Festas e mais festas, vida social agitada, figuras badaladas, presentes e bajulações. É dessa maneira que muita gente vê o dia-a-dia do promoter, responsável por selecionar e levar pessoas interessantes para importantes eventos. Um conto de fadas para os olhos de quem não trabalha nessa área. No entanto, quem está no meio sabe que, por trás dessa rotina de “princesa”, existe uma ralação digna de uma “gata borralheira”. O que na teoria poderia ser lindo e perfeito, na prática, trata-se de uma profissão que exige muito mais do que distribuir sorrisos e beber champanhe com os convidados de um lugar. Aliás, muitas vezes, isso nem acontece.
“Eu sou a que menos aproveita a festa. Tenho que estar sempre alerta aos possíveis problemas, o que, às vezes, é bem desgastante”, é o que diz Fernanda Barbosa, que se considera uma assessora de eventos de São Paulo. Para ela, promoter é aquele profissional que trabalha diretamente com boates, decidindo quem entra ou não naquela noite. “Eu tenho, inclusive, no meu escritório o Beto Pacheco, que lida diretamente com isso. Já o meu trabalho envolve outras coisas”, explica ela. “Faço o RP (Relações Públicas) de uma marca, vejo qual vai ser o bufê, o DJ, e por aí vai…”.
Ter um mailing pode ser fácil. Apesar de ter gente que até vende, rouba… A questão é você conseguir levar a pessoa para determinado lugar. Só mandar os convites não quer dizer nada
Fernanda foi modelo durante muito tempo, além de atuar também como diretora de uma agência. Assim, conheceu muitas pessoas que se destacam no cenário nacional e, principalmente, na mídia. Ser bem relacionada foi o primeiro passo para ela entrar nesse meio e formar um mailing invejável de bons contatos. Atualmente, ela possui uma lista de sete mil nomes, que é atualizada diariamente, mas costuma trabalhar com “apenas” três mil deles. “Ter um mailing pode ser fácil. Apesar de ter gente que até vende, rouba… A questão é você conseguir levar a pessoa para determinado lugar. Só mandar os convites não quer dizer nada”, diz Fernanda, explicando que uma relação de confiança deve ser estabelecida com o convidado, para que ele então acredite não só na qualidade do seu trabalho, como na do evento.
Da mesma forma, pensa Alice Pellegatti, que também é de São Paulo, mas trabalha no Rio de Janeiro. Desde 1996 à frente do AZ Produções, sendo os últimos cinco anos ao lado da sócia Suzy Martins, Alice atua não apenas como promoter, mas como produtora e assessora de marketing e promoção. “Eu me vejo como empresária, no fim das contas”, afirma. Segundo ela, não adianta você fantasiar um evento para persuadir uma pessoa a comparecer. “Temos que trabalhar com o real e, assim, vender o evento do nosso cliente. Tudo depende da forma que se comunica”, explica.
Como Fernanda, Alice parou nesse ramo como conseqüência de suas atividades. Durante 20 anos, ela trabalhou em gravadoras na área de promoção e marketing, onde focava no desenvolvimento da carreira do artista. Ali, conheceu muita gente do meio musical e acabou sendo convidada pelos Titãs para fazer o RP do lançamento do Acústico MTV. O primeiro de muitos convites, a maior parte relacionados à música. O que não a impede de fazer outros eventos como o Lounge GNT/Fashion Rio ou o pré-lançamento do filme/documentário “Cartola”. “Vai muito também pelo meu gosto pessoal e seo trabalho possui um conteúdo diferenciado”, comenta.
Aí, a partir do momento em que ela aceita um trabalho, a correria começa. O que vai ter no lugar? Como é o esquema de segurança? Estacionamento? Qual será o som? Vai ter bufê? Quem vai ser responsável pelo o quê? E outras milhões de perguntas são feitas para que o convidado saiba, exatamente, onde estará indo. “Não vou tirar uma pessoa de casa por nada!”, explica Alice. Ela, realmente, procura se informar de tudo! Tanto em relação à festa como a quem vai à festa. “Eu penso como aquela pessoa pode contribuir para o evento. O que vai vestir? Tem algo em especial que ela possa fazer?”. Ou seja, ela não só vende a festa para os convidados, como também faz o contrário. Pensa o evento como um todo e avalia quem deve comparecer ou não.
E, lógico, por liberar a entrada, acaba sendo alvo de mimos com segundas intenções. “Todo mundo pode passar por isso, até o gerente do banco. No entanto, quando acontece é tão nítido que eu nem perco o meu tempo”, ressalta. Já por outro lado, por vetar a entrada, vira alvo das pessoas irritadas e dos penetras. “Não chega a ser um problema. Faz parte do trabalho, como as saias-justas!”. E desse assunto tanto Alice quanto Fernanda entendem bem. “E quando uma pessoa senta na primeira fila de um desfile, no lugar de um convidado? Eu tenho que tirá-la com todo jeito e educação para que ela não se aborreça”, diz Fernanda. Apesar de não atuar mais como modelo, ela ainda trabalha muito com desfiles. “Tem gente que não conversa comigo porque eu não deixei entrar em uma ocasião”, conta.
O pior é quando a vida pessoal fica de lado. Dá para ter uma rotina familiar, amorosa se não há horários pré-definidos? “A minha prioridade é meu filho, que está com sete anos. Busco na escola todos os dias, tento viajar com ele nos finais de semana e sempre estar por perto”, afirma Fernanda. O que é mais difícil, de acordo com a assessora, é namorar, já que tem muitas noites tomadas pela profissão. “Ou ele acompanha ou não dá”, diz. Já no caso de Alice, não é diferente. Estar com a família é uma preocupação constante. Até porque, além de ser mãe de dois filhos, ela é casada com Frejat, vocalista do Barão Vermelho, que também possui uma agenda cheia de compromissos. “Adoro cozinhar, reunir todo mundo… E acho que ainda consigo ter uma vida normal, apesar do trabalho”, afirma. O que não dá é para perder o ritmo. Um consolo para quem está começando a trabalhar como promoter. Lívia Cheble, de 22 anos, por exemplo, tem feito o esquema boate, citado anteriormente por Fernanda, há um ano. Junto com o namorado, ela possui um mailing com aproximadamente mil pessoas e foca mais na questão de quantidade de convidados. Só chega a vetar a entrada de homens ou liberar apenas a entrada de mulheres bonitas quando o gerente do lugar pede. “Fica a critério do cliente. Eu ainda não tive a experiência de atuar com listas selecionadas”, destaca Lívia, que está entrando em uma área totalmente diferente da sua. “Estou me formando em fisioterapia, mas continuarei com os eventos enquanto tiver tempo e pique”, diz ela. Definitivamente, não é a sua prioridade atuar como promoter. Ultimamente, tem sido apenas a união do útil ao agradável: dinheiro e festa.
O que ela recebe, hoje, vem como complemento para sua vida de estudante. É o suficiente para o momento. No entanto, em termos financeiros, Lívia acredita que essa carreira seja instável. “Tenho amigos que fazem noite de segunda a segunda. Um dia que eles deixam de trabalhar, faz uma boa diferença no orçamento”, argumenta. Já no ponto de vista de Alice, que está na área há muito mais tempo, se você insistir na carreira, pode conseguir uma estabilidade.”No começo tudo é mais difícil”, diz.
O interessante é que, ao contrário do que consideram Alice e Fernanda, ela não se vê como promoter por estar oferecendo esse tipo de serviço. Muito pelo contrário. Para ela, promoter é aquela pessoa que se informa sobre o evento em geral e participa mais ativamente da concepção dele. “Eu só transmito a mensagem sobre a festa. Ser promoter é algo muito maior”, ressalta Lívia. Brincando com a situação, dá até para dizer que qualquer semelhança com o trabalho feito por Alice e Fernanda não é mera coincidência. Visões diferentes.
O que importa é que, independentemente das opiniões e do nome “promoter”, as três sabem o valor do trabalho e como ele é fundamental para o sucesso de um evento. Além de concordar em uma coisa: para atuar nessa área, a pessoa deve ser simpática, ter desenvoltura, jogo de cintura, carisma, saber se vestir e cuidar da sua própria imagem. Afinal, a venda de um evento começa na apresentação da profissional. Quem se arrisca?