Amizade e sexo

Vocês eram bons amigos. Pelo menos até ontem, quando o bate-papo acabou embaixo dos lençóis. E agora? Essa situação, mais comum do que se possa imaginar, ainda deixa muitas mulheres um tanto desorientadas – inclusive as que se dizem sexualmente bem resolvidas. Mas por quê ? Se tudo o que pode acontecer é vocês continuarem transando, como bons amigos que são; pararem de transar, mantendo uma amizade normal, daquelas que não passam do sofá da sala; descobrirem que sempre se amaram loucamente; ou no máximo, seguirem seus caminhos, procurando amizades menos intensas…

Para a arquiteta Patricia Lima, 32 anos, a experiência foi única e frustrante. “Eu era amiga do Rogério há uns dois anos e durante todo esse tempo mantive um tesão incubado por ele. Depois de uma noitada com os amigos, ele, que estava sem carro, foi dormir na minha casa. Como o álcool já tinha subido à cabeça, acabamos indo para a cama e… foi um fracasso! O problema é que ele não achou e continuou criando situações para poder repetir a dose. Fiquei em pânico. Eu não sabia o que fazer, afinal não dava pra dizer na cara dele que ele era ruim de cama. Fui inventando desculpas, me fechando cada vez mais, e a nossa relação nunca mais foi a mesma”, lembra.

Mas cada caso é um caso. O diretor comercial Fábio Fernandes, 37 anos, garante que é muito melhor transar com uma amiga do que com qualquer uma por aí. “Eu sou do tempo da amizade colorida, quando ninguém era dono de ninguém. O resultado disso é que meus três casamentos foram frutos de grandes amizades. Sexo, para mim, é bom, prazeroso e reflete muita intimidade. Quem pode ser melhor do que uma amiga quando o assunto é intimidade, identificação?”, questiona.

O mais curioso é que, apesar de tudo o que já foi conquistado pelas mulheres, tratar o sexo como uma necessidade fisiológica, que não depende de sentimento ou compromisso, ainda é tabu para muita gente. A produtora cultural Tatiana Ribeiro, 25 anos, sempre se considerou uma pessoa liberal e, mesmo assim, qualifica sua relação com o amigo Fabrício como “uma coisa estranha”. “Nos conhecemos há mais de sete anos e há uns cinco fazemos um sexo casual. Sempre fomos muito amigos, confidentes e resolvemos nossas crises de carência juntos. O engraçado é que a gente conversa sobre outros casos numa boa. Não rola cobrança, nada disso. A gente sabe que o que existe é amizade e que nunca daria certo de outro jeito… a gente briga feito irmãos”, afirma.

Carência. Esse sentimento corrosivo é um dos principais responsáveis por um envolvimento mais íntimo entre amigos. E é também o que leva a grandes decepções. A fisioterapeuta Anna Rodrigues, 28 anos, sabe bem disso: “Depois de namorar durante quatro anos, resolvi dar um basta e mudar minha vida. Passei quase um ano solteira, até que a poeira baixou e eu comecei a sentir uma enorme solidão. Nessa época, um dos meus melhores amigos era um colega de faculdade. Estávamos na casa dele, estudando, quando pintou o clima. Foi perfeito. Senti orgasmos como nunca havia sentido. Fui embora, me achando a mulher mais apaixonada do mundo. Duas semanas depois, o Bruno me chamou para uma conversa. Disse que eu estava me envolvendo demais e que não queria perder minha amizade… e eu achando que nós estávamos vivendo uma louca paixão. Chorei, esperneei e não adiantou nada. Só consegui me recuperar quando conheci o Renan, meu atual namorado. Hoje eu sei que não passava de um momento de carência e que por muito pouco não perdi um grande amigo”, declara.

Depois de passar por várias experiências, o analista de sistemas Luciano Xavier, 26 anos, concluiu que adora transar com amigas, mas que, definitivamente, esse é o tipo de relação que não dá certo, pelo menos com ele. “Uma noite, não lembro porque, eu e a Martha decidimos tomar um chope sozinhos, só nós dois. O clima começou a esquentar e nós fomos parar em um motel. Quando nos encontramos de novo, alguns dias depois, ninguém tocou no assunto e nós continuamos saindo com os nossos amigos em comum, como se nada tivesse acontecido. Só que eu sempre deixava ela em casa e, antes disso, dava uma passadinha no motel. Até o dia em que ela me botou contra a parede e perguntou o que estava acontecendo. Foi uma situação complicada. Eu só queria sexo e ela, aparentemente, tinha expectativas bem diferentes. Resultado: ela acabou se afastando e nós nunca mais nos vimos”.

Mas não só as mulheres se surpreendem. Tamanho foi o susto do estudante Fernando Siqueira, 23 anos, quando sua amiga Michela – que segundo ele, sempre foi meio pirada -,deitada na cama de seu quarto, virou-se para ele e disparou:

“Fernando! Eu nunca peguei no seu pau!” A reação não poderia ser mais imediata: “Não seja por isso!”, ele revidou. “Foi inacreditável, eu sabia que ela era meio louca, mas não tanto… fizemos um sexo muito alucinado e no dia seguinte tudo voltou ao normal. Acho que ela matou a curiosidade”, deduz.

Bom mesmo é quando os dois se envolvem na mesma intensidade, independente do desfecho. No caso da vendedora Livia Monteiro, 26 anos, a história teve um happy end. “Trabalhei com o Alexandre por mais de dois anos e nós ficamos super amigos. Viajávamos juntos, íamos ao cinema, à praia, ele ia nas festas que tinham lá em casa, sabia de todos os meus rolos… um dia ele falou que estava apaixonado por mim já fazia um tempo e acabou acontecendo. Começamos a namorar e hoje estamos quase casados. Como somos amigos acima de tudo, sabemos os defeitos, os prós e contras um do outro, acho que é por isso que vem dando certo”.

Se tiver que ser, será. O que não adianta é ficar imaginando o que se passa pela cabeça do outro e, muito menos, tentar adivinhar o dia de amanhã. Se for bom, curta o momento. Se não for, não se torture. Afinal, amigos não são perfeitos.