Há muito tempo a criptografia gera debate nos Estados Unidos. A polêmica tomou proporções globais quando Edward Snowden revelou que os programas de espionagem do FBI fazia de cada usuário uma pessoa vulnerável, por volta de 2013.
Recentemente, o iPhone do criminoso Syed Rizwan Farook – atirador da Califórnia que matou 14 pessoas e deixou 21 feridas numa instituição que atende deficientes, em dezembro de 2015 – foi estopim para uma discussão sobre até que ponto se deve preservar a segurança de um usuário de smartphone.
O FBI queria procurar indícios de terrorismo e solicitou a colaboração da Apple, gerando um debate intenso sobre criptografia e proteção de dados pessoais. Google, Twitter e Facebook apoiaram a empresa de Tim Cook, que recusou as ordens de se criar um ‘pano de fundo’ para burlar a linguagem criptográfica.
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“Embora acreditemos que as intenções do FBI sejam boas, seria errado por parte do governo nos forçar a construir um ‘backdoor’ em nossos produtos”, disse o CEO da Apple em comunicado oficial. “Tememos que essa solicitação possa minar a liberdade que o governo se destina a proteger”.
Veja 9 coisas que aprendemos com o debate Apple x FBI:
#1 ‘Tradução’ ininteligível
As grandes companhias de tecnologia usam linguagens criptografadas. Dessa forma, as mensagens e informações privadas são ‘traduzidas’ como um montante de números e letras randômicas, tornando sua ‘tradução’ ininteligível para hackers ou mesmo coletores de informações do governo norte-americano.
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#2 Terroristas são espertos
Quando o Estado Islâmico está à procura de militantes para recrutar, utiliza aplicativos que permitem a conversa diretamente de pessoa para pessoa, que geralmente usam linguagem criptografada, tornando seu rastreamento praticamente impossível.
#3 Senhas
Por conta dos complexos sistemas de segurança do Google e da Apple para proteger seus aparelhos mais novos, policiais têm mais dificuldade de obter quaisquer informações de suspeitos analisando seus celulares, geralmente travados com senhas.
#4 Informações, só com senhas
Mesmo quando a polícia solicita às empresas de tecnologia um mandato para obter informações de um possível suspeito, se deparam com o fato de que elas não detêm as chaves para descriptografar as informações pessoais do usuário – mesmo se quisessem.
#5 Senha não é armazenável
Você, e só você, pode destravar seu iPhone. A Apple não detém, nem guarda sua senha. Para ler as informações criptografadas de um aparelho, é preciso ter em mãos essa senha – algo que só o dono do aparelho possui.
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#6 ‘Soluções’ ou vigilância?
O diretor do FBI James Comey já deixou bem claro que quer que as empresas de tecnologia ‘se virem’ para colaborar com a polícia. Comey sugeriu que Microsoft, Google e Apple desenvolvam “soluções” em seus produtos com uma segunda opção de descriptografar informações, em ‘benefício da lei’.
#7 Vulnerabilidade
Por conta dessa investida do FBI, desenvolvedores de linguagem criptográfica se manifestaram, dizendo que era uma “obrigação à insegurança” e que as informações podem ser utilizadas unilateralmente, deixando os usuários vulneráveis aos hackers.
#8 Não adianta o controle só nos EUA
De acordo com alguns desenvolvedores, a criptografia pode ser criada em softwares livres – a maioria deles gratuito. Portanto, mesmo que o governo tenha acesso a essas informações, terroristas e criminosos podem usar essa linguagem fora do território dos Estados Unidos. Ou seja, não adiantaria muita coisa.
#9 ‘Internet das coisas’ ou ‘internet da vigilância’?
Muitos especialistas em tecnologia argumentam que o FBI, com este caso, pretende manter sob a agência o controle de vigilância – o que é algo negativo para a maioria dos usuários. “Será que queremos um precedente legal que transforme a ‘internet das coisas’ numa ‘internet da vigilância’?”, questionou o jornalista Christopher Mims, do Wall Street Journal. “Isso tem implicação não apenas para nós [norte-americanos], mas para cada pessoa da Terra”.
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