O humor de Ingrid Guimarães > Cócegas

Bolsa de Mulher – Quanto tempo você e a Heloísa levaram para escrever a peça?

Ingrid Guimarães – Eu já tinha muitos esquetes e personagens na manga há muitos anos. Eu cheguei a fazê-los em testes e eventos. Criei outros exclusivamente para a peça e alguns a gente escreveu juntas. Tudo aconteceu em mais ou menos um ano, desde a primeira vez que a gente se reuniu. Eu fazia um espetáculo e a Heloísa fazia um outro, na época em que a gente se reuniu. Foi tudo fluindo, porque acho que era um encontro que tinha que ser mesmo.

BM – Você imaginava que ia dar tão certo?

IG – A gente nunca imagina, né? Olha só, eu comecei num teatrinho pequeno de sexta a domingo. Agora, as sessões são de quinta a domingo, sendo duas no Sábado, e na segunda e terça-feira fazemos sessões fechada para empresas. Tudo aconteceu em um mês. A bilheteria está vendendo entrada só para meados de agosto.

BM – O Teatro Cândido Mendes tem apenas 133 lugares. Vocês vão para um teatro maior?

IG – Vamos em setembro. Não queria que as pessoas ficassem chateadas porque não conseguem ingressos. Vamos ficar em cartaz no Rio no mínimo até o final do ano. Vai dar tempo para todo mundo assistir. Você sabia que quanto mais tempo a gente fica em cartaz, melhor a gente faz? A peça tinha uma hora e 20 minutos e hoje são duas horas de espetáculo, pois aumentamos o número de risadas e cacos. Cacos são as coisas que a gente bota que não estavam no texto. Crio também a partir da troca com a platéia. Adoro fazer a cena com o público. Quando alguém fala “atchim”, eu respondo “saúde!”.

BM – Vocês pretendem viajar com a peça?

IG – Vamos. Eu já viajei muito com teatro pelo Brasil. Viajei com “Confissões” durante três anos e depois com um espetáculo chamado “Duas mãos”, que fiz e escrevi com a Carol Machado. Fomos, inclusive, indicadas para o prêmio Shell como autoras. Eu tenho orgulho porque sou conhecida no Brasil pelo teatro, que é o caminho inverso das pessoas que começam na TV e vão para o teatro.

BM – Com qual personagem da peça você mais se identifica?

IG – São tantos personagens… é bem difícil. Saio exausta do espetáculo. Preciso de um preparo físico e vocal incrível. O meu predileto é o da neurótica, a mulher que faz terapia de grupo. Ela está sem namorado há cinco anos e vive repetindo: “Eu não sou neurótica, eu sou ligada!”. Esse é meu número mais novo e eu criei para o filme que fiz. Eu escrevi o meu próprio teste e acabei incluindo umas frases minhas também nesse filme. Eu me empolguei tanto que resolvi colocar também na peça. Gosto muito de fazer e a mulherada se identifica que é uma loucura.

BM – Você já fez análise?

IG – Faço há quatro anos.

BM – Em grupo?

IG – Não, não é em grupo, mas eu tenho várias amigas que fazem e elas me contaram como é. Eu achei divertido porque, na peça, faço como se as pessoas da platéia fossem os meus colegas de terapia .

BM – Como surgiu o quadro das “cachorras” na boate?

IG – Comecei a criar as cachorras no banheiro de uma festa. Fui lá para fazer xixi e passar batom e comecei a prestar atenção no papo da mulherada. Peguei o costume de ir pro banheiro sempre que as festas ficavam chatas. Entrava e fingia que estava passando batom pra poder ficar ouvindo os papos. Depois, pegava correndo um guardanapo para escrever tudinho. Para compor o movimento do personagem, ia também para uma pista de dança e ficava observando os movimentos. Aí eu pegava o movimento e triplicava para fazer uma visão crítica.

BM – Como surgiu o nome “Cócegas”?

IG – Eu que inventei. Eu queria um nome que fosse generalizado, um convite: “Venham se divertir!”. Aí botei “Cócegas” e, por isso, chamei cinco diretores. Porque são nove pequenas peças, nove esquetes. Cada diretor dá seu tempero e o espetáculo fica com a cara de todo mundo. Acho que fica uma coisa diversificada, são vários tipos de humor. O quadro do Maricson, por exemplo, é meio dramático, é tragicômico. Eu acho que a tragédia e a comédia estão muito próximas. Qualquer cena que você vê na peça é dramática também… a neurótica se mata no fim. Tudo é trágico. A tragédia e a comédia estão no limiar. Por isso mesmo é que eu falo sempre que é muito difícil fazer tragédia e comédia.

BM – Qual a diferença entre o drama e a comédia?

IG – O drama é apenas uma imitação da vida e a comédia é uma imitação crítica da vida, em que você ri daquilo que você reconhece, ou seja, você ri de seus erros e vê como você é perdoável. Para mim, a comédia é uma coisa muito séria.

BM – De onde vem a tua amizade com a Heloísa Perissé?

IG – A gente se conheceu há dez anos numa oficina de humor na Globo. Fizemos o “Chico Anysio Show” juntas, que foi a primeira coisa que eu fiz para a televisão. Nós nos distanciamos um pouco na época em que ela foi morar nos Estados Unidos, mas voltamos a nos encontrar depois que ela voltou. Marcávamos de jantar no restaurante japonês uma vez por semana. Nos encontramos no “Laboratório de humor”, um projeto idealizado por Toninho Reis, que tinha vários tipos de comediantes fazendo suas respectivas esquetes. As nossas cenas no projeto já eram engraçadíssimas, resolvemos nos unir e fazer uma peça juntas.

BM – Existe uma grande afinidade entre vocês, não é?

IG – A gente fala tudo. É muita intimidade, é uma trajetória parecida. Nós temos uma carreira autoral, escrevemos nossos próprios textos, já fizemos muito teatro e recebemos prêmios também. Acho que optamos por um caminho mais difícil, que é fazer o nosso e isso está sendo recompensado hoje.

BM – Vocês estão pensando no “Cócegas 2”?

IG – Além de pensar no “Cócegas 2”, a gente pensa em dar uma revisada no futuro, incluir algum esquete. O nome é “Cócegas” porque não tem compromisso com nada, a não ser divertir – e de uma maneira inteligente. A gente fala de coisas sérias de uma maneira leve, que é a forma mais fácil de entrar no ouvido das pessoas.