Por um lado a comodidade, a falta de compromisso, o prazer garantido. Por outro, o sexo por deleite, sem carinho, automático e cobrado. E essa cobrança é em dinheiro, um valor a ser pago em “cash”, na hora. Para a maioria dos homens, pagar por sexo é normal, fácil e prático. Para as mulheres que se rendem aos encantos dos anúncios, é a certeza de um sexo gostoso e diferente do que estão habituadas, mas com o risco de a auto-estima descer para o dedão do pé e a cabeça pirar. Ou não.
Triste e revoltada por ter sido largada pelo namorado e descobrir que era traída há muito tempo, Flávia Gama decidiu sair com as amigas e foi parar numa boate feminina com shows eróticos. “Eu enlouqueci com aqueles deuses dançando e se esfregando em mim. Me senti no paraíso. No final da noite, não resisti e peguei o telefone de um deles”, lembra ela, que demorou alguns dias para ter coragem de ligar. Movida pela fantasia de ter bom sexo e excitada por estar fazendo algo proibido, ela ligou, combinou tudo e foi para um motel esperar, segundo ela, o seu objeto de prazer. “Foi divino e maravilhoso. A melhor transa que já tinha tido. Ele me tratou como uma rainha, me fez descobrir lugares em meu corpo que eu nunca imaginava serem zonas de prazer”, conta Flávia, que só se sentiu constrangida quando percebeu que ele olhava para o relógio. Apesar do desconforto de pagar pelo serviço prestado, Flávia confessa que fez disso um hábito, o que ela justifica por ter se sentido traumatizada com sua última relação. “Eu não queria saber de me envolver com homens e isso foi muito bom para mim. Aprendi a fazer muitas coisas diferentes e hoje me sinto mais segura para me envolver e seduzir quem realmente estou interessada”, finaliza.
Satisfazer amigas carentes e mal amadas foi o que levou Fernando a ser garoto de programa. Ele é casado há quatro anos e se diz completamente apaixonado pela esposa. “Minhas amigas me procuravam para transar porque suas companhias não eram boas nesse quesito. Comecei a perceber que esse era um problema geral da mulherada que agora está exigindo o seu prazer”, relata ele, que passou a cobrar por seus serviços por sugestão de uma amiga que se sentiria mais a vontade se pagasse pelos encontros. “Na realidade, acho que era mais uma fantasia dela, mas achei a idéia ótima e fui embora. Comprei um celular só para isso e coloco anúncios no jornal. Como faço o meu horário no trabalho, posso conjugar bem as duas profissões. Além do mais, programas à noite, só pelo triplo do preço, pois dá trabalho mentir para minha esposa sobre a minha saída”, descreve. Fernando poderia ganhar mais, mas não transa com homem de jeito nenhum. Cobra R$ 100,00 a hora e tem cinco clientes fixas, sendo que duas delas foram os próprios maridos que o contrataram. “Eles já não estavam mais dando no coro e preferem pagar a perder a mulher. E divertem-se assistindo a esposa ser bem devorada”, brinca.
O preço do sexo é muito variável. No mercado tem oferta que não acaba mais, porque a procura é grande. E tem para todos os gostos e bolsos. Paulo Figueiredo é dono de uma das maiores termas do Rio de Janeiro, um negócio administrado pela família, pois ele conta com a ajuda de sua mulher e filho. “O nosso esquema de trabalho é 50% para elas e 50% para mim, que dou toda a infraestrutura. Tenho suítes que podem custar até R$ 1.500,00/hora. O preço vai depender do que o consumidor desejar”, explica. Paulo tem um critério rigoroso na escolha e só trabalha com meninas “top de linha”, de preferência universitárias e com conhecimento de outra língua. “Queremos garotas com o mesmo nível de nossos clientes. Aqui, elas conversam sobre qualquer assunto, não vão lá só levar seus corpos”, diz ele, afirmando que muitas delas são casadas e têm filhos, e seus maridos nem imaginam onde elas passam as tardes.
Comodidade, prazer, variedade e falta de compromisso: eis a fórmula perfeita para a maioria dos homens. O engenheiro Mauro sai com garotas de programa há muito tempo, o que para ele, além de ser natural, já faz parte do seu lazer. “É um mero relaxamento, não me sinto culpado. Gosto pela facilidade, variedade e principalmente a possibilidade de ter sexo sem compromisso, sem o perigo de magoar uma mulher, por não querê-la novamente”, confessa. Já o comerciante Ronaldo é casado, mas sai com garotas de programa desde que “o sexo caseiro chegou a zero”. Como não gosta de variar, escolheu uma mulher bonita e carinhosa e há cinco meses os dois se encontram com freqüência. “Gosto de amar uma mulher de cada vez”, admite ele, que é um apaixonado declarado e achava que jamais poderia se envolver com uma garota de programa. “Triste engano. Eu nunca aprendi a usar uma mulher, pagar e esquecer”, confidencia.
Motivada por uma antiga fantasia sexual de ter um homem aos seus pés fazendo tudo o que ela queria, a advogada Lisane Santos procurou um garoto pela internet. “Queria ver a foto antes, precisava se encaixar com o meu padrão de beleza. Achei o meu sonho de consumo e combinei tudo. As cinco primeiras vezes que saímos foram ótimas, minha relação com meu marido até melhorou e, justamente por isso, passei a me sentir mal, suja e leviana”, lembra. Lisane se sentia envergonhada por ter descoberto prazeres com outra pessoa e, ao mesmo tempo, querer realizá-los com seu marido. “Tive apenas mais duas experiências, não agüentava mais a confusão que eu estava fazendo com a minha cabeça. Me considerava uma prostituta também. Nunca mais saí com garotos de programa”, relata ela, que ainda se considera despreparada para esse tipo de transa. Segundo Lisane, a sensação de ser promíscua a torturou por muito tempo e só com a ajuda de um psicólogo ela se convenceu de que a sua experiência em pagar por sexo havia sido necessária para ultrapassar um período crítico.
Assim como Lisane, a maioria das mulheres não encara o sexo pago com naturalidade. Para o sexólogo Marcelo Nunes, as razões desse conflito são nossas velhas conhecidas: a educação repressora, que trata o sexo como tabu, e a cultura machista, que ainda reprime a sexualidade feminina ao mesmo tempo em que estimula a masculina. “O resultado é que as mulheres se sentem culpadas quando fazem algo não-convencional. Acreditam que infringiram seus princípios morais. Por outro lado, para os homens, pagar por sexo é uma forma ótima de evitar cobranças e avaliações. Com uma profissional, o valor e o serviço são combinados de antemão e a satisfação é garantida no final. Não precisa se preocupar com o seu desempenho e nem em ligar no dia seguinte”, explica ele. O sexólogo acrescenta ainda que a insegurança masculina e o medo da rejeição são, para os homens, os fatores prioritários na busca de profissionais.
Pago, de graça, por amor ou apenas tesão, não interessa. O que realmente conta é ficar bem com seus atos. Satisfazer fantasias pode ser muito excitante e até ajudar a sua relação. Mas se você ainda não se sente preparada e ainda olha para isso como se fosse um bicho de sete cabeças, não se violente. Há outras formas de conhecer e apimentar o sexo… e que podem ser de graça.