Síndrome de poder

Você sabe com quem está falando? Quantas vezes você já ouviu essa frase na fila do supermercado, no posto de gasolina, na porta da boate e até mesmo no escritório da empresa? Certamente, muitas vezes. Apesar dos tempos do coronelismo terem acabado há anos, certas pessoas ainda insistem em usar a posição social ou o cargo para tirar vantagem. Se você é vítima desse tipo de sinhozinho moderno, a melhor atitude é manter a compostura e não se deixar abalar pelas ordens dadas aos brados. Agora, se você é o coronel, wake up, girl. Os tempos são outros.

As filas, não importa quais, fazem parte do rol de habitats preferidos dos sabe-com-quem-você-está-falando. Esperar é uma palavra que não faz parte do vocabulário dessas estrelas. Por isso, dane-se quem estiver na frente. “Uma vez estava na fila do caixa eletrônico da empresa quando chegou um dos diretores. Ele simplesmente ignorou as outras cinco pessoas que estavam na frente dele e foi para o primeiro lugar. Um dos rapazes do departamento de marketing ensaiou uma reclamação, mas o dito-cujo apenas levantou o crachá. Foi a senha para todo mundo ficar quieto”, lembra a assistente comercial Rachel Abreu.

Assessor de um hotel cinco estrelas no Rio de Janeiro, Rodrigo Azevedo não conseguiu segurar a revolta. Durante seu turno na recepção, um executivo insistiu em parar o carro em um local proibido. Quando o assessor foi pedir para ele retirar o veículo, o profissional simplesmente perguntou se ele era novo na função e se ele sabia com quem estava falando. “O cara disse que era diretor de uma grande agência de turismo e que sempre parava o carro ali. Eu disse, então, que iria chamar meu supervisor para falar com ele, já que se ninguém podia parar o carro naquele local por que ele poderia? Meu gerente chegou e repetiu a mesma coisa para ele, que acabou se dando por vencido e saiu de cabeça baixa. Adorei”, lembra Rodrigo.

Pessoas que ocupam cargos altos em uma empresa ou que têm uma posição social privilegiada, obviamente, são as que têm mais tendência a usar o poder e status para tentar tirar vantagem. Mas, por incrível que pareça, muitas das pessoas que fazem isso são aquelas que vêm de baixo e têm origem humilde, observa a psicóloga Tania Pacheco. “Esses profissionais já sofreram tanta discriminação na vida que, agora que podem, querem descontar. Da maneira errada, infelizmente. Como sempre desejaram tanto subir na carreira e ter uma posição invejável, acham que a simples menção do cargo e status basta para que consigam tudo o que quiserem, não importando os outros”, analisa. A solução para as “vítimas” dessas pessoas é manter a calma e serem educadas, mas firmes. “Ele pode ficar contrariado, mas terá que aceitar que é um ser humano como qualquer outro, com direitos e deveres”, observa Tania.

Como, infelizmente, ainda não vivemos no mundo ideal, nem sempre enfrentar os coronéis traz bons resultados. Mas não há quem se arrependa de ter feito isso. A gerente de contas Gabriela Lima tinha um chefe que adorava se gabar de sua posição superior, deixando a entender que era ele quem mandava o tempo todo. Durante uma reunião, a profissional tentou argumentar contra uma proposta que ele tinha feito e que ela achava irreal. “O homem virou bicho. Disse que, no meu lugar, nunca tentaria desafiar alguém com a posição dele, que eu não sabia onde estava me metendo e outras grosserias do tipo. Foi difícil, mas mantive minha posição. Ele me perseguiu até que finalmente conseguir me demitir. Mas não me arrependo. Acho que agi certo”, conta Gabriela, acrescentando que o tal profissional foi demitido pouco tempo depois dela. Justificativa: não sabia liderar. Ainda bem que não estamos mais no Brasil Colonial…