Essa é a data ideal para gerar nas pessoas sentimentos confusos e inúmeras saias-justas. Será que vão inventar também um dia para os ficantes, os enrolados, os tico-tico no fubá? Essa semana lidei com diversas situações, e acho bastante curioso como as datas marcadas para se comemorar alguma coisa são sempre uma grande chatice para muitos. Somos obrigados a estar no clima de celebrações e, muitas vezes, não estar é interpretado como pouco romantismo ou pouco amor e pode gerar dores e decepções profundas nos mais românticos.
Dia das mães – com a atual configuração de família nem sempre os papéis de pai e mãe são ocupados respectivamente por um homem e uma mulher. Muitas vezes o pai tem função de mãe e vice versa.
Quantas crianças sofrem porque têm uma mãe ausente ou, que não pode muitas vezes comparecer na festinha da escola, ou ainda aqueles que não têm mais suas mães?
A sogra? Devemos nos dividir entre almoçar com a mãe e sair correndo para lanchar com a sogra? Delícia quando estamos falando de uma pessoa querida com quem se tem um afetivo relacionamento, mas quando não?
Nunca me conformei com a comemoração dessa data nas escolas. Acho de pouca sensibilidade. São assuntos de família, para serem comemorados ou não, pela família. Quantas crianças sofrem porque têm uma mãe ausente ou, que não pode muitas vezes comparecer na festinha da escola, ou ainda aqueles que não têm mais suas mães? Nesse caso acho que o sofrimento e constrangimento de uma criança não justifica a alegria de centenas. O mesmo raciocínio vale para o dia dos pais. Que tal as escolas comemorarem somente as datas cívicas, que dizem respeito à história e eventos públicos? São tantas. Dia da árvore, do índio, do folclore, da bandeira, da república. Já não é o suficiente?
Dia dos Namorados – agora complicou mesmo. Já perceberam como se tornou difícil para um grande número de pessoas definir, rotular, que tipo de relação estão vivendo? Isso porque existem hoje diferentes formatos de relacionamento e como nem temos os vocábulos ainda claros e definidos, fica-se na dúvida. Dou presente e corro o risco de me precipitar, afinal, ele considera a relação como de ficantes? Ou, ao contrário, não considero a data e ele chega trazendo um presentão? Pergunto o que somos? Não pode parecer pressão? O que fazer? Essas são questões que afligem muitos nessa época. Verdadeiros dramas são criados e vividos. Às vezes, as pessoas criam uma expectativa de terem uma noite maravilhosa e romântica e seu namorado não dá o mesmo valor à data. Isso dá enredo para samba. Qual é mesmo o significado desta data? Por que se dá tanta importância a convenções claramente comerciais?
Além dos constrangimentos que essas datas proporcionam, criam ainda dor nas pessoas que estão sozinhas e desejosas de formarem um par. Cria uma sensação de evidência da dolorosa solidão. Sensação de que sobrou, de que todos estão felizes comemorando seus amores e somente ela está sozinha e infeliz. Grande ilusão! Casamento, namoro não é sinônimo de felicidade e plenitude, assim como estar sozinha não é sinal necessariamente de falta de opção e de infelicidade. Temos mania de achar que alguns desejos e sentimentos têm que ser universais. Todo mundo tem que querer casar e tem que querer ter filho. É quase um dogma, uma verdade inquestionável que leva aqueles que divergem a serem vistos como problemáticos.
Será mesmo que todo mundo tem que querer viver o par amoroso? Será essa a única forma de se sentir plena e feliz? Será mesmo que toda mulher tem o instinto materno? Essa é a única forma de realização? Quantos casam e têm filhos porque jamais sequer pensaram que há outras formas de vida e muito mais possibilidades prazerosas do que em princípio foram capazes de imaginar?
Sem dúvida nenhuma o amor, o casamento e a formação de família são uma grande fonte de felicidade para a maioria de nós. Mas, sem dúvida nenhuma, também, é um mito achar que outras formas de vida, de relacionamentos e focos de interesse na vida não existem ou são necessariamente fugas ou manifestações de repressões e neuroses.
Já é hora de cada um sacar que é protagonista de sua própria vida e que esta é dinâmica. Fica muito mais fácil quando podemos aproveitar o momento presente com suas vantagens e desvantagens. Amanhã o quadro se alterou, novamente vamos tentar viver a nova situação, com suas vantagens e desvantagens. Dessa forma paramos de querer viver, de valorizar sempre o oposto do que se apresenta no momento.
Acreditem! Ficar solteiro pode ser um momento de grande riqueza e prazer na vida de algumas pessoas, em alguns momentos. Basta que a gente queira enxergar.
Até a próxima!