O bom e velho amasso

Começo de namoro é sempre assim. Do olhar para o beijo, do beijo para a mão, da mão para outras partes e… a coisa já está pegando fogo. É inegável que o popular amasso, também conhecido como sarro, seja uma delícia: a combinação de adrenalina e ansiedade faz a cabeça – e outras coisas – ferverem. Mas, depois de um certo tempo, parece que jogaram água na fogueira e as coisas esfriaram. Os beijos sufocantes, os afagos calientes e todas as preliminares ficaram em segundo plano e, agora, parece que o que interessa é ir “direto para os finalmentes”. Mas, se trocar o muro pela cama pode parecer mais prático, um bom sarro é sempre insubstituível.

Tudo bem que o amasso não é propriamente o elemento mais importante de uma relação a dois, mas há quem não hesite em colocar na balança as vantagens e desvantagens de um relacionamento estável – e morno – quando a ausência de uma boa “pegada” começa a pesar. “Caí na tentação de trair meu namorado simplesmente para matar as saudades dos amassos de um ex-caso. Comecei a me questionar sobre o que era melhor: ter um cara apaixonadérrimo do meu lado ou outro que, apesar de inconstante e nem tão presente, me fizesse subir pelas paredes”, lembra a dentista Paula Lima. Nem um, nem outro. Depois de algum tempo de garimpagem, Paula acabou encontrando o meio-termo. “O Rafael é o que eu chamo de namorado dois em um. Carinhoso e companheiro nas horas certas, ele também não perde uma única oportunidade de me dar uns agarros. Os porteiros devem se divertir com as câmeras do elevador. É o lugar preferido dele!”, diverte-se.

A publicitária Sabrina Neri afirma que existem na praça até mesmo alguns homens especializados na coisa. “Quer uma prova disso? Namorei um cara que era tudo de bom. Ele tinha um jeito de chegar em mim, nossa! A mão dele fazia loucuras! Ia a Júpiter e voltava toda vez que a gente saía e ele vinha me deixar em casa. Ficávamos quase uma hora com o carro parado na minha porta, só nos despedindo”, lembra. Mas, quando eles resolveram entrar e subir, tudo se transformou. “Um muxoxo, um desânimo, uma falta de jeito impressionantes! Nem parecia o mesmo cara. Realmente, me decepcionei”, confessa. Mas, se você acha que ela chutou o rapaz para escanteio, se engana. “Simplesmente passei a não convidá-lo mais para subir. Ficamos só na base dos amassos no carro, no estacionamento, nos cantinhos da vida. Ele estranhou no princípio, mas percebi que ele também gostava mais daquilo do que do fato propriamente consumado. Durou cinco meses nesse esquema e foi ótimo!”, garante.

Mas nem todos os homens aceitam essa história muito bem. Não que eles não gostem de um bom sarro, mas quando as coisas tomam o rumo do relacionamento fixo, alguns conceitos também mudam. “Quando comecei a sair com o Lucas, a gente vivia num fogo impressionante. Ir para o mirante era o programa de todo o fim de tarde. Ficar a sós na sauna do prédio, então, era um perigo, porque a gente era capaz de botar fogo no condomínio inteiro”, conta a fisioterapeuta Verônica Magalhães. O problema é que o tempo foi passando, a bateria foi descarregando e o negócio começou a ficar meio devagar. “Então, recentemente, eu fui reclamar com ele que há muito tempo a gente não ia ao mirante, e ouvi a seguinte pérola: ‘Aquilo não é lugar pra gente. Eu tenho sempre a impressão de que alguém vai sair correndo pelado de dentro de um carro’. Piada, não? Ainda tive que ouvir ele me explicar que a intenção dele era me preservar, que ele não queria me expor me levando ‘pra um lugar daqueles’. Muito bom! A única coisa que ele esqueceu de me perguntar é se eu estava a fim de ser preservada, né? Morro de saudades de ver os vidros do meu carro embaçando”, confessa.

Ao contrário do que se pensa, o tempo também pode ser um grande aliado para quem sabe aproveitar tudo o que ele pode oferecer: intimidade e conhecimento podem se transformar em ingredientes poderosos para um sarro fantástico. “Não acredito que o sarro diminua com a estabilidade da relação; isto é, quando a relação descamba para a monotonia. Isso é sintoma típico de falta de imaginação, ou de vontade mesmo”, garante o químico Flávio Menezes. Para ele, com o passar do tempo, o sarro só tende a ser melhor. “E para os que acham que já fizeram todos os tipos de sarros possíveis e imaginários, uma pitadinha de imaginação não faz mal a ninguém. Vale tudo: sarro na sala, no carro ou no quarto dela, preferencialmente se os pais estiverem no quarto ao lado, para a situação ficar mais emocionante. Vale, é claro, aquele sarro impetuoso enquanto a mulher faz uma comidinha. Sarro na cozinha é o máximo. Só tem que ter cuidado para não queimar a comida”, recomenda.

A estudante Juliana Sá viu como é difícil chegar a um equilíbrio. Enquanto a maioria se queixava de falta, ela sentia na pele os efeitos do excesso. “Eu namorei um cara que não me deixava em paz. Quando eu ia dormir na casa dele era um inferno. Tudo bem, eu adoro sexo, mas tudo tem um limite! Eu queria dormir e ele não me deixava em paz. E esse fogo era em qualquer lugar. No cinema, então, era uma coisa desesperadora. Eu tinha a impressão de que ele tinha umas oito mãos! A gente ia ao shopping, parava no estacionamento e tinha que dar aquela encostadinha no capô do carro. Acho que isso aconteceu de tanto que eu reclamei do meu caso anterior, que perdeu completamente o frisson quando o namoro se estabilizou”, recorda. Depois de ter passado pelos dois opostos, ela hoje se diverte escutando as reclamações das amigas. “Elas vivem suspirando, querendo voltar no tempo e aproveitar de novo todo aquele entusiasmo de começo de namoro. Mal sabem elas como pode ser exaustivo manter esse ritmo por tempo indefinido”, garante.

Apesar das paixões serem sempre fulminantes no cinema, a vida nem sempre imita a arte. Que sarro é bom, todo mundo sabe. Difícil mesmo é saber como manter o fogo aceso e, de preferência, sem se queimar.