Alguns dizem que beleza não põe mesa, outros acreditam que as feias devem perdoar, mas beleza é fundamental. Qual dessas duas máximas seria verdadeira para o mundo corporativo? Contrariando o comentarista Arnaldo Cezar Coelho, nesse caso, a regra não é nada clara. Enquanto algumas admitem, a contragosto, que a bela aparência impulsionou o crescimento profissional de alguma forma, outras falam exatamente o contrário: a beleza foi mais um obstáculo a ser vencido na busca por um espaço no mercado. Mas um porém: beleza não pode ser definida somente por um rosto bonito e um corpo bem feito. Consultores são unânimes ao afirmar que a tão falada boa aparência está ligada também ao quanto a pessoa gosta do seu jeito de ser, de sua vida e sua carreira.
Pesquisa realizada pelo Instituto Gallup, com 5 mil homens e mulheres, entre 18 e 64 anos, do Brasil, Estados Unidos, Canadá, Austrália e França, mostra que os brasileiros consideram a aparência importante. Dos entrevistados em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife, 61% consideram a atração física muito importante para prosperar na sociedade contra 26% dos outros países. Os brasileiros são os que mais aceitariam submeter-se a tratamentos estéticos (75%), os Estados Unidos vêm em segundo lugar com 41%. Vale lembrar que o Brasil tem a renda per capita quase dez vezes menor que a americana. Em 2002, o mercado de produtos de higiene, pessoal, perfumaria e cosméticos nacional atingiu um crescimento real de 7,4%, enquanto a indústria teve queda de 1,5%.
– A beleza não vai determinar o sucesso profissional de ninguém, mas para mim não há dúvida de que pessoas bonitas têm mais facilidade em processos seletivos. Basta ver as equipes de trainees ou estagiários de grandes empresas. Normalmente, há muita gente bonita. E sempre dentro daquele protótipo mais comum: magro, pele clara, traços do rosto finos. As pessoas procuram não só gente bonita, mas uma beleza padrão, que não seja exótica ou diferente. Creio que isso está ligado à dificuldade que as pessoas têm de lidar com o diferente. Todos os consultores de recursos humanos sabem que os gordos têm menor chance de arrumar um emprego, e há livros que até indicam regimes para as pessoas que estão procurando uma colocação – avalia a consultora Silvina Ramal, acrescentando que, no entanto, as pessoas carismáticas têm mais chance em um processo seletivo.
Para a profissional de marketing Tatiana Rodrigues, apesar de a questão da beleza não ser discutida abertamente nas empresas, a sua existência – ou não –, opina, é levada em consideração na hora da contratação. Ela própria, admite, teve sua aparência como diferencial na última empresa em que trabalhou. “Tenho certeza que o fato de ser loira e magra ajudou. Não foi decisivo, mas pesou, até porque a função exigia contato direto com os clientes. Mas, mais do que uma boa aparência física, acredito que a forma como me visto e me comporto foi decisiva. Sempre procurei me adaptar ao ambiente”, explica.
A consultora Silvina confirma que há áreas em que a questão da aparência é mais forte, como setores que exigem contato direto com os clientes. Ela lembra um caso que aconteceu na universidade em que dá aula, quando um professor disse a um aluno que estava contratando para assistente de pesquisa que ele teria que cortar o cabelo e tirar o piercing. “As palavras dele foram: você tem que estar preparado caso tenha que entregar um papel meu ao Reitor. Não vou querer alguém com esse cabelo indo ao Reitor em meu nome”, conta. Para a consultora, isso acaba influenciando os processos seletivos como um todo, pois acredita-se que a imagem de um funcionário fala muito da imagem da própria empresa. “Outra questão importante é entender qual o estilo de cada empresa. Em uma gravadora, ou em uma agência de publicidade, as pessoas são mais modernas, em uma instituição financeira há um estilo predominante mais clássico”, diz ela.
Monitora de pesquisa clínica da GlaxoSmithKline, a farmacêutica industrial Viviane Rezende partilha da opinião de que o que é mais avaliado pelas empresas não é a aparência, e sim a forma como o profissional se adequa ao ambiente. A executiva, que começou na companhia como estagiária, conta que, inicialmente, se sentia insegura em relação a como se vestir e se portar. “Quando trabalhei como estagiária, a Glaxo era uma organização mais formal, os homens obrigatoriamente tinham que estar trajando terno e gravata. Hoje, isso está mais flexibilizado. Acredito que uma boa aparência é importante, mas, mais do que isso, postura é essencial”, opina Viviane, de 27 anos, que, aliás, é considerada bonita por suas amigas.
Se, por um lado, a beleza pode ser considerada um impulso para a carreira, por outro, pode atrapalhar. Silvina Ramal já ouviu falar de pessoas perseguidas por sua beleza, que despertam inveja nas colegas de trabalho ou nas chefes. “Já vi, freqüentemente, gente que tem dificuldade em lidar com mulheres bonitas, tanto homens como mulheres. As pessoas ficam constrangidas, os homens especialmente têm medo de que considerem que estão interessados”, diz. Mas, avalia, isso não prejudica a carreira. “Recentemente ouvi queixas das mulheres de uma empresa porque o chefe sempre escolhia a mulher mais bonita para acompanhá-lo aos eventos e reuniões, e isso ajudou essa menina a se projetar profissionalmente. Pessoalmente, não discordei desse chefe, porque na verdade essa menina seguia à risca todos os itens que determinam uma boa aparência, o que não podia se dizer das outras pessoas da equipe”, justifica.
A bióloga Juliana Oliveira lembra que já passou por problemas por causa de sua bela figura. Loira, magra e com cara de anjo, a profissional garante que foi difícil conquistar o respeito dos colegas do laboratório em que trabalhava. “Era sempre tratada como café com leite. Parecia que estava ali brincando, que podia estar fazendo compras ou no salão, como se beleza fosse sinônimo de futilidade. As mulheres diziam que eu era metida e arrogante mesmo antes de me conhecer!”, reclama.
Para não causar problemas a consultora ensina que uma mulher bonita que quiser evitar resistências a ela num ambiente de trabalho deve evitar passar uma imagem de convencida, inacessível. Deve se mostrar acessível, modesta. “Uma boa estratégia é conversar com todos, mostrar-se disponível, elogiar quando possível. A idéia é passar uma imagem aos outros de que a pessoa não se sente superior, nem se acha maravilhosa”, finaliza.