Bisbilhotar a vida dos outros todo mundo gosta. Mas você já parou para imaginar que, enquanto você se arruma, desfila de calcinha pela casa ou experimenta novas posições do Kama Sutra com o seu namorado, pode estar sendo intimamente observada por algum xereta de plantão? Pois é, pimenta no binóculo dos outros é refresco e ninguém está livre de ser vítima do voyeurismo. Ou até mesmo de praticá-lo, nem que seja por mera curiosidade. Aliás, nessa prática, é esse o instinto que fala mais alto.
A produtora cultural Laura Marques já foi alvo dessa tara. “Fiquei louca da vida!”, diz ela. “O Pedro, um amigo meu, se é que eu ainda posso chamá-lo assim, deu uma festa na casa dele, uma mansão enorme. Lá pelas tantas, já depois de alguma manguaça, resolvi ficar com um cara que estava me dando um certo mole”, conta ela. A coisa foi esquentando e os dois partiram para o jogo. “Ele me levou para o campo de futebol, que estava completamente deserto, só na penumbra. Como eu estava já meio alta, não percebia nada além dos senhores amassos que estavam rolando entre a gente. A noite acabou, foi tudo ótimo, eu voltei para o meu canto e ele pro dele, com o assunto resolvido”, lembra.
Alguns dias depois, de volta à casa de Pedro – o amigo – Laura resolveu olhar um dos álbuns de fotos da festa enquanto esperava o rapaz sair do banho e… surpresa! “Fotos minhas nas posições mais despudoradas aos amassos com o cara! Na hora não sabia o que fazer primeiro: se dava na cara do Pedro ou rasgava aquilo tudo”, conta. Mas ela não sabia da missa metade. “Quando fui tirar satisfações, fiquei completamente sem-graça. O Pedro se confessou um voyeur inveterado e disse que não se conteve ao me ver no maior rala-e-rola. E ainda teve a coragem de dizer que queria ficar com as fotos como lembrança! Que doente!”, comenta, indignada.
“Não é bem doença”, rebate o sexólogo Marcos Ribeiro. “O voyeurismo é uma prática normal, principalmente entre os homens, que são mais visuais do que as mulheres”, explica. Segundo Marcos, a prática de bisbilhotar a vida alheia surge de maneira natural e, quando o voyeur percebe, já virou uma compulsão. “O voyeurismo vem da infância. Possivelmente, os voyeurs são pessoas que não desenvolveram intimidade com os pais, não tomaram banho juntos ou passaram por alguma espécie de repressão desse tipo”, explica. O fato de não estar sendo visto é crucial para os curiosos em excesso. “Com isso, o voyeur não tem a sensação de que está incomodando ou invadindo. É uma coisa silenciosa”, diz ele, acrescentando que o voyeurismo só é considerado uma anomalia sexual quando substitui totalmente a atividade sexual convencional e se transforma em sua única fonte de prazer.
Se para grande parte das pessoas, um apartamento bem localizado fica de frente para uma portentosa paisagem, para os voyeurs nada se compara à vista de um belo motel. “É o paraíso para qualquer curioso do tipo”, afirma o administrador de empresas Hugo Cruz. “É bem verdade que 99% das janelas ficam com as persianas fechadas, mas quando alguém esquece é programa certo. Certo dia, fui fumar um cigarrinho na minha janela e percebi que uma janela estava aberta. Fiquei por lá, esperando alguma coisa acontecer até que, de repente, surge um cara andando nu pelo quarto”. Já animado, Hugo se posicionou à espera do que viesse em seguida. “Imaginei que a companheira do cara também estivesse pelada e fosse dar as caras, ou outras coisas, pela janela. Mas, eis que surge outro cara, também nu, correndo pelo quarto. Dessa vez quem fechou a janela fui eu”, confessa, decepcionado.
Graça Polinni, dona de uma sex shop no Rio de Janeiro, conta que existem no mercado produtos criados especificamente para os olhudos. “São desde lunetas até câmeras de vídeo disfarçadas de almofada ou ursinho de pelúcia”, diz ela. Mas o destaque mesmo é a cama com postigo. Calma, não é uma arma. “Essa cama é equipada com um visor que permite a quem esteja deitado embaixo dela assistir a tudo o que acontece em cima, pelo ângulo da cabeceira, sem ser percebido. É uma coisa para profissional”, explica Graça, acrescentando que a cama é fabricada nos EUA e vendida no Brasil sob encomenda.
Muitas vezes, nem é preciso lançar mão de artifícios óticos para xeretar a intimidade alheia. O voyeurismo a olho nu é bem mais arriscado e, por isso mesmo, pode ser mais excitante. O problema é quando o bisbilhoteiro é pego com a boca, ou melhor, com o olho na botija. “Meu quarto ficava no segundo andar da minha casa, no Leblon, Zona Sul do Rio. Uma noite, resolvi me embelezar e tomar um banho de banheira. Passei mil cremes, espumas, fiz um show no banheiro. Distraída e relaxada, dei uma olhadinha na lua, que refletia no espelho do banheiro”, lembra a médica Rita de Cássia Mazzur. “Não acreditei no que vi! O vigia estava lá, parado, escondido num cantinho, vigiando o que não tinha que vigiar! Ele estava vendo tudo pelo reflexo do espelho na brecha da janela e ainda tentou disfarçar, descendo pendurado pela varanda!!!”, conta, indignada. Quando chegou ao primeiro andar, Rita já o esperava. “Demiti o sem-vergonha ali mesmo”, afirma.
Mas voyeurismo também pode dar em namoro. Foi o caso da gerente Luzia Pereira. “Eu era adolescente e, toda tarde, ia pra janela olhar um menino que morava num apartamento do prédio em frente ao meu. Um belo dia, ele percebeu e começou a me encarar também. Ficamos nos olhando feito dois idiotas por quase um mês”, lembra. Até que, um dia, alguém resolveu tomar uma atitude mais prática. “Ele descobriu o meu número na lista telefônica e ligou. Dessa vez, foi mais um mês, só de papos no telefone até marcarmos um cinema. Namoramos por quase um ano”, conta. O tempo passou e Tereza perdeu o contato com o ex, mas não o instinto voyeur. “Descobri, pela lista telefônica, que hoje ele mora em Ipanema. Estou louca para conhecer alguém que more por perto, de preferência com uma janela bem ampla, para poder montar minha luneta”, confessa, às gargalhadas.
Invadir a intimidade dos outros, sem a devida autorização, não é algo muito recomendado. Mas ninguém é de ferro. Vai dizer que se o Rodrigo Santoro morasse em frente à sua casa, você não ia tratar logo de arranjar um bom binóculo?