Bolsa de Mulher – Você é o único filho homem. Como foi tua criação no meio de quatro irmãs? Você era o filhinho da mamãe?
Marcelo Rubens Paiva – Não, ao contrário. Por ser o único menino, fui o que mais sofri. Quando eu tinha seis anos, por exemplo, minhas irmãs estudavam em escolas particulares boas e eu estudava numa escola pública. Meu pai tinha medo que eu me transformasse num afeminado. Tudo mudou com a morte dele, quando eu tinha quase onze anos de idade. A partir desse momento, ninguém mais era mimado na minha casa, todo mundo teve que batalhar. Era proibido estudar em universidade paga porque não tínhamos dinheiro. Minha mãe ficou viúva com 40 anos e cinco filhos.
BM – O desaparecimento repentino do teu pai marcou muito a tua vida?
MRP – Claro, acho que você fica mais vulnerável porque, até então, o lar era uma fantasia de sonhos. Morávamos super bem, eu tinha muitas irmãs e uma mãe amorosa. Enfim, éramos muito felizes. De repente, foi uma facada que sangrou. Começamos a ver desde cedo que a vida não é fácil. Imagine uma viúva de 40 anos, com cinco crianças e sem dinheiro. Como meu pai era um desaparecido e não era considerado falecido, a gente não recebeu seguro e uma série de coisas.
BM – Tua mãe trabalhava fora até o desaparecimento dele?
MRP – Não, ela era uma dondoca, uma dona-de-casa. Nessa época ela começou a trabalhar fora. Desde cedo, nós começamos a trabalhar também.
BM – Teu pai foi deputado pelo PTB. Você é ligado à política?
MRP – Não, eu só sou filiado ao PV. Sou chamado às vezes para me candidatar a deputado e prefeito, mas nunca aceitei.
BM – Você passou a infância no Rio de Janeiro?
MRP – Até os 12 anos. Fomos depois pra Santos, cidade onde meu pai tinha família e passamos dois anos e meio lá. Aí fomos pra São Paulo e eu acabei indo pra Campinas estudar. Vivo em São Paulo agora, no bairro das Perdizes.