Irresistível fofoca

A fofoca faz parte da natureza humana. Alguns até dizem que não gostam, mas no íntimo não tem quem não arregale os olhos e abra bem os ouvidos quando o que está no ar é um bom fuxico. Amaldiçoada por uns, filosofia de vida pra outros, a fofoca é assim, faz parte da história da humanidade. Atravessando os séculos, já derrubou poderosos, detonou escândalos e deve ter arrasado com muita gente boa, ou seja, maior que sua força só a do dinheiro. Ela pode estar camuflada no mistério dos espiões, no glamour do jornalismo e sem disfarces no seu estado mais bruto: o mexerico da vizinha. Mas seja como for, a verdade é uma só – tudo não passa de fofoca, futrica, babado…

Atire a primeira pedra quem não fez, pelo menos, uma fofoquinha. A intriga pode estar bem mais perto do que pensamos. Quem não teve o sádico prazer de dedurar o irmãozinho que está fazendo besteira? Pois, com isso, desde cedo você está praticando o ato de fofocar. “A criança está tentando mostrar para a mãe que ele não faz aquilo, sendo então merecedor de mais amor e atenção por parte dela”, explica o psicanalista Jayme Bisker. Mas sadismos infantis à parte, a fofoca é algo incontrolável para certos seres humanos, os chamados ‘línguas de trapo’. “Minha irmã é um túmulo. Se você contar um segredo para ela, pode ficar tranqüilo, só vai ficar entre vocês e a torcida do Flamengo”, brinca o biólogo Mario Barbosa.

Mais do que um mero comentário, a fofoca pode ser vista como um mórbido prazer de relatar o que está acontecendo na vida do outro. “A fofoca, geralmente, é uma coisa ruim que está acontecendo com alguém, então reflete o prazer de ver o outro se dar mal”, afirma Jayme Bisker, ressaltando ainda que ela também é uma maneira de dar vazão à agressividade e à perversidade. “Tenho uma prima que adora saber e repassar aquelas notícias ‘sabe quem separou?’, ‘o fulano largou a fulana por outra mulher’, ela delira quando essas coisas acontecem”, conta, impressionada, a estudante Ludmila Neves. Mas vamos deixar de lado a hipocrisia e assumir que no fundo todo mundo gosta de saber – nem que seja por curiosidade – de um babado forte. Em certas tribos africanas a fofoca é vista como, praticamente, um serviço de utilidade pública. É normal seus membros fazerem a resenha do dia, afinal, sem telefone, TV, internet e revistas de fofoca, só com a propaganda boca-a-boca mesmo.

Outra polêmica é se o sexo feminino é realmente mais fofoqueiro do que o masculino. “Claro que as mulheres são mais fofoqueiras, principalmente quando o assunto é outra mulher”, acredita o empresário Olavo Barros. Jayme Bisker acredita que a mulher deter o monopólio da fofoca, não passa de lenda. “Falar dos outros é uma coisa que faz parte do ser humano, independe do sexo”, diz o psicanalista. No entanto, para o sociólogo Jorge Alberto Machado, formado pela USP e PhD pela Universidade de Granada, a fofoca é, sim, típica da mulherada. “É um traço claro até mesmo em determinados povos indígenas, quando somente as mulheres se reunem no fim do dia para ‘tricotar’, excluindo os hmens da roda. Os homens, por sua vez, são naturalmente mais reservados, até mesmo por temerem agressões físicas”, afirma o sociólogo, associando inclusive a caracterísca “feminina” da fofoca ao fato de que muitos fofoqueiros da imprensa são afeminados. “Isso não quer dizer que quem faz fofoca é homossexual e que hetero não faz fofoca, por ter mais ética ou algo assim”, assinala.

A fofoca também tem seu caráter de competição. O sociólogo acredita que as mulheres sejam fofoqueiras ativas exatamente por isso. “As mulheres competem em tudo: na beleza, na roupa, no amor… “, polemiza Jorge Machado. Para a professora Jussara Gomes, esta teoria é puro machismo. “O homem é tão fofoqueiro quanto a mulher. A diferença é que eles só falam entre eles e sobre a mulher dos outros. Aí não tem como espalhar, senão apanham”, esbraveja.

Mas há quem dê a vida por uma intriga. Para estas criaturas de língua solta, comentar sobre a vida alheia é praticamente um esporte. Atividade involuntária para uns, profissão para outros, os adeptos da fofocologia estão aí em vários canais da televisão brasileira, ganhando a vida e fazendo valer a máxima: “quem conta um conto aumenta um ponto”. Para quem duvida, está aí o Nelson Rubens que não deixa mentir. E se você não está ligando o nome à filosofia, ele é aquele que aumenta mas não inventa!