Longe dos olhos, mas perto do coração. Este é o lema de muitos casais que apostam no relacionamento a distância. Os quilômetros não parecem assustar essas pessoas que, para encontrarem o ser amado, precisam marcar a data na agenda e contar as horas, ou melhor, dias e até meses para o encontro. Difícil? Eles admitem que sim, mas nada insuportável. Afinal, para eles, uma pitadinha de saudade é um tempero a mais no romance.
O afastamento pode acontecer por diversos motivos: incompatibilidade de agenda (as celebridades são hors-concours neste assunto), estudo ou trabalho. Na era da internet, então! Muitos relacionamentos começam via web. É um tal de encontrar a alma gêmea no Japão, a metade da laranja em Bangladesh. E haja dinheiro e força de vontade para levar o romance adiante. Mas, para essas pessoas, nada disso importa quando existe um forte sentimento por trás de toda essa entrega.
Os desencontros da agenda foram tão grandes, que até casar por procuração a estudante de Direito Alessandra Godinho casou. E, ainda hoje, ela e o marido, Bruno, fazem malabarismos para se encontrarem. Eles começaram a namorar ainda no colégio e, quando estavam na faculdade, Bruno foi terminar os estudos na França. Ficaram seis meses longe e Alessandra pensou até em terminar o relacionamento. “Quis terminar tudo, pois achava que não iria agüentar. Aí ele me disse que se eu quisesse, ele ficaria aqui comigo. Não concordei. Era uma oportunidade única que ele tinha e não deveria ignorar”, conta. O casal decidiu, então, topar a aventura.
Passaporte para o amor
Após o “casamento”, ela passou outros seis meses com ele na França. Voltaram para o Brasil e curtiram a vidinha a dois por três anos. Mas… nova separação. Bruno ganhou uma bolsa para fazer mestrado em Paris. Só que Alessandra tinha que terminar a faculdade aqui. Resultado: encontros a cada dois meses, tempo que acordaram ser suportável. “Embora os brasileiros estranhem muito essa situação, as pessoas na Europa acham muito comum. Este é o momento de investir individualmente. Mas só dá certo quando o objetivo do casal é ficar junto. O nosso objetivo é fazer nosso caminho convergir depois, por isso vale o sacrifício”, defende Alessandra.
Existe uma grande aliada para esse tipo de relacionamento: a tecnologia. Celular, correio eletrônico, mensagens instantâneas, vale tudo para não perder a intimidade com o parceiro. Segundo Sérgio Savian, conselheiro amoroso, que estuda os relacionamentos humanos há 24 anos, é importantíssimo o casal não perder essa camaradagem com a distância. “As pessoas devem ter os mesmos cuidados do que aquelas que se vêem sempre. É estar comprometido todo dia, deixar que a pessoa faça parte da sua rotina. Telefone, mande mensagens, presenteie. É possível ser criativo a distância”, aconselha.
A advogada Juliana Rocha concorda. Desde novembro, ela tem uma nova rotina: ir até Belém, no Pará, para rever o amado. Há três anos com o também advogado Ricardo, ela tem no celular um grande companheiro. “No falamos cinco, seis vezes ao dia, mandamos mensagem. A invenção do celular foi ótima. Suprimos a falta física do outro através de carinhos diferentes”, revela. Para Sérgio, o casal está corretíssimo. Ele vai além: “Só é possível continuar se a pessoa preencher afetivamente suas necessidades. Pode ser com amizades, trabalho, religião. Só não pode ser com outra pessoa”, diz, entre risos. “Tem que ter um suporte, uma segunda paixão”, completa.
Virtualização do amor
A tecnologia facilitou muito a vida das pessoas. Fortes relacionamentos começaram pela internet. Foi o que aconteceu com a estudante de psicologia Vanessa Rocha, irmã de Juliana. Ela conheceu o irlandês Dermot pela internet. Depois de um mês entre longos bate-papos (um deles chegou a durar 12 horas), Dermot decidiu vir ao Rio de Janeiro para conhecer Vanessa. Ficou três semanas e logo emendou um namoro. Eles estão juntos há dois anos e se vêem a cada seis meses. Noivos, pretendem se casar assim que ela terminar a faculdade, no fim do ano. Mesmo sem dividirem o dia-a-dia, ela não se preocupa com a rotina. “Não me preocupo se vai dar certo ou não a nossa convivência”, afirma ela.
Sérgio, no entanto, alerta: “Um coisa é você ver a pessoa uma, duas vezes por ano e passar quinze dias maravilhosos. Outra coisa é acordar todo dia com ela e ter uma rotina. Além disso, é importante ver as diferenças culturais. Em namoros como esse, quando há casamento, é como se fosse um relacionamento novo”, adverte. “Casar antes de dois anos de relacionamento é complicado. Em estado de paixão, você não conhece ninguém. Tem que ter pele com pele, olho no olho”, afirma o consultor.
Xô, ciúme!
Ciúme é uma palavra que os amantes têm, definitivamente, que cortar do dicionário. Senão é impossível viver com a eterna dúvida se o companheiro está ou não traindo. Todos os entrevistados sugerem substituir ciúme por outro termo: confiança. “Não tem jeito, o ciúme aumenta. Mas você tem que confiar na pessoa. Porém, isso não impede de querer saber o que a pessoa vai fazer sábado à noite”, diz Juliana. “Tem que ter confiança e apostar nisso. Até que te prove ao contrário… A gente não toca muito no assunto, pois é difícil para os dois”, diz Alessandra.
Mesmo com todas as dificuldades, elas conseguem ver um lado positivo na situação. “É bom porque eu tenho um tempo de olhar para mim. Além disso, você fica numa expectativa de reencontro parecida com início de namoro”, descreve Alessandra. “Você aprende a valorizar cada momento, aquelas coisinhas que antes eram insignificantes…”, complementa Juliana. Sérgio vai ao ponto: “Essa impossibilidade do encontro é um adubo para o amor. Quando ele volta, vem fortalecido”, analisa o conselheiro.
Dicas para sobreviver longe do amado:
Deixe o ciúme de lado. Substitua-o pela confiança.
Não deixe que a distância diminua a intimidade entre vocês. Use a tecnologia para manter a chama viva.
Optar por um relacionamento deste tipo é questão de escolha. E, em toda escolha, existem pontos positivos e negativos. Tenha consciência disso.
Em relacionamentos iniciados pela internet, antes de largar tudo para viver a paixão, leve em consideração aos aspectos culturais e morais do parceiro.
Segundo Sérgio Savian, este tipo de relacionamento só dá certo quando há a previsão de que o problema da distância será resolvido. Senão, vira amor platônico, inalcançável. “É preciso que as duas pessoas coloquem os pés na relação. Se o movimento for feito somente por um lado apenas, pode haver frustração”, orienta.
Por fim, a máxima de Sérgio: “Amor combina com coragem e não com medo”.
* Mas, para quem ainda sofre com a distância, a Sonia Melier apresenta novidades que tentam minimizar a ausência do amado. Não deixem de conferir sua coluna ‘Invenções sem limites’, em Estilo de Viver.





