Terapias nas empresas > Prazer de trabalhar

Corina conta que uma multinacional na qual realiza o seu trabalho há dois anos já registrou uma queda de 13% nas faltas dos funcionários, em conseqüência do aumento do bem-estar no ambiente de trabalho. Mas a aplicação de terapias na gestão de pessoas não se resume ao coaching ou sessões com psicólogos. Elenir Honorato Vieira, da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP, realizou pesquisa de doutorado sobre métodos alternativos como astrologia, feng-shui, radiestesia e grafologia que estão sendo utilizados pelas empresas nos processos de seleção de funcionários e na gestão de pessoas.

As empresas que utilizam ferramentas alternativas em processos de gestão de pessoas são aquelas cujo sócio ou proprietário costuma interferir na gestão de pessoas.

Ela pesquisou 11 empresas e concluiu que essas práticas nas instituições não são alternativas e sim complementares, ou seja, não substituem as práticas tradicionais. Segundo ela, a pesquisa mostrou que as empresas que utilizam ferramentas alternativas em processos de gestão de pessoas são aquelas cujo sócio ou proprietário costuma interferir na gestão de pessoas. As áreas de Recursos Humanos, segundo ela, não costumam propor a adoção de práticas alternativas e sim implementam as decisões da cúpula dirigente da empresa.

Elenir explica que as técnicas mais utilizadas em processos de seleção são a grafologia e a astrologia. Na gestão de pessoas os usos são variados. Para planejamento estratégico, as terapias preferidas são astrologia, I Ching, tarô e radiestesia. Para aumento da qualidade de vida no trabalho, os destaques são programas de saúde ocupacional como shiatsu, tai chi chuan, ioga, cristais, florais e, na harmonização do ambiente de trabalho, feng shui, aromaterapia e musicoterapia.

Aromaterapia

A psicóloga e aromatóloga Samia Maluf lembra que hoje muitas empresas de grande porte enfrentam o problema de ter funcionários afastados por estresse criado no trabalho e já começam a perceber a importância do bem-estar dos seus empregados para o bom andamento dos negócios.

Ela afirma que a aromaterapia é “barata e fácil” e pode ser utilizada com muito sucesso como terapia complementar. Ela começou a trabalhar com os óleos essenciais em 1999 e hoje atende empresas como HP, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, entre muitas outras. Nos ambientes de trabalho faz aromatização de ambientes, treina terapeutas para massagens e dá aulas aos funcionários. O trabalho é preventivo. “Vivemos hoje sob muita pressão e as iniciativas da aromaterapia são bem simples”, garante. Ela exemplifica que um trabalhador exausto pode ganhar muito se encher uma bacia com alguns bolinhas de gude, 15 gotinhas de óleo essencial puro de laranja e dois litros de água, que garantem uma massagem dos deuses.

Má experiência

Mas, apesar dos conhecidos benefícios da terapia no trabalho, nem sempre a experiência é bem-sucedida. Daniel Topel, diretor da empresa NetMovie, de locação de filmes pela Internet, conta que dois sócios do negócio estavam em conflito e decidiram buscar ajuda externa na busca de um consenso.

O trabalho terapêutico, que começou no ano passado e prosseguiu neste ano, não deu os resultados esperados. “Entre os sócios o objetivo era ter um mediador, inicialmente para o conflito em comum, depois para efetivar contratações”, conta. O problema, segundo Topel, é que eles não tiveram o cuidado de conhecer mais a fundo a empresa que prestaria o serviço. “É preciso que conheçam de psicologia e de empresa”, diz. Ele explica que a empresa que prestou o serviço não tinha noção de gestão empresarial e, além de tudo, colocou problemas éticos em questão, já que quebrou informações sigilosas da NetMovies ou pressionando funcionários a freqüentarem sessões de terapia fora do trabalho.

Mas Topel não desestimula os que pretendem implantar terapias em suas empresas. “A proposta desse tipo de trabalho é bastante interessante, mas é preciso ter cuidado”, alerta. Ele comenta que, se fosse contratar novamente um terapeuta, faria um contrato detalhado de trabalho, vinculando pagamento a resultado.