Todo fim de semana – e não raro nos dias úteis também – é sempre a mesma coisa: enquanto você quer ir à praia, ele quer ficar dormindo num lindo dia de sol. Pior, ele odeia cinema e só quer saber de corrida de cavalos, um programa que pode até ser divertido, mas não se for rotineiro. E quando você está animada para assistir àquele show maravilhoso e ele diz que prefere ficar vendo TV? Esse tipo de desencontro na agenda de programação faz parte da rotina de muitas mulheres. Mas, ao invés de se lamentarem, elas arrumaram uma solução:
saem sozinhas, sem medo de serem felizes.
A professora Márcia Cristina, casada há 31 anos, como muitas mulheres independentes, sai todo fim de semana com as amigas. Freqüenta bares, shows e também viaja. “Cansei de chamar meu marido para sair. Sou independente. Posso muito bem sair sem ele. Vou para barzinho, cinema, teatro… Faço isso há oito anos. Sempre peguei van com um grupo de amigas e saí com elas. Às sextas-feiras costumo ir tomar um chope. O chato é chegar tarde em casa e ter sempre que responder ao questionário do meu marido: ‘estava com quem? comeu o quê?’ Isso às duas horas da manhã! Oras, se quer saber, por que não foi comigo?”. A professora diz que nas vezes em que saiu com o marido, ele foi contrariado, até mesmo para as festas de família. Ela já nem lembra mais qual foi a última vez em que foram ao cinema, juntos. “Sempre vivi muito sozinha. Meu marido nunca se interessou por cinema, teatro, muito menos em sair com amigos. Quando era recém-casada, o programa era ir ao jóquei. É o hobby dele. Depois de um tempo, cada um passou a fazer o seu programa”, conta.
Segundo a psicanalista Adriana Castro de Sá, mulheres que saem sozinhas, sem o parceiro, são mulheres que têm opções na vida, como o trabalho, as festas, os filhos, entre outros, e descobriram o seu mundo interior. “Elas encontraram a liberdade e são mulheres muito inteligentes. Viver a liberdade e o relacionamento não é fácil, é uma arte. A questão é se a pessoa está feliz saindo sozinha”, explica. Mas se ela sente a falta dele, precisa avaliar a relação. “Os homens têm muita dificuldade em ceder, precisam aprender isso. Mas, se eles não querem acompanhá-la, ela deve fazer seu programa sozinha. Afinal, o marido não deve ser escravo dela”, esclarece.
No caso da professora Márcia, ela lamenta o fato de ter se afastado do marido e diz que se pudesse voltar no tempo, teria insistido mais para que ele o acompanhasse. “Você pode ter programas independentes, mas se a ausência dele é em grande escala, isso separa e acaba com o casamento. Os dois têm que ter alguma coisa em comum. Dependendo da saída sozinha, você acaba conhecendo outras pessoas, se envolve e isso não é legal para o casamento”, diz.
Segundo a psicóloga e terapeuta de casais Cristina Milanez, a alma gêmea não existe, mas é mesmo importante que haja uma partilha de interesses culturais e sociais de ambos. “Se a mulher quiser ir a um show sozinha, tudo bem. Mas, se esse hábito se tornar uma constante há algo errado no relacionamento. O parceiro tem que ser de cama, mesa e vida”, explica. Márcia ainda argumenta que o problema da independência feminina é que o casal vai se afastando e o homem tem uma chance maior de perder a mulher. É muito fácil que a mulher se acomode e vá se divertir sem ele, mas a tendência para esse relacionamento é a separação. “Muitos casais se separam porque não cedem, são muito radicais. E as mulheres se conformam rápido demais com um não deles. Vale a pena combinar e negociar as saídas, se ela estiver sofrendo com a ausência dele”, explica a terapeuta Cristina.
A atriz Adriane Matoso, 26 anos, namora há cinco anos e vivia se estressando com o namorado nos fins de semana porque o rapaz queria mesmo era ficar em casa. “Agora a coisa mudou: saio toda quinta-feira para boate ou barzinho. Se ele quiser ir, ótimo! Caso contrário, vou com minhas amigas. É até mais divertido e me sinto mais à vontade com elas. Não é porque estou sozinha que vou trair. Há confiança entre nós”, diz. A psicóloga Cristina Milanez chama a atenção para um detalhe importante. “A pergunta é: a Adriane vai para curtir o show de forró ou vai para paquerar? É preciso haver respeito no relacionamento. É preciso respeitar a ausência do outro. Se ela vai numa boa, ótimo. Mas, ainda acho que se saíssem juntos aproveitariam mais”, garante. E a terapeuta Adriana acrescenta: “As pessoas confundem liberdade com sair beijando todo mundo na boca. Não é nada disso. Não é promiscuidade. É liberdade. As pessoas têm medo de se libertar”.
Finais de semana também eram sinônimos de tormento para a estilista Carol Dias, 27 anos. “Meu namorado queria dormir e eu queria ir à praia. Me enchi. Agora chamo uma amiga e vou. E para todos os programas têm sido assim. Um dia, ele reconheceu que estava sendo injusto e admitiu que não cedia para programa nenhum que eu queria. Mesmo assim, continuo saindo sozinha. Cansei de ficar à disposição dele”, conta. Cristina Milanez diz que o caso da praia no fim de semana é muito comum e indica duas soluções. “A palavra é negociação. Se ele não quer ir à praia e você quer, veja o que ele quer. Ele pode dizer: vou com você, mas à noite iremos sair com nossos amigos para o lugar tal. Isto é negociar. Ou você também pode chamar os amigos que ele gosta e tornar o ambiente agradável para ele. Outra palavra importante: planejamento. Sente com o namorado ou marido e combine como será o fim de semana”, sugere. Cristina Milanez ainda lembra que é preciso priorizar o momento do outro. Se hoje você quer ir à praia, amanhã o parceiro pode querer ir a um show que você não curte muito. Aí, é importante ser justa.