A poderosa Nana Caymmi > Família

BM – Fale sobre a maternidade.

NC – Sou mãe de três filhos: Stella, Denise e João Gilberto. Todos cantam, gostam muito. O que dava mesmo para o riscado foi o João que teve um acidente e foi tudo cortado. Com lesão cerebral, é difícil. Ele não tem estrutura. A vida dele é um vazio. Ele vive comigo e se resume em entrar e sair. Ir para a casa da vó, para aqui (salão de cabeleireiro Hair by Dudu). Dudu dá carinho a ele. A Denise é casada e tem dois filhos e Stella é solteira e está escrevendo o livro do avô. A Denise é minha empresária. Todas poderiam cantar.

BM – Você foi mãe cedo?

NC – Casei com 18 anos, engravidei logo. O pai deles é um médico venezuelano. Conheci aqui, se formou no Brasil e mudamos para lá. Separei porque ele não queria voltar para o Brasil e eu não me adaptei a Venezuela. As duas vieram na mão e o outro na barriga.

BM– Que mulher corajosa!

NC – Fiz uma coisa absurda. Eu acreditava em mim.

BM –Você era uma mãe presente?

NC – Fazia de tudo. O meu trabalho no Brasil, como era contrato, a gente não tinha essa coisa de estar em tudo, a gente tinha pontos certos para trabalhar. Então veio o festival e de cara fui contratada pela TV Excelsior e depois saí de lá. Fui para a Record, fiz um grande trabalho lá e que durou até a falência do sistema e entrou a prisão de Gil e Caetano.

BM– Quantos anos durou seu relacionamento com o Gil?

NC – Dois anos e meio, sem prole.

BM – E ele é teu amigo?

NC – Todos meus ex-maridos são amigos. Vivi cinco anos com Claudio Nucci e dois anos com o João Donato.

BM – E as netas?

NC – Elas cantam, uma até já gravou comigo. Marina, que já gravou em disco, tem 13 anos e Carolina tem oito.

BM -Qual sua opinião em relação ao aborto?

NC – Acho preferível você evitar. Sou contra aborto. Você pode escolher antes de fazer. Se existe uma pessoa viva na sua barriga, você colocou lá dentro, você agora que ature. Existem maneiras de evitar desde que o mundo é mundo, as explicações estão aí. O aborto é um processo doloroso para mim. Isso não vem por aí, a Igreja não vem por aí. A minha formação religiosa não permite aborto, não admito.

BM – Você é católica praticante?

NC – Sou católica praticante.

BM – Teu ex-marido foi um pai presente?

NC – Era como se ele não existisse, ele mora em outro país (Venezuela). Ele veio aqui quando João Gilberto (filho caçula de Nana) esteve mal. Em janeiro de 69, o João fez uma operação grave no intestino e minha mãe chamou o pai dele e ele quis roubar uma das meninas para que eu voltasse para a Venezuela. Estava sozinha nessa época. Já tinha me separado do Gilberto Gil. Vivi com Gil em 67, 68 e parte de 69 (antes de ele ser preso).

BM – Você se casou depois do Claudio Nucci?

NC – Não vivi com mais ninguém em casa. Não tinha saco para viver, três crianças nunca deu certo. Os casamentos não davam certo porque viajava muito. O grande companheiro era Dori porque nós fizemos uma dupla muitos anos, pela América Latina. Cantamos no Uruguai e Argentina. Porque Dori trabalhava com Vinícius, parou e depois foi trabalhar comigo.

BM – E ele está morando nos Estados Unidos?

NC – Em Los Angeles. Veio para cá e acabou de sair. Veio gravar Bethânia, Gal e eu, no disco dele. Ele volta em fevereiro para realizar alguns trabalhos.

BM – A imprensa falou muito da diferença de idade entre você e o Claudio.

NC – Ele é 13 anos mais novo. Nunca perguntei idade de ninguém, só pergunto o preço das pessoas (risos). Acho falta de educação. Acho terrível a Caras ficar perguntando essas coisas num país que aposenta as pessoas por idade. É um risco você dizer a idade. Eu ouvi isso da Beatriz Segall: “é um risco você dizer nesse país a idade que você tem porque o empregador não emprega. A primeira coisa que ele faz é te banir”. O meu romance causou um frisson enorme, uma bobagem. Foi um casamento fantástico. As duas famílias se adoravam, ficavam muito tempo juntos, tantos os pais deles como os meus.

BM – E o casamento com Gil?

NC – Ele já não ficou muito com as crianças porque o forte do trabalho de Gil era São Paulo.

BM – Teus maridos te ensinaram muito?

NC – Todos me acrescentaram em matéria de música. O grande mentor nessa história foi o Claudio, ele foi o que mais se adaptou no sentido em que ele estava numa geração ótima para me aconselhar com adolescente, coisa que eu não tinha a menor experiência. Ele foi uma renovação de valores para mim. Não caí naquela coisa “não, não deve” e “não pode”. Depositei muita confiança nas minhas filhas. Pelo contrário, briguei muito com a minha mãe, outra geração. Nisso o Claudio me ajudou profundamente.

BM – Como era o convívio de seus filhos com os seus namorados?

NC – Meus filhos tiveram um grande convívio comigo, qualquer pessoa que estivesse comigo não modificava o que eles estava acostumados a fazer, nem mesmo o próprio Claudio. Eles tiveram uma vida que era a mãe deles e eles. E quando a mãe vai sair com o namorado, vai sair com o namorado, eles que se danem. Não podem interferir, entendeu? Eles não tinham muito acesso a minha vida, eu cortava esse barato deles. Mas com o Claudio não. Com o Claudio, eles foram muito amigos, brigavam muito também. Eles sabiam que o Claudio tinha uma ascendência sobre mim e que eu me consultava muito com ele com coisas que as meninas podiam ou não fazer. Ele ficou um “pai” legal. Até hoje ele diz que tem sete filhos, três são meus. Ele tem meus filhos como filhos dele. Ele tem toda a razão, foram cinco anos, não foram cinco dias. Almoço, jantar, lanche, viagem de veraneio pra Rio das Ostras, quando ele operou de apendicite, teve hepatite…

BM – Você é vaidosa?

NC – Eu tive um processo grave hormonal. A doença do João acabou um pouco com toda a estrutura emocional. Eu não tenho muita firmeza emocionalmente, fiquei muito frágil. É claro que a gordura veio em cima. Meu filho é o perigo porque ele não tem olfato, entendeu? E tem um processo de maconha e ele não entende que é perigoso pra ele. Tive que interditá-lo com um advogado de plantão há muito tempo. Já tentei tudo, já internei. Ele é muito rebelde, é complicado e toma conta da minha área. Só estou feliz quando estou presa no estúdio ou quando estou no palco. No palco tenho proteção. Aí todo mundo toma conta dele porque sabem que é onde gero dinheiro, que tenho que trabalhar. Fora isso, quando não estou trabalhando, ele está solto e depende de mim.

BM – Você contratou uma acompanhante para ele?

NC – Em dia de show, o pessoal providencia uma acompanhante para tomar conta dele. Ele é uma pessoa extremamente lúcida. Ele tem lesão cerebral, mas entende tudo e só faz o que quer. A lesão está lá. Ele não tem emprego, ele não consegue namorada, ele não consegue manter uma conversa, ele é incapacitado.

BM – Como andam seus pais?

NC – Papai está com 86 anos e mamãe com 79 anos. Estão casados há 59 anos.

BM – Bonito o casamento deles, né?

NC – (risos) Eu não conseguiria. Antigamente, a mulher aturava muita coisa. Dona de casa não é uma coisa muito legal. Mamãe era uma mulher que não trabalhava fora. Isto ocasiona muito tédio, bota a mulher muito bitolada. É bom uma mulher que trabalha e cuida da casa, mas é cansativo. Hoje, o número das enfartadas é maior, mas também o mundo está muito violento, cansativo, “ganhar dinheiro”, muita compra. Trabalhar sem pressão seria muito melhor. Comecei praticamente junto com Bethânia e Gal. Elas puderam trabalhar muito mais que eu pois meus filhos eram a prioridade. Elas não tiveram filhos. Elis é outra que também teve muita chance de fazer tudo, ela teve filhos depois. Muito mais tarde.

BM – Sua mãe ajudava a tomar conta das crianças?

NC – Quando podia, ela ficava.