Vale tudo por amor? Essa pergunta já deve ter passado pela sua cabeça ao assistir a personagem de Juliana Paes, Bibi Perigosa, em “A Força do Querer”, da TV Globo.
A trama, elaborada por Glória Perez, é baseada em fatos reais: a personagem foi inspirada em Fabiana Escobar, a ex-Baronesa do Pó que, assim como retrata o folhetim, envolveu-se com o tráfico por apoio ao marido.
Amor doentio de Bibi Perigosa
Na novela, Juliana vive uma relação amorosa e intensa com Emílio Dantas, que interpreta Rubinho. Ele é seu marido há anos e pai do seu filho, mas aos poucos se envolve no mundo do crime e do tráfico de drogas e ela, por devoção ao seu amado, o segue.

Aurora, mãe de Bibi (interpretada por Elizangela do Amaral), é sensata e expõe à filha os exageros que faz em nome do amor que sente pelo marido.
Bibi mente para conhecidos, começa a esconder fatos de sua mãe e acobertar os crimes de Rubinho. Ela acaba desistindo do sonho de se dedicar à carreira no direito e se transforma em uma perigosa integrante do trágico de drogas.
À revista GQ, Juliana definiu a personalidade de sua personagem: “A Bibi é compulsiva, doentia, sofre da patologia de ser necessária para o homem dela.” A condição, chamada amor patológico, ou dependência afetiva, realmente existe e é mais comum do que parece.
Amor patológico: o que é?

Embora as cenas de “A Força do Querer” sejam um pouco mais intensas do que normalmente acontece na vida real, especialistas garantem que os sinais que Bibi Perigosa apresenta são muito comuns em pessoas que sofrem com uma condição vulgarmente conhecida como ” doença de amor“.
“Não é classificada como doença nos manuais de medicina e nem pela ciência, embora seja motivo de estudo. Porém, assim como outros tipos de dependência, prejudica a qualidade de vida do indivíduo”, afirma a psicóloga Marilene Damaso, do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Segundo a definição da especialista, trata-se de um relacionamento em que uma das partes dá atenção exagerada e presta serviços e cuidados à parceria, negligenciando a si. A motivação é o desejo por ganhar algo em troca. “Este indivíduo oferece tudo o que quer receber, mas muitas vezes em vão.”
O amor patológico não constitui um transtorno mental em si, mas sim um conjunto de sintomas e comportamentos que causa prejuízos para o indivíduo. Apesar de acontecer, por vezes, concomitantemente a doenças psiquiátricas e psicológicas – transtorno ansioso, Borderline e muitas outras -, isso não é regra.

Sinais da dependência afetiva
Para o psiquiatra Aderbal Vieira Júnior, também do Proad-Unifesp, existem 3 indícios importantes da condição.
O primeiro deles é a perda da liberdade de escolha. “Por sentir que não há alternativa”, garante. “Muitas pessoas estão aprisionadas em relacionamentos abusivos e, mesmo sabendo que não são saudáveis, não conseguem sair dele.”
A segunda característica típica de dependentes afetivos seria o prejuízo. “Isto é, quando essa relação diminui a qualidade de vida da pessoa”, explica Vieira. Marilene Damaso exemplifica: “A Bibi aumenta o risco da própria vida para atender aos pedidos de Rubinho, embora tenha a mãe e o ex-namorado tentando trazê-la para a realidade.”
O último ponto destacado por Vieira é o empobrecimento de repertório. “A pessoa tem seu universo limitado e deixa de fazer o que gosta, ver pessoas queridas e familiares. O companheiro ou companheira toma todo o tempo daquela pessoa”, conta o psiquiatra.
Damaso comenta, ainda, que exagero e descontrole são outras marcas características de quem sofre amor patológico. “Esse indivíduo não consegue viver sem o objeto ao qual está adicto – no caso, o outro. Mas poderia ser uma droga como outra qualquer”, comenta a especialista.
Quem são as pessoas que sofrem com dependência afetiva?
Os especialistas afirmam que não é possível determinar com precisão o perfil de pessoa que desenvolve esta dependência. Mas existem alguns padrões importantes.
A característica que parece ser constante é a carência de afeto. “Uma das hipóteses é a de que indivíduos que sofreram traumas na fase de desenvolvimento psico-infantil tenham mais disposição para essa condição”, comenta Marilene Damaso.

Baixa autoestima, ego frágil, insegurança, medo de rejeição e dificuldade de lidar com frustrações são outros traços emocionais destas pessoas. Isso não significa dizer, no entanto, que qualquer indivíduo com necessidade maior de afeto irá demonstrar esta patologia.
O diagnóstico, feito por psiquiatra ou psicólogo, é complexo – assim como em qualquer caso de patologia comportamental – e requer análises de padrões muitas vezes sutis.
Bibi Perigosa: vício por afeto

Marilene Damaso analisa que, provavelmente, a personagem de Juliana Paes não aceita voltar com o ex-namorado, Caio (um advogado bem-sucedido e estável), por considerar o relacionamento com ele tedioso e sem graça.
Para a especialista, é comum as pessoas que sofrem com dependência amorosa se apegarem ao prazer da turbulência de um relacionamento conturbado. “É a sensação de fazer parte do mundo do outro, de servir ao outro.”
Assim como Bibi, muitas pessoas com essa condição acabam negligenciando filhos, familiares e trabalho. “Mas vale lembrar que é uma situação sempre repleta de sofrimento. Pois existe dúvida, angústia e sofrimento. No caso de Bibi, é possível notar isso quando ela pensa com preocupação no filho ou entra em contato com a mãe.”
Tratamento para amor patológico

Os especialistas ouvidos por esta reportagem não acreditam em cura, por não se tratar de uma doença propriamente dita. Porém, por ser um quadro que causa sofrimento, é possível fazer acompanhamento psicológico para auxiliar em mudanças comportamentais.
O Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Proad-Unifesp) é um dos programas que recebe pessoas com este tipo de patologia. Além disso, há grupos de apoio, como o MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas), espalhadas por todo Brasil.
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