Eu sou a tal

Conseguir manter a auto-estima sempre lá nos píncaros é, sem dúvida, um feito e tanto. Claro que boas doses de ferro, provenientes da malhação, um bom cabeleireiro e algum dinheiro no bolso, para dar um banho no visual, ajudam bastante. Mas existem certas pessoas que, mesmo sem um terço disso, se acham a oitava maravilha do mundo. Até aí, tudo ótimo. Porque não pode ter coisa melhor do que estar bem resolvida consigo mesma e não precisar de nada para se sentir bem. Só que, no caso, essas criaturas que se julgam tão poderosas podem estar escondendo muito mais do que uma simples falta de humildade.

Todos devem concordar que é irritante entabular um assunto com aquela pessoa que nunca nem ouviu falar de algo chamado modéstia. Por mais que suas bravatas mereçam reconhecimento, ela deveria deixar essa parte com os outros e não com ela mesma. No entanto, o mundo está cheio desses seres que possuem o ego lá nas alturas – inflado às custas sabe-se lá de que gás. “Eu tenho uma prima que é insuportável. Ela é daquele tipo que se for ela que compra algo caro, é porque ela pode, se for eu, é porque sou otária. Se ela compra algo barato, é malandra, se for eu, sou pobre”, irrita-se a jornalista Beatriz Resende.

A megalomania é apenas uma das vertentes dessa gente pseudo-poderosa. A visão deturpada do espelho também faz parte dos sintomas de quem sofre dessa síndrome. Quem nunca notou aquela amiga tecendo os maiores elogios a ela mesma sobre seus atributos físicos? E, convenhamos, a vontade nessa hora é de perguntar se ela está falando da mesma pessoa que você conhece. Mas em nome da amizade… você deixa ela delirar. “Tenho uma amiga que se acha a gostosa. Chega a ser patético ouvir comentários dela em relação a um famoso jogador de futebol, que ela queria pegar, do tipo: ‘deixa ele conhecer a loura aqui’. E você olha e sabe que o cara sai com dez entre dez mulheres melhores do que ela”, conta a estudante Gisele Marques.

Para dar uma boa manutenção na auto-estima, o sexo é ferramenta básica. E não se trata de dar umazinha não, tem que ser sexo na base da calcinha no lustre para baixo ou – quem sabe? – para cima. A médica Andréia Valle confessa que tem uma certa inveja de uma amiga que não sabe o que é ter uma experiência sexual razoável. “Ela sempre é premiada com o “cara”. As trepadas são bárbaras, os parceiros gostosos, carinhosos e lindos, e ela a cobiçada por todos, nunca um cara sumiu no dia seguinte. Quando eu era mais novinha, até olhava para ela com uma certa reverência, achando que ela devia ser muito boa de cama. Hoje, sei que a maior parte das histórias não passa de surto dela”, diz Andréia.

Esse quesito sexo, talvez, seja o que mais mexe com a cabeça e a auto-estima dos homens. Um homem pode até ser duro, mas mandar mal na hora H, não existe um que admita. E se admitir, quase sempre a culpa vai recair sobre os ombros, ou melhor, sobre as coxas, os seios, a bunda e o desempenho feminino. “Homem para dizer que o sexo foi ruim é porque vai dizer que a mulher era caída. Eles todos se julgam especialistas no assunto, basta observar quando comentam sobre o tema. Falam com uma desenvoltura quase patética, porque às vezes você conhece biblicamente o sujeito e sabe que a teoria não casa com a prática”, comenta a designer Alexandra Branco.

O excesso de convencimento pode ser um artifício para esconder muita insegurança embaixo do tapete, assim como a estratégia do menosprezo com o outro. A psicóloga Vera Soumar afirma que dessa forma essas pessoas se sentem mais donas da situação, e acabam se tornando inconvenientes na maioria das vezes. “Quanto maior o nível de insegurança, maior pode ser a necessidade de negar a realidade, até para si mesma. Então, ela diminui o outro e se vangloria, na tentativa de se sentir menos ameaçada por suas dificuldades, por menores que sejam”, diz Vera. Aceitar a realidade não deixa de ser uma coisa difícil. Mas se não nos aceitarmos como somos, a vida fica impraticável. Ninguém é perfeito e a perfeição talvez esteja em enxergar isso.