ 14,8 trilhões) por ano: 6,2% da produção econômica global.
Problemas de saúde e ambientais têm mesma origem
“Poluição do ar e mudança climática estão muito ligados e têm a mesma solução comum”, diz o artigo. A combustão de combustível fóssil em países ricos e a queima de biomassa em países pobres são responsáveis por 85% do arsenal de partículas que poluem o ar. Os maiores emissores de dióxido de carbono (CO2, principal poluente da atmosfera) são usinas de energia de carvão, produtos químicos, operações de mineração e veículos. Os autores afirmam que acelerar o processo de substituição para fontes de energia limpa vai reduzir a poluição do ar e melhorar a saúde humana e do planeta.
Produtos químicos sem teste são perigosos
O texto informa que mais de 140 mil novos produtos químicos e pesticidas foram criados desde 1950. Destes materiais, os 5 mil que são produzidos em maior volume se tornaram amplamente dispersos no meio ambiente e estão expostos à toda população humana.
Menos da metade desses produtos químicos de alto volume de produção foram submetidos a qualquer teste de segurança ou toxicidade, e a avaliação rigorosa de novos produtos químicos tornou-se obrigatória apenas na última década e em apenas alguns países de alta renda.
“O resultado é que produtos químicos e pesticidas cujos efeitos sobre a saúde humana e o meio ambiente nunca foram examinados foram repetidamente responsáveis por episódios de doença, morte e degradação ambiental”, concluem os pesquisadores.
A boa notícia: despoluir é rentável
Enfim, uma boa notícia: de acordo com o trabalho, muito dessa poluição pode ser eliminada de forma rentável. Países de alta renda e alguns países de renda média promoveram legislações que exigem ar limpo e água limpa, estabeleceram políticas de segurança química e restringiram suas formas mais flagrantes de poluição. “O seu ar e a sua água são agora mais limpos, as concentrações de chumbo no sangue de seus filhos diminuíram mais de 90%, muitas de suas cidades estão menos poluídas e mais habitáveis, a saúde melhorou e as pessoas nesses países vivem mais tempo”, diz o texto.
Os países ricos alcançaram esse progresso ambiental ao mesmo tempo que registraram aumento do PIB (produto interno bruto) em quase 250%. “A afirmação de que o controle da poluição sufoca o crescimento econômico e que os países pobres devem passar por uma fase de poluição para atingir o desenvolvimento se provou um erro”, conclui.
Caso de sucesso nos Estados Unidos
Um dos países que mais investiu na prevenção à poluição doméstica nos últimos anos foram os Estados Unidos. Nos EUA, para cada dólar investido no combate à poluição desde 1970, há um retorno médico de US$ 30 (R$ 96,5) na economia do país, o que representa um retorno de US$ 1,5 trilhão (R$ 4,8 trilhões) para um investimento consolidado de US$ 65 bilhões (R$ 210 bilhões). A conta leva em consideração o valor que o governo deixou de gastar no tratamento de doenças relacionadas à poluição e também ao aumento da função cognitiva das crianças e dos jovens, que impacta positivamente a produtividade e a economia nacional.
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