Fim de ano é aquela correria. Mal dezembro bate na porta, já começa a contagem regressiva que, para seu desespero, é inversamente proporcional à sua pilha de afazeres. Não tem jeito, o universo parece andar em outro ritmo. E na tentativa de ficar livre, leve e solta para aproveitar as tão esperadas datas festivas, você se empenha em deixar tudo pronto. Afinal, ver a família inteira reunida na noite de Natal, e poder comemorar com quem a gente gosta no réveillon compensa qualquer esforço. Tim-tim! Mas não esqueça que enquanto você brinda o novo dia de um tempo que está por vir, o mundo continua funcionando. Graças a empresas e profissionais, cujo ponteiro do relógio não dá uma pausa sequer. Mesmo que, para isso, eles não possam ver Papai Noel entrar, e curtir os fogos na hora da virada.
Imagina passar a noite de Natal sem poder ligar para aquele parente que mora longe? Não tem como! É por essas e outras que as empresas do setor de telecomunicações não fecham suas portas nunca. Mesmo porque, se o seu telefone quebra, você não vai querer esperar alguém voltar do recesso para resolver o problema. “Como os serviços prestados não podem parar, os funcionários têm que se dividir em turnos e fazer plantão, inclusive em feriados”, explica a assessoria de imprensa da Telemar, de operadora de telefonia fixa e móvel. Nessas ocasiões, a empresa busca utilizar o menor número de pessoas possível, sem comprometer o atendimento. Até porque, o serão nas festas não é novidade para os que desempenham funções essenciais. “Quem vai ocupar um cargo na área de manutenção e no centro de gerenciamento de rede, por exemplo, sabe desde o início como é o esquema de trabalho. Eles se adaptam a essa rotina, é como se fosse um dia normal”, esclarece a operadora Telemar.
No intuito de compensar seus funcionários, muitas empresas procuram meios de amenizar o clima no ambiente de trabalho. Segundo o gerente de ambiência organizacional da Petrobrás, Lairton Corrêa de Souza, como o trabalho desenvolvido pela empresa é ininterrupto, não há como deixar de funcionar nenhum segundo. “A gente procura proporcionar a comemoração dos funcionários, contanto que isso não comprometa o rendimento da empresa”, informa Lairton. Para a data não passar em branco, os empregados recebem uma ceia especial e lhes é dado um tempo maior para se juntarem aos outros funcionários que estão na mesma situação. “Claro que não se compara a celebrar com a família, mas a equipe acaba se juntando nessas horas. Outro ponto importante é que, uma vez escalado, o empregado conta com condições salariais melhoradas e um esquema de folgas ao longo do ano”, comenta ele.
Quem gosta de acompanhar a festa de réveillon em diversos pontos do país, não imagina o ano novo sem o trabalho daqueles que, ao invés de comemorarem, passam a virada apurando a alegria alheia. Há alguns anos, o jornalista Flávio Gustavo C. R. Júnior dedica madrugadas, sábados, domingos e feriados na cobertura dos principais eventos da cidade do Rio de Janeiro. “As notícias são veiculadas em tempo real, o que requer agilidade e disponibilidade de tempo. No Ano Novo, por exemplo, o centro das atenções é a praia de Copacabana. Mesmo estando lá, para mim, é como se fosse um dia normal de trabalho”, conta o jornalista, que confessa não enxergar um lado bom nesse tipo de situação e se vira para celebrar o novo tempo antes ou depois do expediente. “Não há simbolismo na data exata. Enquanto as pessoas estão se divertindo, eu vibro internamente e ameniza saber que eu não sou o único. Encaro como uma prova de profissionalismo”, avalia Flávio.
Ficar impossibilitado de descansar no dia internacional da ressaca representa uma tarefa difícil. Mas, certamente, estar longe da família nas datas mais importantes do ano é roer os ossos do ofício. “Sou casado há um ano e este vai ser o nosso primeiro réveillon. No entanto, minha mulher já foi avisada que não conseguiremos passar juntos. O fato de ela ter a mesma profissão que eu ajuda”, comenta o jornalista Flávio Gustavo. Já a médica Maria Inês Piacesi não vê nem a cor dos fogos de artifício, tudo para ficar à disposição dos pacientes do pronto-socorro onde atende. “Em época de festas, é quando se tem mais trabalho. Por causa disso, não comemoro Natal nem Ano Novo”, comenta a médica, que abriu mão da companhia dos filhos pelo bem-estar de quem precisa. “Conforme eles foram crescendo, eu comecei dar plantão e hoje isso já é natural, tanto para mim, quanto para eles. Sei que eles entendem”, revela Maria Inês, acostumada com o intenso movimento das madrugadas festivas.
Quando a ausência se torna imposição profissional, não há outra saída senão buscar a compreensão de ambos os lados. A analista de sistemas Alice Guerreiro tem que se conformar em passar o Natal e o Ano Novo sem o colinho da mãe. “Ela trabalha todos os anos como acompanhante de uma senhora e nessa época não é diferente. Minha mãe se sente mal por não ficar do meu lado, porém, eu não cobro nada, sei que é complicado, uma relação que virou pessoal”, diz Alice.
Se quem fica tem que entender, aos que saem para a lida, cabe arrumar algum recurso para contornar a situação. Alexandre Foligno de Souza é operador de processamento de uma refinaria da Petrobrás – que trabalha 24 horas por dia em processo contínuo. “Eu tenho filhos pequenos que cobram a minha presença. Se sou escalado para trabalhar na noite de Natal, como vai acontecer este ano, forjo a chegada do Papai Noel em outro dia”, informa Alexandre. E como bom filho de Deus, ele também busca maneiras de confortar a si mesmo. “Passei a virada do século dentro da refinaria. Quando deu meia-noite, subi na torre e dei uma olhada nos fogos, mas só deu para ver o clarão. Se tem gente animada no turno, dá para fazer uma confraternização”, acrescenta Alexandre. Pensando bem, o mundo realmente pararia se todo mundo resolvesse tirar as merecidas folgas de fim de ano. Então, um brinde a eles!