Já de cara, são 29 músculos em atividade, os batimentos cardíacos aumentam de 70 para 150 por minuto e ocorre uma queima de até 12 calorias. E melhor, não precisa nem estar em forma para encarar sucessivos treinos. Spinning? Indoor running? Musculação? Aerofunk? Não, não se trata de nenhuma dessas modalidades oferecidas pelas academias. Mas, sim, de uma prática muito comum entre as pessoas que se gostam: o beijo. Além dos seus benefícios fisiológicos, essa manifestação de sentimentos traz sensações indescritíveis – já que mexe com os cinco sentidos – e ainda rende boas e melosas histórias.
Semanticamente, beijo significa o ato de tocar com os lábios em alguém ou em algo. Mas, sentimentalmente, o beijo pode ser considerado um rito de passagem na vida de qualquer mortal. Porque a partir do momento em que tascam um na nossa boca, nada mais é igual ao que era. Nesse instante, deixamos a constrangedora condição de BV (boca virgem, para quem não lembra), que tanto perturba os adolescentes; deixamos de ficar sozinhas naquela festa; deixamos de ficar sem namorado quando o bis vira vício; deixamos o atraso de lado; e, finalmente, deixamos de ficar solteiras quando ele é dado no altar na frente de trocentas testemunhas.
Era uma vez…
Mesmo assim, não faltam lendas alimentadas pelas más línguas, como o clássico infantil “beijo dá sapinho”. No entanto, a sexóloga Glene Faria afirma que isso não passa de balela, pois beijo não transmite doença. “A quantidade de vírus existente na saliva é insignificante, beijo não transmite nem Aids. Agora, se houver um machucado na língua ou na gengiva, pode ser perigoso por causa do sangue”, informa a sexóloga. Ultrapassada a barreira do receio de meter a língua na boca dos outros (quando você ainda é uma novata no assunto), o que impressiona no beijo é a sua capacidade de atrair ou repelir o outro. “O beijo é a porta de entrada da relação. Se você não gostar do que viu no começo, acho que já era. Só mesmo com muita boa vontade para ir adiante. Eu, por exemplo, odeio quem beija sem dar a língua, fica aquela coisa presa lá dentro da boca”, diz a advogada Liliane Moll.
Beija, beija, beija!
Já a estudante Raíssa Salgado comenta que existem duas situações para se avaliar um beijo: a primeira, quando o único objetivo é beijar, e a segunda, quando existe um envolvimento prévio. “Se for só para ficar, tem que beijar gostoso. Agora, se já rola um clima e, na hora, o beijo não for o que eu esperava, procuro ter paciência e conferir melhor com o tempo. Claro que, se não tiver talento nenhum, fica difícil, mas acho que você pode tentar mudar o beijo”, diz Raíssa.
E, justamente por ser um elemento surpresa, é que o beijo causa tanto alvoroço. Feliz de quem é surpreendida com um melhor do que o esperado, como aconteceu com a arquiteta Beatriz Colassanti. “Tinha um cara que dava em cima de mim há um tempinho. Achava ele bonito, mas não dava muita condição, até que o encontrei num show. Saímos de lá para um bar, e eu, vendo a coisa ficar feia para o meu lado, pensava: ‘não quero ficar com ele, que saia-justa’. Lá pelas tantas, o cara me agarrou e tentou me beijar, só que eu virei o rosto. Mas ele não se abalou: desvirou e beijou na marra. Foi o melhor beijo da minha vida, me apaixonei no ato. Hoje, estamos casados”, conta Beatriz.
Por estar envolvido em tantas situações adversas, é que o beijo pode ser considerado tão complexo quanto bom. Todos sabem como funciona, mas técnica mesmo, cada um que desenvolva a sua. “Acho que beija bem quem tem a maior capacidade de adaptação ao beijo do outro. Tem que ter encaixe, é como uma dança”, acredita o músico Leandro Bandeira. E por ter seu compasso marcado por línguas e sentimentos é que o beijo tem a incrível capacidade de se renovar. “Um beijo nunca é igual ao outro. Tem beijo pra tudo: de carinho, de tesão, de paixão, de saudade… Até quando você briga e faz as pazes o beijo é diferente, meio sofrido, doído. Para mim, beijo é química, a que rola no momento em que ele é dado”, teoriza a nutricionista Valéria Silva Ramos.
Beija eu
A sexóloga Glene Faria explica que o beijo é a primeira manifestação de intimidade entre duas pessoas. “É a concretização de um desejo de contato físico. Por isso ele marca tanto”, afirma ela, acrescentando que o beijo também significa uma transmissão de afetividade. “Exatamente por esse caráter, que ele também é a primeira coisa que some quando as coisas esfriam. Muitos casais continuam até tendo relações sexuais, mas não se beijam mais”, atenta Glene. E sendo uma expressão da sexualidade, o beijo também pode ser amadurecido junto com ela. “A sexualidade é aprendida e desenvolvida com as experiências, e o beijo é uma de suas expressões. Essa história de que fulano não sabe beijar não existe. Existe química, encaixe e sentimentos envolvidos, a pessoa pode tentar mostrar e ensinar como gosta de ser beijada”, ressalta Glene.
No intrincado universo dos relacionamentos, não existem regras. Cada casal tem sua história de vida, suas preferências, sua manias e sua intimidade. Só que, com certeza, o beijo é a única expressão comum a todos. “O beijo faz parte de qualquer relacionamento. Você pode não gostar de homem, pode não gostar de mulher e fazer mil inovações e bizarrices durante o sexo, mas sempre vai beijar de língua”, acredita a empresária Marcele Novaes.