Autoestima tamanho G

Quando a jornalista Fernanda passa na rua com seu batom vinho, blusa decotada e cabelos dourados ao vento, muitos são os olhares que a seguem. A jovem de 27 anos sabe encarnar a personagem femme fatale quando bem quer e para quem escolhe. E quem, ao ouvir falar dela, imagina um tipo top model, engana-se. A moça superconfiante e bonita está com 15 quilos acima do que os médicos acham saudável. Sim, Fernanda veste tamanho 44 bem justinho, tem uma saúde de touro e na sua lista de conquistas estão quase todos os nomes pelos quais se apaixonou um dia. “Não vou mentir que a gordura não incomoda, mas não deixo de gostar de mim por causa disso. Vou sempre me achar bonita e interessante”. E ela não é a única.

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Segundo Fernanda, a preocupação com o peso vem da infância. Ela lembra de situações em que as vendedoras de roupas infantis a olhavam e diziam que não haveria nada na loja que coubesse nela. “Já passei por situações muito cruéis por ser gordinha, de me sentir rejeitada por isso”, acrescenta a jovem sensibilizada. “Minha mãe mesmo fica na minha cola e chegou a dizer absurdos, até para não parar de fumar, porque engorda”.

Considerando que sou uma pessoa saudável, por que será que tanta gente (incluindo minha vizinha, minha prima e as editoras de revistas femininas) está decidida a fazer com que eu seja magra?

Ela conta que chegou a se submeter a uma lipoescultura há alguns anos e que perdeu bastante medidas. Embora ainda tivesse que perder peso e seguir uma dieta rigorosa, a jornalista revela que é difícil mudar os hábitos alimentares tão radicalmente, apesar de ter passado a acompanhar seus quilos de perto. “Eu sou uma pessoa saudável, como meus legumes e minhas verduras, mas tenho um sobrepeso. Sou assim”, desabafa. “Isso nunca foi impedimento para me sentir especial, namorar quem eu quisesse, ter muitos amigos e usar as marcas (de roupas) que acho bonita”.

Sem descer do salto

Tal como Fernanda, muitas são as gordinhas que não descem do salto, nem perdem o rebolado porque estão acima do peso. A escritora norte-americana Wendy Shanker lançou recentemente o livro “Fat Girls Guide to Life”, que no Brasil foi publicado pela editora Verus, com o título “Segredos da Gordinha Feliz”. Nele, Wendy relata as situações pelas quais passou por causa do seu tamanho extralarge. “Considerando que sou uma pessoa saudável, por que será que tanta gente (incluindo minha vizinha, minha prima e as editoras de revistas femininas) está decidida a fazer com que eu seja magra?”, questiona.

A autora faz parte do “Esquadrão da Moda” da revista US Weekly e foi apresentadora de um programa de televisão sobre compras e estilo. Já escreveu para as revistas Glamour, Cosmopolitan, Marie Claire, Seventeen e para a MTV. Seu novo livro descreve suas aventuras em academias e clínicas de emagrecimento, mostra seu espanto diante de dietas absurdas, diverte com suas incursões por lojas de roupa e emociona com seus relatos sobre a aceitação de si mesma. Outro detalhe que chama atenção são os dados alarmantes sobre as empresas que estão por trás do mito da mulher ideal. Assim, Wendy traça uma lúcida radiografia da sociedade atual.

A medicina em conflito

Nenhum médico dirá ao paciente para não emagrecer, salvo os casos de anorexia. No entanto, parte da medicina acredita que um corpo rechonchudo não é sinal de doença alguma, mas, sim, do código genético daquele organismo. “Ninguém é igual a ninguém, da mesma forma, não podemos obrigar uma pessoa endomorfa, com tipo físico grande, a se tornar ectomorfa, do tipo delgado”, explica a endocrinologista Ethel Stambowski.

De acordo com a doutora, há pessoas que podem alimentar-se de forma equilibrada, ainda que com refeições calóricas. “Uma tijela de açaí é altamente calórica, mas é uma bomba de minerais, principalmente de ferro, antioxidantes, que fazem muito bem à saúde”, comenta. “A pessoa ser gordinha ou magrinha não deveria ser problema, embora há médicos, seguidores de escolas patrocinadas por laboratórios, que insistam na silhueta definida”.

A médica não defende a gordura. Insiste que as atividades físicas são os maiores aliados da saúde e da felicidade, pela liberação de endorfina. “As pessoas obesas, sim, precisam de cuidado e tratamento porque a gordura em excesso é inimiga do coração, das articulações, do fígado… mas a gordura do sobrepeso, se não põe em risco o colesterol, a glicose e outras taxas, é tratada pelos médicos sérios como uma questão de estética”.