Meus dias em Paris já estão contados, reta final. Não sei se fico triste ou feliz, porque, afinal, já estou com saudade do Brasil, dos meus amigos, parentes, da minha cama, da comida excelente da moça que trabalha lá em casa, de tudo limpinho (pois é… eu, aqui, só dou uma geral, não tem jeito), da praia… Se eu pudesse dar uma espiadinha no mar pelo menos uma vez por semana, já seria ótimo! Não à toa, o pessoal por aqui – carioca, na maioria das vezes – costuma dizer que Paris seria perfeita se tivesse praia. Mas, ainda assim, acredito que nada estraga o charme de Paris, a maravilha que é viver aqui. E para ter esse sentimento bem fresquinho na memória, por esses dias fui fazer o que os parisienses mais gostam de fazer, além de tomar vinho e comer queijo: andar.
Não que andar por conta própria não tenha graça, mas, como eu queria calor humano, participei de um tour guiado fantástico – e gratuito! – por ruas, parques e praças da Cidade-Luz. Coisa, aliás, que está super na moda aqui. São os chamados “tours urbanos”. Sim, parisiense que é parisiense ama passear a pé, perder a noção do tempo lendo ou namorando às margens do Sena, fazendo pique-niques… Aliás, caminhar é algo bem francês – este é o esporte mais praticado no país (e depois ainda me pergunto porque as francesas são tão magrinhas!). Todos os anos, 15 milhões de franceses – até os mais idosos – vestem tênis confortáveis e… pernas para que te quero!
Aliás, o guia do passeio que eu fiz, o New Tour, contou que a Torre Eiffel é mesmo o monumento mais visitado de todos os tempos, apesar de muita gente jurar que ele já não tem mais essa pompa toda
Andar, por aqui, é realmente tendência. Por isso, faz parte dessa onda o guia de caminhadas de Paris editado pela Féderation Française de Randonnée Pedestre (federação que reúne todas as associações e clubes de pessoas que gostam de bater perna). No guia, são apresentados circuitos para conhecer uma outra Paris: uma cidade de parques, jardins e ruas tranqüilas, longe das grandes avenidas e dos grandes conglomerados turísticos.
Mas para quem está no clima turistão, nada melhor do que combinar saúde com conhecimento, histórias, curiosidades e, é claro, turismo. Tudo isso num passeio à moda parisiense – e com parisienses! Quem melhor do que os locais para nos fazer descobrir a verdadeira Paris? São eles, afinal, que constituem a alma da capital francesa e que conhecem as histórias dos bairros, os lugares autênticos, escondidos, secretos, e insólitos da cidade.
Grupos como o Ça se visite!, Paris Rando Vélo, Paris Go, Randonées à Paris e Paris Greeter (alguns pagos, outros não) dão a palavra à gente que vive em Paris para revelar as múltiplas facetas dessa que é uma das cidades mais visitadas do mundo. Aliás, o guia do passeio que eu fiz, o New Tour, contou que a Torre Eiffel é mesmo o monumento mais visitado de todos os tempos, apesar de muita gente jurar que ele já não tem mais essa pompa toda. O New Tour não é um desses passeios à la parisienne (ele está presente em várias outras capitais, como Amsterdã e Berlim, com guias especializados, porém não necessariamente nativos), mas valeu a pena! Para quem não entende francês, essa é uma ótima pedida, porque os tours são em inglês ou espanhol.
Além disso, o guia do meu grupo era uma comédia! Mexicano criado em Nova York, apaixonado por história, cigarros e vinhos e estudante de artes aqui em Paris, onde mora há anos. Aprendi muita coisa que nem em seis meses vivendo aqui eu havia aprendido! Afinal, é aquela velha história: tem carioca que nunca subiu o Corcovado ou nunca pegou o bondinho até o Pão de Açúcar, assim como tem parisiense (ou pelo menos quem se sentiu parisiense durante todo esse primeiro semestre) que não sabia que os argolões de ferro já enferrujado, incrustados ao longo de todo o paredão das margens do Sena, serviam para puxar as embarcações que, antigamente, não tinham motor.
Enfim, passeios como esses dão uma outra visão da capital, uma visão ao mesmo tempo romântica e realista, incomum e curiosa. Sem contar que sempre terminam em um bom café que você jamais teria descoberto sem a ajuda de quem respira Paris desde sempre. E é como diz o lema do grupo Paris Greeter, formado por parisienses voluntários que organizam caminhadas gratuitas superinteressantes: “Porque não há nada mais frustrante do que visitar Paris e guardar apenas algumas vagas impressões ou souvenirs”. Para quem quer conhecer a verdadeira alma de Paris, fica aí, então, a dica! Testada e aprovada!
Bom passeio!
Para quem quiser saber mais:
