Esse sentimento, aliás, tem um enorme poder de agrupamento, vide as guerras, os jogos de futebol em clima de revanche e até as comunidades do Orkut. Na rede, são mais de mil comunidades do tipo “eu odeio” para todos os alvos de raiva, seja ela pessoal (“eu odeio o Bush”, “eu odeio o Lula”), genérica (“eu odeio velho tarado”, “eu odeio homem complicado”) ou situacional (“eu odeio quebrar a unha”, “eu odeio chegar sozinha”). A maior delas, “eu odeio cigarro”, reúne mais de 1.100.000 pessoas em torno da repulsa ao tabagismo. Muita gente freqüenta essas comunidades em busca de relações pessoais que tenham como intersecção justamente esse sentimento aparentemente tão anti-social.
A influência da raiva no desenvolvimento de doenças cardíacas é comparável a fatores como a obesidade e o tabagismo
Lidar com o ódio e a raiva não é tarefa fácil, sobretudo por se tratarem de emoções tão contra-indicadas ao ser humano, seja no aspecto moral ou mesmo físico. Irmã do sofrimento, a ira pode desencadear problemas de saúde que vão de crises alérgicas a fulminantes ataques cardíacos. “A cada episódio de raiva, o organismo libera uma carga extra de adrenalina no sangue, aumentando o número de batimentos cardíacos. A repetição desses casos pode gerar problemas em geral associados ao infarto, como a alteração do ritmo cardíaco, aumento da pressão arterial e uma súbita dilatação das placas de gordura que, porventura, estejam nas artérias”, comenta o psiquiatra Geraldo José Ballone. Ele garante que a influência da raiva no desenvolvimento de doenças cardíacas é comparável a fatores como a obesidade e o tabagismo.
Reprimir a raiva, no entanto, não é a melhor saída. Nem mesmo gritar, morder ou manter um saco de pancadas pendurado no quarto. “É mais provável que a agressão tenha o efeito oposto da catarse que se pretende e acabe inflamando ainda mais o sentimento. O importante é ter serenidade e controle suficientes para não sentir raiva. Não permitir que mobilizemos valores para os objetos causadores de raiva ou ódio para não desenvolver o sentimento”, defende o Dr. Ballone. Para isso, segundo Silvana Martani, o caminho é a racionalidade e a ponderação. “Primeiro, é fundamental reconhecer a raiva e identificar sua origem, honestamente. É preciso entender o que levou o outro a nos frustrar, mesmo que isso não signifique aceitar. Já esse simples exercício de compreensão enfraquece a raiva e nos ajuda a sublimar o sentimento”, conclui.