“Estou atrasado, estou atrasado”. Era assim que o Coelho, personagem de Alice no País das Maravilhas, passava os dias: sempre correndo e olhando para o seu enorme relógio. Não há quem não diga, hoje, que gostaria que o dia tivesse mais algumas horinhas, pois nunca dá para fazermos tudo o que queremos ou precisamos, em míseras 24 horas. Mas você tem mesmo tanta coisa assim para fazer ou o seu tempo é que está sendo mal aproveitado? Administrar o tempo é uma arte e quem sabe fazer isso bem, tem grandes chances de estar à frente dos concorrentes na hora de conquistar um lugar no mercado de trabalho. Além disso, quem sabe organizar a agenda sofre menos de estresse e consegue ser mais feliz.
A publicitária Maria Luísa Franceschinni, de 28 anos, é aquele tipo de mulher que você mal consegue enxergar direito, ela passa como um vento por onde anda. Está sempre correndo de um lugar para outro e, segundo ela, é capaz de dormir três horas por noite e “ficar bem”. Trabalha numa agência de publicidade, está escrevendo um livro, faz ginástica, espanhol, alemão e é casada há três anos com outro publicitário. “Minha vida é uma loucura! Eu trabalho dia e noite, mas consigo fazer tudo o que preciso. Acho que é uma fase que estou passando, tomara que não dure para sempre”, diz. Maria Luísa garante que tantos compromissos não comprometem o casamento, porque ela conseguiu reservar uma horinha certa para namorar o marido. Depois de brigar muito para ter os finais de semana livres, a publicitária conseguiu separar duas horas de sua jornada diária para almoçar com o marido e tomar sorvete no parque. “É um momento especial, em que a gente descansa e dá manutenção para o nosso relacionamento”, conta. Sábio casal! O que mais se vê, hoje, são os inúmeros casamentos desfeitos sob a alegação de “incompatibilidade de agendas”, principalmente entre os famosos.
Se a publicitária consegue acertar seu relógio para não prejudicar o casamento, parece que se descuida perdendo horas fazendo coisinhas desnecessárias e acaba tendo que levar trabalho para casa. São esses pequenos descuidos que fazem com que você fique mais cansado do que deveria. Há muitas sugestões e teorias sobre como seria a forma ideal de organizar o tempo, mas, infelizmente, ainda não acharam uma fórmula que resolvesse o problema de todo mundo. O que é importante saber é que administrar o tempo não quer dizer ficar escravo do relógio, mas sim adquirir autonomia sobre a própria vida. Quando você gasta mais tempo do que deve em uma única atividade, principalmente se ela não for prioridade, você está perdendo uma hora que poderia usar para investir em si mesmo.
De acordo com a analista de marketing Juliana Schenkel, que fez um curso para aprender a gerenciar o seu tempo, a melhor maneira de começar a se organizar é comprar uma agenda. Pode ser de papel, handheld, eletrônica ou até mesmo a agenda do programa de e-mails da Microsoft, o Outlook, qualquer uma serve. Depois, comece a anotar TUDO o que você precisa fazer, sempre agrupando por assuntos afins e colocando em primeiro lugar o que é prioridade do dia. Use e abuse de bilhetinhos, lembretes e coisas que não deixem você esquecer o que precisar concluir naquele tempo que tem disponível. “A gente sempre acha que tem menos tempo do que tem na verdade. Quando eu comecei a seguir fielmente a agenda, comecei a ficar mais satisfeita no final do dia, pois sentia que tinha produzido”, afirma Juliana. O advogado Ricardo Cavalcanti também adotou a técnica da agenda e começou a definir melhor os seus objetivos na vida, redimensionando todo o tempo que gastava em coisas desnecessárias para aquelas que tinham importância e mesmo que o satisfaziam.
Ao contrário do que se via nos filmes americanos da década de 80, ter a mesa atulhada de papéis para assinar, falar em dois telefones ao mesmo tempo e não conseguir fazer uma refeição decente não é sinônimo de competência. Segundo o psicólogo Ricardo Estefam, especialista em distúrbios causados por estresse, muitas pessoas ainda acham que “não ter tempo” é sinal de reconhecimento e status. Para ele, a sociedade ainda pressiona o profissional para ter mais trabalho do que ele suporta. “Há também muito medo de perder o emprego. Muita gente acha que assumindo mil compromissos juntos está mostrando que é competente”, diz o psicólogo. Se a sociedade parece ainda aceitar que seja “de bom tom” ser muito ocupado, as empresas estão repensando suas estratégias para melhorar o desempenho dos executivos sem que precisem se desgastar tanto. “Hoje já vemos no processo de seleção quem sabe organizar o tempo e consegue fazer todas as atividades necessárias. Isso é muito valorizado no ambiente corporativo. Não nos interessa aquela pessoa que diz que não faz exercícios físicos ou não aperfeiçoa seu inglês porque ‘não tem tempo’”, afirma a consultora de recursos humanos Cíntia de Jesus.
Se a ordem é “eliminar bobagens” da sua agenda, comece revendo os seus costumes e tente identificar o que você faz por puro hábito e que não acrescenta nada à sua vida. O professor Eriberto da Silva, da USP, garante que ganhou muitas horas de lazer com a família, desde que abandonou o velho hábito de ler três jornais e duas revistas semanais no domingo. “Eu perdia um tempo precioso, porque achava que aquela leitura era fundamental. E não era. A gente acaba lendo muita bobagem que julga ser importante, porque os jornais têm que preencher seus espaços. Se tem alguma coisa que eu preciso saber, eu ligo a televisão e em trinta segundos me dão a notícia”, diz o professor. Para você ter autonomia para decidir passar mais tempo com a família, ou rigorosamente sem fazer nada, você precisa deixar de fazer as coisas que são menos importantes para sua vida. O psicólogo Mauro Paiva garante que é preciso reorganizar a vida em favor das relações afetivas e em privilégio do ser humano. Para ele, a cultura ainda está muito voltada para o lucro e as pessoas acabam deixando de lado o que realmente importa: a interação social.
Foi pensando nos filhos que a ex-diretora comercial, de uma grande empresa, Rose Muricy largou tudo e foi cuidar de casa. “Ledo engano o meu! Achei que ia ter mais tempo para fazer as coisas e não tenho. As pessoas não têm noção do que é cuidar de uma casa e de quatro filhos”, diz ela. Rose cuida dos dois filhos e de dois enteados, leva todos eles à escola, ao inglês, à natação, vai ao supermercado, paga contas, faz mestrado e garante que tudo vale a pena só por estar vendo as crianças crescerem. “Certamente eu trabalho muito mais agora do que quando era executiva, mas é recompensante”, afirma. Ela, que usa a memória como única garantia, diz que tenta otimizar seu tempo delegando funções para os filhos mais velhos e tentando evitar ao máximo entrar em congestionamentos e em filas monstruosas. Além disso, Rose vai colando recadinhos por onde passa: “dentistas do João às 18h”, “arrumar o ventilador”, “comprar o presente do Kiko”, “fazer o trabalho de Finanças” e “ir à manicure”.
Tentar organizar o seu tempo pode ser um bom exercício de autoconhecimento. Ao parar para rever os seus afazeres diários, você vai perceber que muita coisa do que faz não é, ou não deveria ser, prioridade na sua vida. Para alcançar seus objetivos é preciso estar orientado em uma direção, por isso é importante definir o que é prioritário.