Foi-se o tempo em que a presença feminina nas oficinas se resumia a calendários na parede. Hoje, as mulheres fazem questão de acompanhar de perto o que acontece com seus carros e, por isso, os estabelecimentos precisaram acabar com a graxa e tomar um banho de loja. Mais clean e agradáveis, eles têm se adaptado para atender a demanda desse público que exige – e exige mesmo! – serviços com atendimento personalizado, compromisso com prazos, produtos de qualidade e, de preferência, que não agridam a natureza.
Uma recente pesquisa da CINAU – Central de Inteligência Automotiva mostra que houve um aumento representativo da presença de mulheres consumidoras nas oficinas nos últimos anos. Em 2005, formavam apenas 33% do público que frequentava esses locais, enquanto, em 2010, essa participação chegou a 46%. Aquele ambiente antes pouco convidativo agora abriga serviços cada vez mais sofisticados. “Hoje, com estruturas modernas que primam por organização e limpeza, as oficinas possuem sala de recepção com revista e café. Além disso, os mecânicos estão uniformizados e preparados para atenderem o público feminino”, garante Antonio Carlos Bento, coordenador do GMA, Grupo de Manutenção Automotiva, que reúne entidades do setor de reposição de autopeças.
A experiência de ter que encarar um homem suado e cheio de graxa, explicando o defeito da rebimboca da parafuseta que impedia o seu carro de ligar, já é coisa do passado. Oficina agora é sinônimo de pátio e banheiros limpos e profissionais uniformizados e de barba bem feita. “O atendimento é ainda mais importante do que a própria infraestrutura. Nós orientamos os colaboradores sobre como lidar com as mulheres. Elas são muito mais detalhistas e criteriosas”, analisa Felipe Miranda, gerente regional da rede de oficinas Dpaschoal, no Rio de Janeiro. “Para evitar a desconfiança, temos o serviço de revisão interativa, no qual os mecânicos as convidam para verificar com os próprios olhos e interagir no reparo do carro, comparando as peças danificadas com outras em perfeito estado. É uma demonstração de respeito a elas”, conta o gerente.
O que mais incomoda você é entrar naquele ambiente em que, das dez presenças, dez são do sexo masculino e se viram para analisar a estranha no ninho? Isso também tem sido considerado pelos proprietários das oficinas. “O tato com a mulher é muito mais minucioso, porque elas são mais detalhistas e sensíveis. Não se deve encará-la e tudo precisa ser explicado da maneira mais didática possível, convidando-as a se interessar sem menosprezo, até porque as mulheres estão menos acostumadas com o carro”, ensina Antonio Cesar Costa, consultor técnico da rede Oficina Brasil.
Outra iniciativa para aproximar as mulheres é despertar o interesse delas pela mecânica do automóvel. “Realizamos cursos voluntários de mecânica básica através de um cadastro disponível nas lojas. Ali, em meio a tantas outras mulheres, elas se soltam e se sentem à vontade para perguntar sobre tudo aquilo que têm curiosidade de saber sobre os veículos”, diz Felipe Miranda. Depois do curso, o próximo passo é chegar às oficinas já identificando o problema para impressionar o mecânico e fugir dos orçamentos supervalorizados.
Outro ponto de interesse feminino é a questão ecológica. Os pneus, as peças e também o óleo e a graxa utilizados nos reparos devem ter seu descarte feito de maneira seletiva para não gerar impactos à natureza. “Em cada oficina, além do cantinho da criança, temos também o cantinho verde, onde guias explicam todo o processo de descarte dos resíduos e materiais utilizados”, conta Felipe Miranda. Antonio Cesar Costa complementa: “A mulher é muito mais sensível às preocupações ecológicas, por isso estamos adaptando as lojas para realizar um serviço de coleta diferenciada da água e do óleo utilizados, separando-os para o descarte adequado”.
O nível de exigência feminino, segundo os especialistas, resulta em uma maior fidelização. Assim como fazemos para encontrar o parceiro ideal, depois de uma rigorosa seleção e uma avaliação minuciosa, a confiança adquirida ganha a cliente. “Se o tratamento da mulher no primeiro atendimento for muito bom, ela se sente segura e retorna sempre, algo que o homem não faz”, compara Antonio Cesar Costa.
E você, já sentiu que estava sendo enrolada? Conte pra gente!