Dividir as escovas de dente é uma arte. Quantos namoros de longos anos não vão por água abaixo depois que os casais passam a dividir o mesmo teto? Mas é a pura verdade: só conhecemos alguém dormindo e acordando todos os dias ao lado dessa pessoa. É entrando na rotina e nas manias de cada um que podemos, de fato, saber como funciona um parceiro no dia-a-dia. Se gosta dos talheres do lado direito, do esquerdo; se dorme todos os dias com a TV ligada; se gosta de leite com chocolate no café e odeia café; se acorda de bem com o mundo ou está sempre prestes a enfiar a mão na cara do primeiro que aparece. Vamos lá, é fácil manter o humor no sábado, domingo e nas férias ensolaradas na praia. Agora, vai manter a compostura naquela segunda-feira chuvosa, depois de uma briga com o chefe e uma ligação do banco avisando que seu limite estourou?
Cabeça cheia, casa cheia!
Tudo o que você quer numa hora dessas é ficar sozinha, com os pés para cima, esperando esse dia agourento passar. Mas existe um marido. Talvez crianças e quiçá, os cães. Nesses momentos, é essencial que o casal tenha sua privacidade bem resolvida. A situação ideal: você chega de saco cheio, pede para ficar um pouco sozinha até conseguir relaxar, e terminar seu dia. Depois, mais calma, conta o que aconteceu e pronto. A situação mais comum: você chega em casa batendo o scarpin na soleira e já reclamando da sujeira na sala. Continua desfiando seu rosário no quarto, no banheiro, na cozinha, até que o dia, que já começou ruim, piora um pouco mais com uma tremenda discussão com seu marido.
Intimidade sob controle – literalmente!
Essa rotina, que nada mais é do que vida real, tem jeito. A solução é respeitar o espaço do outro – dentro e fora de casa. As pessoas podem estar no mesmo lugar o tempo todo, mas voltadas para interesses diferentes. O que tem de errado você querer assistir a novela no quarto enquanto seu marido assiste ao jogo na sala? “Não consigo ver TV com o Marcelo. Ele não pára em nenhum canal, é um saco aquele controle na mão dele. Raramente assistimos às mesmas coisas. Mas é melhor do que eu ficar reclamando dele e ele, reclamando do filme. Eu, de vez em quando, vou lá na sala, dou um beijinho. E ele igual: vem no quarto, faz um carinho”, descreve a nutricionista Juliana Nóbrega.
Minha casa, minha vida!
Cada vez mais rápido e com mais freqüência os casais vêm descobrindo os benefícios de conservar seu espaço. Um exemplo famoso é o da atriz Christiane Torloni e do diretor Ignácio Coqueiro. Juntos há mais de uma década, eles sempre moraram em casas separadas. A atriz já declarou a algumas revistas que é espaçosa, precisa de independência, e os dois dividem o mesmo teto só no final de semana, na casa que têm em Friburgo, no Rio de Janeiro.
Há um banheiro entre vocês
Claro que não é preciso chegar a essa opção extrema, que pode servir para Christiane, mas não satisfazer a muitos. Mas já parou para pensar nas coisas que você gostaria de fazer totalmente sozinha, mesmo com alguém em casa? A jornalista Keila Jimenez, casada há pouco mais de um ano, gostaria de ter um banheiro só para ela. “Eu odeio dividir banheiro. Sempre falo para o meu marido que prefiro um banheiro só para mim a um carro novo ou uma jóia”, diz. Os motivos dela são justos, como não? “Os shampoos mais caros ele usa como sabonete corporal, ele não sabe a diferença entre um alicate de cortar unha e uma tesourinha delicada para outros fins”.
A disputa pelo banheiro não é reclamação exclusiva da Keila. A advogada Rita Da Mata, que foi casada durante 20 anos, apresenta uma teoria interessante: “Nenhum casamento sobrevive a uma divisão de banheiro. Não dá! Você perde o tesão, a empolgação, tudo. Certas intimidades, como sentar no vaso depois de ele se levantar, acabam com qualquer amor”, acredita a advogada.
Pois é, Rita. Parece que muita gente já descobriu isso. Alguns arquitetos, como Romero Novaes, já receberam ordens de seus clientes para colocar no projeto uma suíte com dois banheiros, duas camas e até quartos separados. “Eles querem individualidade e privacidade. Essa é a exigência hoje de muitos casais. Quanto mais tempo de casamento, maior a necessidade”, conta o arquiteto.
Keila bem que gostaria de morar em uma casa dessas.” A gota d´água foi uma manhã em que fui escovar os dentes e descobri que a pia do banheiro estava entupida, logo depois de ele fazer a barba… tomada pela fúria, liguei para ele. Quando ele disse “alô, amor”, ouviu sua mulher aos gritos dizer que a pia estava entupida por culpa da barba dele”. A novela tragicômica, que parece saída de uns daqueles roteiros do seriado global ‘ Os Normais’, não parou por aí. O marido insistiu com Keila que resolveria o problema quando voltasse, mas ela continuou reclamando. Por fim, vencido na tentativa de tranqüilizá-la, disse que a culpa também era dela, porque também tinha cabelo que ajudava a entupir o ralo.
Eles também querem privacidade
Eles são espaçosos, insensíveis, sujam o banheiro, fazem barulho e largam a toalha molhada na cama. Mas, e nós? Será que é fácil dividir o mesmo teto e o resto de uma casa com uma mulher? “É aquele monte de cremes na bancada do banheiro, de bolsas no cabideiro, de enfeites pelas mesinhas, mal consigo colocar um copo de cerveja. Eu não tenho espaço pra nada, sou só figurante. Nem reclamar posso”, protesta o engenheiro Marcos Vargas Moura.
O empresário Vagner Motta também tem suas queixas: “Eu também chego em casa estressado, querendo comer e dormir, sem falar muito. Mas a minha mulher, quando me vê com cara de pouco amigos, não pára de perguntar ‘o que foi? Você tá estranho… Aconteceu alguma coisa?’ Isso é um saco! Pior é que ela acaba achando que é outra mulher. Eu, que já estava chateado, me aborreço mais ainda! Com ela, é TPM, cansaço, estresse”, conta Vagner. É… não é fácil a vida a dois!