Amigos, amigos, negócios à parte

Abrir o próprio negócio requer boa dose de empreendedorismo e coragem, mesmo quando os ventos sopram a favor da economia. Ter um sócio para dividir os riscos da empreitada é o caminho escolhido por boa parte dos que decidem investir nesse sonho. Mas, para que a solução não se transforme em entrave para o bom andamento da empresa, é preciso encontrar uma boa parceria. E, isso, nem sempre é tarefa fácil.

Uma sociedade é quase como um casamento, a diferença é que para ter um bom sócio é preciso muito mais do que empatia e sentimentos sinceros. Porque um dos erros capitais de quem decide abrir um negócio em parceria é levar em conta apenas as afinidades com o candidato a sócio. Uma das principais razões de falência de empresas é o desentendimento entre seus donos. “Ao firmar uma sociedade, a pessoa tem de ser fria e calculista na análise do sócio e de seu próprio perfil. Não minta sobre seu temperamento e como acha que os negócios têm de ser conduzidos. Se você é teimoso, é preciso dizer. Até mesmo os horários em que cada um prefere chegar ao escritório podem ser motivo de conflitos futuros. Se você gosta de chegar tarde, é necessário deixar isso claro. Antes de firmar o contrato, é importante simular algumas situações e analisar se há sintonia na tomada de decisões”, orienta Antônio César, diretor da Acomp Consultoria e Treinamento.

É um casamento de idéias, baseado na confiança e na ética. Não vou dizer que é fácil, porque nem sempre pensamos da mesma forma, e é preciso ter um poder de persuasão enorme

Meu amigo sócio…

Foi movida pelo entusiasmo e pela vontade de ter um negócio próprio que a pedagoga Maria Tereza Souza decidiu abrir uma loja de artigos de presente com sua vizinha e viu o carro da família e dois anos de trabalho árduo serem consumidos por uma sociedade malfeita. De mudança do Rio de Janeiro para uma cidade no interior de Minas Gerais, as duas acertaram que a pedagoga administraria a loja e a sócia se ocuparia das compras e do envio de artigos para o estoque. “Tínhamos filhos da mesma idade, morávamos no mesmo prédio e estávamos sempre juntas levando as crianças para a escola. Parecia a sociedade perfeita, porque tínhamos muitas coisas em comum”. Maria Tereza se mudou, abriu a loja e os problemas surgiram logo na primeira semana, quando os produtos começaram a chegar. “Não gostava de nada que ela escolhia, achava tudo de péssimo gosto. E quando viajava e comprava alguns artigos, ela também não concordava”, diz. Decepcionadas com o desempenho da loja, os desentendimentos foram se acumulando e, dois anos depois, as duas decidiram desfazer a sociedade. “Hoje vejo que foi pura empolgação, porque, no início, ela era um amorzinho. Mas me descuidei do principal: não concordávamos justamente no que a loja deveria vender. Foi um prejuízo enorme”, conta a pedagoga.

Segundo o consultor empresarial Antônio César, a história de Maria Tereza é mais comum do que se imagina. Por isso, é preciso tranqüilidade e até mesmo excesso de precaução antes de firmar uma sociedade. “Num primeiro momento, todos colocam na mesa apenas as suas qualidades. Ignora-se o risco para viabilizar o negócio, seja pelas vantagens financeiras, de oportunidade ou de know-how que o sócio apresenta”, diz.

Receita de sucesso

Se o sócio errado pode fadar o negócio ao fracasso, a escolha certa é um grande passo para o sucesso da empresa. As farmacêuticas Joyce Rodrigues e Fernanda Sanches se conheceram na época da faculdade, decidiram abrir uma empresa de cosméticos juntas e há oito anos colhem os frutos da parceria. Hoje, a ProLife Import comercializa produtos em todo o Brasil, por meio de drogarias especializadas, possui uma linha exclusiva para dermatologistas e já exporta para Portugal, Colômbia e Equador. Elas dividiram os investimentos iniciais do negócio, mas cada uma se dedicou a uma área da empresa. Para Joyce Rodrigues, o êxito da ProLife Import se deve a sintonia entre as duas sócias: “Somamos conhecimento, porque temos o pensamento focado em áreas diferentes. Eu desenvolvo os produtos e ela cuida de toda a parte comercial. Não seria nada sem ela, porque de nada adiantaria desenvolver produtos sem uma equipe forte para vendê-los”, avalia.

Na base do relacionamento de Joyce e Fernanda, está o lema de que a amizade não deve se misturar com os negócios. No momento de analisar os resultados da empresa, elas encaram as decisões como se estivessem tratando com investidores. E seguem uma regra: nada de trazer parentes para trabalhar na empresa. Tudo para evitar misturar emoções aos negócios. “Somos muito amigas, mas sociedade é sociedade. Nossos negócios são colocados no papel e as duas estão atrás de resultados”, afirma Joyce Rodrigues. Segundo a empresária, é preciso ter em mente que manter o bom rumo da sociedade é um esforço diário que exige, acima de tudo, bom senso: “É um casamento de idéias, baseado na confiança e na ética. Não vou dizer que é fácil, porque nem sempre pensamos da mesma forma, e é preciso ter um poder de persuasão enorme. Mas esta diferença é que traz o crescimento profissional”, diz Joyce Rodrigues.