Marcas de violência doméstica são apagadas por tatuadora que recupera pele e alma

De acordo com levantamento do Ligue 180, número da Secretaria de Políticas para as Mulheres, do Governo Federal, 77% das mulheres que relatam viver em situação de violência sofrem agressões diárias ou semanais. Em mais de 80% dos casos, o agressor é um homem com quem a vítima tem vínculo afetivo, estando entre eles namorados, maridos ex-companheiros ou amantes. Este tipo de violência, além dos impactos emocionais e psicológicos, também deixa cicatrizes na pele. Foi para amenizar a dor em forma de marca que a tatuadora de Curitiba Flávia Carvalho decidiu agir.

Veja também:
Como é para você andar sozinha na rua? Vídeo alarmante mostra
Famosas que foram vítimas de violência doméstica: quem são?
Casal se diz vítima de preconceito e faz ensaio com cão para protestar

Flávia, idealizadora do “A Pele da Flor”, é Curitibana e foi vítima de violência doméstica pela primeira vez na adolescência, quando tinha 15 anos. A partir desse momento, a temática passou a fazer parte da vida dela. Depois de uma cliente a ter procurado para  cobrir uma cicatriz com tatuagem, a profissional pensou o projeto.

De acordo com entrevista concedida ao site da BBC e ao BrasilPost, a cliente havia sido agredida em uma boate por homem porque se negou a beijá-lo. Ao sair do banheiro, ela foi golpeada com um canivete e ficou hospitalizada por um tempo. O resultado físico foi uma cicatriz grande e visível que a impedia de usar biquíni e se envolver com outras pessoas. “Ver que aquela tatuagem foi transformadora na vida da mulher me motivou”, conta Flávia.

Projeto “A Pele da Flor”

A ideia surgiu com o propósito de transformar cicatrizes oriundas de violência doméstica em tatuagens, como uma ferramenta para resgatar a autoestima das vítimas. Sem sucesso quando procurou ONG, Flávia apresentou o projeto à prefeitura de Curitiba, que acreditou nos resultados positivos e a apoiou.

Poucos dias após a divulgação do projeto, a tatuadora já havia recebido mais de 40 mensagens de mulheres contado suas histórias.

A seguir, confira as mais chocantes, de acordo com a tatuadora.

Vítimas de violência doméstica

“Uma menina que com 17 anos namorou um rapaz mais velho, viveu meses de relacionamento abusivo e, quando quis terminar, ele marcou um encontro com ela, eles começaram a brigar, ele a esfaqueou várias vezes no abdômen e a violentou sexualmente de tal forma que ela teve laceração completa do períneo e teve que passar por cirurgias, colocar dreno e ficou vários dias na UTI. Ela é tão jovem e ficou com tantas marcas, mas o agressor é réu primário e ainda está solto”.

“Outra sofreu tentativa de homicídio. Ela foi esfaqueada oito vezes, perto do coração, ficou até na UTI. Ela tinha terminado o relacionamento com o namorado, que a agredia, e aí um dia ela estava indo para o trabalho, e ele a atacou. Depois (ele) se matou. Ela tem várias cicatrizes, mas o que mais a incomoda é uma na perna, porque ela não pode usar saia ou shorts”.

“Uma professora foi atacada por um aluno. Ele a esfaqueou 16 vezes e ela tem marca no braço e nas costas”.