As promessas são as mais variadas: resolvem insônia, depressão, ansiedade, tristeza, regulam neurotransmissores, geram prazer e podem ser até orgasmos mentais. Já são populares no YouTube vídeos que produzem estímulos sonoros cujo objetivo é melhorar o bem-estar do ouvinte.
Entenda o que são estes sons e o que eles efetivamente fazem com seu cérebro.
ASMR
Os casos mais populares são os vídeos de ASMR (sigla para “Autonomous Sensory Meridian Response”). Alguns canais no YouTube que produzem sons ASMR chegam a ter mais de 500 mil seguidores, e os vídeos mais bem sucedidos alcançam milhões de visualizações.
O termo ASMR foi definido em 2010 a partir de um grupo no Facebook, composto de produtores e ouvintes desses sons. Em português, seu equivalente seria algo como “resposta autônoma sensorial meridiana”, o que, na definição do grupo, significa uma reação espontânea da mente a partir de uma experiência sensorial. O “meridiano” aqui expressaria a sensação de clímax que os sons podem causar – o tal orgasmo mental.
São gravações que promovem barulhos comuns como o do movimento das mãos sobre um tecido, de uma caneta escrevendo em um papel ou ruídos que causem arrepios, como arranhões. Tais sons são captados com informações detalhadas e em volume alto.
Sons binaurais
Os sons binaurais têm um quê de ciência, mas sem ciência. São sons que simulam ondas magnéticas que supostamente estimulam o cérebro a trabalhar em determinadas frequências ou a liberarem neurotransmissores de modo a equilibrar o funcionamento neurológico.
Cada tipo de onda seria relativa a um tipo de frequência: há sons binaurais para controlar ansiedade, há outros para aumentar a concentração e assim por diante.
Esses sons cumprem o que prometem?
Do ponto de vista estritamente científico, não há nenhum tipo de prova de que os ASMR ou os sons binaurais façam aquilo que dizem fazer. Mas também não é o caso de fugir deles: podem ser, de fato, prazerosos e ter efeitos relaxantes. Não devem, contudo, servem vistos como a solução para depressão, ansiedade, insônia e similares.
Orgasmo mental
“Estas são mais uma técnica para dissuadir o sistema nervoso central de focos preocupantes, ansiogênicos, desviando a atenção para outros estímulos”, explica Andrea Bacelar, neurologista e secretária da Associação Brasileira do Sono.
Ou seja, ao invés de ocupar a cabeça com a conta que não foi paga ou com a nota do colégio ou faculdade, os sons “distraem” o cérebro.
A neurologista afirma que, sim, tanto os ASMR quanto os sons binaurais podem mesmo relaxar e até modificar sensorialmente a percepção das pessoas.
Isso pode resultar em promoção do estágio 1 de sono ou mesmo em sensações de prazer. A atividade cerebral baixa e a musculatura tende a relaxar – é esta sensação que os ouvintes chamam de “orgasmo mental”.
Concentração
Não há qualquer relação direta desses sons com o aumento de concentração. Mas, de forma indireta, eles podem estar ligados.
A especialista explica que já é consenso científico que o cérebro tem melhor resposta cognitiva quando estamos relaxados, livres de tensões ou ansiedade, e se temos um sono bem regulado.
Se tais técnicas promovem prazer e relaxamento, podem deixar o cérebro em condições mais favoráveis para o aprendizado, por exemplo.
Úteis, mas não suficientes
“Essas técnicas alternativas são bem vindas, contanto que o indivíduo que sofra de transtorno de sono ou de ansiedade não acredite que isso o cure. Não é um tratamento não farmacológico eficiente para tratar o sono, do ponto de vista científico”, esclarece Andrea.
A neurologista afirma que em caso de percepção de melhora, o ouvinte pode e até deve continuar ouvindo seus sons favoritos. “Os dois estimulam o órgão sensorial da mesma maneira. É preferência individual: uns podem gostar de barulho de frequência de onda, outros do barulho de água corrente, mas o resultado é o mesmo”, indica.
Nenhum estudo até hoje provou que esses sons são capazes de alterar qualquer frequência cerebral ou alterarem a liberação de neurotransmissores. O único tratamento não farmacológico para transtornos de sono, ansiedade, concentração ou depressão com aval dos procedimentos científicos é a terapia cognitiva comportamental (TCC).
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