Por mais popular que se torne, sempre vão existir críticos dizendo que a poesia é algo para uma elite intelectual, pois é muito difícil entender significado dos versos. Para Suzana Vargas, poetisa, mestre em Teoria Literária da UFRJ e pesquisadora da Biblioteca Nacional, isso é um problema mundial. “A linguagem da poesia é especial, obriga o leitor a olhar mais profundamente, carece uma dedicação maior. Ela fala por metáforas como ‘o amor é fogo que arde sem se ver’, de Camões. Além da questão literária, tem a parte emotiva. A poesia mexe muito porque é um modo particular de uma pessoa ver o mundo e que ela exterioriza. E isso pode tocar o leitor de diversas formas. Nem todo mundo está preparado para lê-las”, explica Suzana, também fundadora da Estação das Letras, escola que tem como objetivo difundir a literatura.
Suzana Vargas lamenta a fraca educação literária nas escolas. Segundo ela, são raros os professores preparados e dispostos a falar de poesia com os alunos. O resultado: poucos leitores e poucos consumidores deste estilo literário. “O espaço para tratar poesia é relativo. Estamos retomando o costume de fazer saraus, mas as pessoas gostam de apenas ouvir poesia. Não compram livros, não lêem”, constata.
Faça você mesma
Apesar da leitura de poemas não ser um hábito, existem aquelas pessoas que se dedicam à escrita. E este número cada dia aumenta mais. É muito comum ver alunos matriculados em cursos de introdução à linguagem literária e de técnicas de poesia. O que surpreende é que esses novos escritores têm formações profissionais diversas. Vão da medicina à engenharia. O contador brasiliense Luiz Augusto Tavares, 32 anos, é um deles. Há sete anos faz, como ele mesmo diz, uns “rabiscos no papel” para colocar os sentimentos e experiências para fora. “Mesmo lidando com uma área mais lógica, que é a contabilidade, sempre gostei de escrever. Sinto um prazer incrível em fazer isso. Antes, me censurava muito, entretanto, depois de um tempo, percebi que eu não precisava ser um exímio poeta, bastava deixar minhas emoções fluírem”, conta ele, por e-mail. Para se sentir mais seguro, ele buscou ajuda de professores de literatura, mas por pouco tempo. Em alguns meses, passou a enfrentar o papel em branco com mais serenidade. Ele não mostra as poesias para ninguém, apenas para os conhecidos. “Escrevo para mim e não para os outros”, afirma, categórico.
Por trás de um bom escritor, sempre existe um bom leitor. É a leitura que vai te dando mais instrumentos, ferramentas para sua mente
Para quem acha que tem talento para escrever, mas não faz por excesso de pudores, a poetisa e pesquisadora Suzana Vargas afirma que é possível, sim, desenvolver as capacidades literárias. “A grande dificuldade consiste em não compreender que poesia é uma arte como qualquer outra. Exige estudo, leitura, disciplina, inspiração, talento. Na música, por exemplo, para o sujeito tocar qualquer instrumento razoavelmente bem, ele necessita de muito tempo, e isso pode demorar alguns anos. Na literatura, é a mesma coisa”, explica. Nas aulas que ministra na Estação das Letras, ela costuma fazer exercícios de criação de textos com os alunos, usando poemas, fotos e pinturas como sugestão de temas.
Mas, segundo ela, de nada adianta tentar escrever se não tiver hábito de leitura. Este costume estimula a criatividade. “Por trás de um bom escritor, sempre existe um bom leitor. É a leitura que vai te dando mais instrumentos, ferramentas para sua mente. Quem lê muito, vai ficando cada vez mais exigente e querendo sempre o melhor. A literatura é uma arte simples. Só precisa de lápis e papel”, finaliza. Portanto, mãos à obra!