Você cumpre uma jornada de 8h por dia no trabalho, estuda para a graduação (pós, curso técnico ou vestibular), cuida da casa, ajuda os pais e mantém as contas pagas em dia. Mesmo assim, fica sempre se perguntando, por que aquele colega vive reclamando de cansaço, sem fazer metade das suas atividades?
Por que isso acontece? Por que, às vezes, uma pessoa que não tem o cotidiano tão corrido pode reclamar de sofrer fadiga mais que o outro?
Muita fadiga: por quê?
Essa sensação de extrema fadiga em relação a tudo é bastante antiga. Grandes intelectuais como Oscar Wilde, Virginia Woolf e Charles Darwin também sofreram com o que os cientistas chamam de neurastenia – que, além do extremo cansaço, tende a levar à irritação e ao pessimismo.
Por muito tempo médicos que estudaram o assunto atribuíram esse cansaço à Revolução Industrial – quando extensas jornadas de trabalho nas fábricas passaram a ser condição para manter o sustento da casa e da família. Com o tempo, físicos descobriram que nossos nervos transmitem sinais elétricos e químicos.
Isso, de acordo com Silvia Helena Cardoso, pós-doutora em neurociências, permite que as células do cérebro conversem entre si. “O sistema nervoso controla e coordena as funções corporais e permite que o corpo responda”, escreveu a pesquisadora.
Apesar de ser um termo muito conhecido no vocabulário médico, não são todos os países que diagnosticam algum indivíduo extremamente cansado com neurastenia.
Para isso, a historiadora médica da Universidade Kent (Reino Unido) Anna Katharina Schaffner tem uma resposta: é tudo parte da condição humana.
“A exaustão sempre esteve entre nós”, disse Schaffner à BBC. “O que mudou em toda a história foram as causas e os efeitos ligados à exaustão”.
Por exemplo, na Idade Média, o extremo cansaço era ligado ao misticismo: podia ter a ver com algum tipo de demônio, diziam alguns sacerdotes. No século XIX, a educação da mulher totalmente voltada ao lar era uma justificativa, enquanto, já nos anos 1970, as duras jornadas que levavam os trabalhadores a altas cargas de trabalho podiam ser a explicação do extremo cansaço.
Estresse deixa mais cansado
Sim, o cansaço extremo tem a ver com o estresse, conhecido como o ‘grande mal’ do século XXI.
Sofrimentos emocionais podem aumentar inflamações e dores físicas. Ou seja, às vezes uma simples contusão gera dores insuportáveis – por causa do estresse.
Schaffner, autora do livro “Exaustion, A History”, atribui o estresse a uma vida mais autônoma: cada vez mais o mercado de trabalho tende a dar ‘mais liberdade’ aos trabalhadores.
O lado bom? Claro, poder exercer suas funções usando o tempo a seu favor. Lado ruim? Pode criar a sensação do empregado não ser bom o suficiente dentro de uma empresa.
“Ela manifesta principalmente a ansiedade da baixa performance e o senso de não ser bom o bastante, de não viver para essas expectativas”, explica Schaffner.

Culpa da tecnologia
Nesse sentido, o uso exacerbado das mídias sociais pode acabar se tornando um agravante: “Sob diversas maneiras as tecnologias criadas para poupar energia acabam se tornando fatores estressantes”, continua Schaffer.
Portanto, quando vier a reclamação no fim do dia de um dia exaustivo, coloque na somatória as diversas checagens no smartphone e o fato de lidar com dezenas de notificações diárias pelo Facebook.
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