Há mais de 15 anos, o médico japonês Nobuo Kurokawa observou que muitas de suas pacientes do sexo feminino e de idade avançada vinham apresentando sintomas similares, como depressão, problemas de pele, úlceras, asma e pressão alta. Ele ainda notou outro aspecto que era comum a todas: seus maridos haviam se aposentado há pouco tempo. Foi então que o especialista diagnosticou a Síndrome do Marido Aposentado, nome dado ao processo pelo qual passam algumas mulheres cujos esposos deixaram sua rotina de trabalho e passaram a ficar o tempo todo em casa.
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Kurokawa foi o primeiro a montar um grupo de apoio terapêutico a essas esposas, que hoje já chegam a três mil no Japão. Ele acredita que 60% das mulheres mais velhas sofrem da SMA e que, se for ignorada, a doença pode tornar-se incurável.
Mas não é só no país oriental que as esposas são de alguma forma afetadas pela aposentadoria dos maridos. Segundo a psicóloga Marisa de Abreu, o fenômeno acontece porque há uma mudança desconfortável na rotina da mulher. “Enquanto o marido trabalha e passa o dia fora de casa, a esposa organiza sua rotina contando com esse tempo longe do marido. Quando ele passa a ficar mais tempo em casa, sua presença ocupa um espaço não esperado. Agora, ele fica perguntando por coisas, solicitando outras, fazendo barulhos que não existiam antes, e isso passa a incomodar a esposa”, explica.
Muitas apresentam irritabilidade e mudanças de hábito, como passar mais tempo fora de casa ou isolar-se em um cômodo. Mas, conforme identificou o médico japonês, os sintomas podem se estender a diagnósticos mais sérios e, nestes casos, exigem um tratamento mais complexo.
Marisa diz que o acompanhamento psicológico é recomendado para que haja uma adaptação da mulher à nova situação. “Um treino de assertividade [que melhora o convívio social e diminui a agressividade] pode ser muito útil, pois irá ensiná-la a falar o que quer ao marido de forma elegante e, assim, não se sentirá abafada em seus sentimentos”, esclarece. Além disso, a especialista acha importante que o próprio esposo entenda que sua aposentadoria está afetando a companheira e, a partir daí, tente transformar estes momentos juntos em algo prazeroso aos dois. “Ele deve mostrar a ela que agora vão ter mais tempo para fazer coisas juntos e que isso pode ser muito legal”, indica.
A Síndrome do Marido Aposentado pode acabar com o casamento caso seja ignorada, uma vez que a atitude ríspida da mulher pode provocar uma reação negativa do homem e, assim, gerar uma bola de neve, tornando a convivência intolerável. Porém, ela pode ser evitada. “A simples consciência de que este é um risco e a disposição de evitar estes problemas pode ajudar tanto o marido como a esposa a interagirem melhor. Caso considerem que a ajuda profissional é bem vinda, um psicólogo de casal poderá ajudar neste processo”, aconselha Marisa.