Alterando a rota

Às vezes a gente passa a vida inteira andando em determinada direção e, quando resolve parar um pouco para ver a quantas anda o itinerário, percebe que nos guiamos por um caminho diferente daquele traçado. Em outros casos, localizamos no mapa certo lugar, só que, ao chegarmos no destino final, não era nada daquilo. Parece coisa de escoteiro mesmo, mas pode acontecer com qualquer um que ainda esteja na trilha, ou com quem já se assentou faz tempo. É, em alguns momentos, o ponteiro da nossa bússola deixa de fazer sentido, e a solução pode ser dar meia volta e começar de novo. Lógico que mudar radicalmente é difícil. No entanto, insistir em vento que não sopra mais também não representa a melhor das opções. Nessas horas, o jeito é desarmar a tenda e levantar acampamento para bem longe dali… Haja espírito aventureiro!

Se pra você, guinada só se for um giro de 360 graus, espere até ouvir a dupla reviravolta da jornalista Alice Caldeira. Tudo começou quando sua bússola parou de apontar para o Sul, e insistiu em guiá-la para o Leste, e avante! Demitida e sem conseguir arrumar trabalho em Curitiba, sua cidade natal, ela reuniu forças – e umas poucas mudas de roupa – e seguiu para o Rio de Janeiro, onde foi tentar a sorte. “Um amigo me ofereceu uma oportunidade lá, e como eu sempre quis morar no Rio, vendi meu carro e fui”, conta a jornalista, que, depois de dois meses sendo enrolada pelo suposto benfeitor, ficou mais um procurando outro trampo. Sem esperanças, fez uma volta completa migrando para o Sul de novo. “Fiquei em três lugares diferentes no Rio tentando me estabelecer. No momento que eu vi que não dava mais e voltei, minha família disse que não tinha lugar para mim em casa. Ainda bem que eu ainda tinha dinheiro guardado, porque só fui arrumar emprego quase seis meses depois. Infelizmente, como a sorte não estava ao meu lado, acabei sendo demitida por não terem como pagar meu salário”, explica Alice.

Já diziam os sábios que depois da tempestade sempre vem a bonança. E realmente, com todo esse mau tempo, o sol resolveu se abrir para Alice. “Ao ver que não tinha mesmo espaço para mim em Curitiba, reconsiderei a hipótese de ir para o Rio. Fiz um teste para uma revista e fui chamada para trabalhar. Nem pensei duas vezes: larguei tudo e fui com a roupa do corpo”, comenta a jornalista, que confessa não se arrepender de ter circulado, literalmente, 480 graus até poder se assentar. “Eu tive que aprender a ser independente e amadureci na marra. A vida que eu levo hoje é muito diferente da que eu tinha no Sul, onde eu contava com os meus pais e não passava aperto financeiro. Eu deixei tudo e faria de novo se preciso”, comenta Alice.

No entanto, não pense você que é preciso ser nômade para mudar radicalmente. Em alguns casos, transformações acontecem no mesmo lugar, e nem por isso são menos decisivas. Gente, como a estudante de medicina Julia Levi, que, não satisfeita com a calmaria que estagnava seu barco, foi buscar uma rajada de vento em si mesma para realizar um sonho. “Na escola, sempre fui daquelas que não estava nem aí, queria saber de festa e só pensava nos estudos no final do ano, perigando repetir. O problema é que, desde pequena, eu sonhava em ser médica, sem ter noção do esforço que isso significava. Ainda mais pra mim, que não tinha condições de pagar uma faculdade particular. Faltando dois anos para o vestibular, eu vi que me reestruturar era a única saída”, conta a estudante que, movida pela sua meta, deixou de lado a diversão para se concentrar integralmente nos estudos. “Foi muito difícil abrir mão dos meus hábitos, dos meus amigos e adotar um novo estilo de vida. Pensei em desistir muitas vezes, porém eu lembrava do meu objetivo e seguia em frente”, relembra a estudante. A reforma afetou até o jeito de ser de Julia, que reconhece ter se tornado mais paciente, principalmente por não ter entrado no primeiro ano de tentativa. “Aí que eu tive que mudar ainda mais. Eu via meus amigos indo pra faculdade, vivendo essa época da vida e pensava que podia estar lá. Sabia das chances de não passar de novo e isso me dava medo. Mas foi uma opção que eu fiz, e da qual não me arrependo”, diz Julia, hoje orgulhosa de sua dedicação.

Talvez traçar uma rota seja a melhor forma de planejar a jornada. O que ninguém espera é, depois de tanto tempo andando, perceber que o fim daquela linha não era mais o que queria. Se todo esse papo de direção já deixou você tonta, imagine como a economista Fabrícia Honório se sentiu ao receber um pedido de casamento do seu namorado de longuíssima data, e ter vontade de dar meia-volta? “Nós começamos a namorar no último ano da escola e ficamos juntos por nove anos. Todo mundo, inclusive eu, já tinha como certo que a gente ia casar. Só que, quando eu finalmente ouvi as famosas palavras saindo da boca dele, me dei conta de que não era isso que eu queria! Aquele tinha sido meu único relacionamento e eu não estava pronta para um compromisso definitivo”, desabafa Fabrícia. A economista diz que sempre fazia planos com o quase noivo, mas quando eles ficaram perto de se concretizarem, ela achou que ainda tinha muito chão para percorrer. “Foi um momento decisivo. Ele tinha certeza que queria casar comigo. No entanto, tinha tanta coisa que eu queria fazer antes de me assentar que não consegui aceitar e a gente acabou terminando. No começo, foi muito difícil me acostumar com o fato de ele não estar mais ali. Depois eu vi que foi o melhor pra mim e até pra ele”, avalia.

A psicanalista Elizabeth Amaral garante que se locomover para outro espaço, ou revolucionar no mesmo lugar pode ser a solução para aquela sensação de estar em um beco, aparentemente sem saída. “O ser humano tende a resistir idéia de mudar e, por isso, se acomoda. Mudar exige força e determinação, principalmente estando acostumado a andar com os mesmos passos”, explica a psicanalista. Segundo ela, adotar um novo estilo ajuda a ampliar os horizontes. “Não adianta insistir em situações que não têm mais solução. A guinada é sempre uma boa alternativa, por menor que pareça”, conclui Elizabeth. Portanto, se você estava pensando em dar aquela renovada,  pegar sua trouxa e ir para outra cidade, estado, país, ou mudar algo em você para dar a volta por cima, vá em frente! Só não se esqueça que uma boa escoteira deve estar sempre alerta.