Diz o ditado que “amigos, amigos, negócios à parte”. Gosto de estender esse ditado também para a família, porque, em verdade, parente, parentes, os negócios também deveriam ser à parte.
Empréstimos, em particular, costumam azedar as relações entre os membros da família. Familiares bem-intencionados – principalmente pais – costumam achar que estão ajudando quando emprestam ou doam dinheiro para seus filhos.
Meses após o casamento, quando o jovem casal comunicar à família que vai sair de férias para o Nordeste ou vai trocar de carro, os sogros imediatamente se lembrarão do dinheiro emprestado – e provavelmente ainda não pago
Não é raro vermos jovens recém-casados receberam dos parentes uma “ajuda” para a compra ou montagem do primeiro lar. Às vezes na forma de doação, às vezes na forma de empréstimo.
Meses após o casamento, quando o jovem casal comunicar à família que vai sair de férias para o Nordeste ou vai trocar de carro, os sogros imediatamente se lembrarão do dinheiro emprestado – e provavelmente ainda não pago. Ainda que no nível inconsciente, no cérebro do parente credor vai ocorrer a pergunta: “Como podem viajar se ainda me devem? Que falta de consideração!”
E assim será para cada despesa que o casal fizer que não estiver na rotineira compra de comida, sabão em pó e papel higiênico. Roupa nova no domingo, no encontro da família? Todos notarão. E aposte que os olhares não serão sobre como a roupa lhe caiu bem. Afinal, você foi almoçar com seus credores e não apenas com seus familiares. Credores costumam observar essas coisas sobre o seguinte aspecto: “Se eles têm dinheiro para viajar, porque não me pagam o que me devem?”. A relação inteira se modifica. Se há dependência financeira, não pode haver liberdade de relacionamento.
Eu, particularmente, acho que empréstimos dessa natureza sempre resultam em algum tipo de rusga. Sempre.
Anos e anos depois, ainda que tudo tenha sido acertado, sempre fica um certo ranço. Mas, enfim, se for inevitável, a moral da história aqui é simples: um empréstimo familiar precisa ser muito bem estipulado, tal qual um contrato. E a determinação de prazo é uma das coisas mais importantes! E também a remuneração do capital. Não deixe de pagar juros a quem te empresta, mesmo sendo seus pais.
Nós vivemos num país que ainda tem as maiores taxas de juros do mundo. Se você usasse uma financeira estaria pagando cerca de 270% ao ano por um empréstimo. Portanto, leve isso em consideração se – e apenas se – emergencialmente você não tiver outra saída a não ser recorrer a seus parentes. É mais do que justo e ameniza a situação de dependência.
Alguns familiares acharão ótimo um contrato que seja favorável a eles. Afinal emprestar a 1% ao mês, por exemplo, é mais gratificante do que deixar na poupança. Assim, você precisa saber negociar.
Seja generosa com quem estiver querendo te ajudar. E seja uma boa pagadora. Fama de mau pagador na família é pecha para toda vida.
Amigos somem. Alguns voltam, outros não. Mas família é fardo – e alegria – para todo sempre!
Um Bom Natal a todas!