De repente tudo mudou. Por surpresa do destino, aquele homem bonzinho que carinhosamente era chamado de papai e que, na maioria das vezes, era coadjuvante na educação dos filhos, vê-se obrigado a assumir o papel de mãe, o protagonista de um lar, e se transformar num pãe, uma mistura de pai e mãe. Passado o susto inicial, a maioria dos homens consegue encarar esta tarefa de forma satisfatória. Muitos contam com a ajuda de terapia, empregadas domésticas dedicadas, família, amigos, escolas em horário integral, cursos de culinária, revistas femininas e até manuais de auto-ajuda. O importante é ter paciência e estar sempre disposto a aprender. Este tema já foi explorado em filmes como ‘A Noviça Rebelde’ e “A babá quase perfeita’ e outros. Como a nossa realidade não é Hollywood, é preciso suar muito a camisa para educar, criar, formar e orientar uma criança.
Susto
Para Eduardo Serour, pai de Mônica (18 anos) e Viviane (17), o momento de transição de pai para pãe foi bem delicado, quando sua esposa adoeceu e faleceu em quatro meses. “Minhas filhas estavam com 13 e 14 anos. Elas receberam muito apoio das amigas e superaram até mais rápido do que eu”, recorda. Já o fotógrafo Raimundo Neto resolveu tomar conta dos filhos Marcelo (26) e Rafael (19) porque “a mãe deles ficou meio desorientada” e foi morar com os pais em Teresópolis. O mais velho estava com nove anos e o caçula com três. “Na ocasião, cheguei a freqüentar aulas de culinária”, ri. “Depois de um ano ela teve que ficar com o menor por causa de um tratamento ABBR e eu não podia levá-lo”. A história do produtor cultural Marcelo Paradela, pai de Gabriel (8) e Olívia (7), é diferente: “a separação ocorreu há um ano e meio. Tivemos um momento de divergência em relação à guarda das crianças. Depois concluímos que seria melhor que elas ficassem no Rio, pois ela se mudou para Salvador “
Rotina
Raimundo não teve opção e precisou mudar radicalmente sua rotina. “O Marcelo chegava do colégio e almoçava sozinho. Eu só chegava às quatro horas e tinha que lavar, cozinhar, ver dever de casa… ” Já a vida de Eduardo não mudou muito, pois sempre participou na educação das filhas. Dureza foi ter que agüentar as filas de supermercados: “Eu não suportava ir ao supermercado e comecei a ir uma, duas vezes por semana”, lamenta. O produtor cultural Marcelo Paradela mudou tudo que pode e passou a ter como maior apoio a empregada, Wilma, já que não tem parentes nem amigos de infância no Rio. Raimundo, por exemplo, contava com a ajuda da mãe e da irmã nos fins de semana e a vizinha foi escalada para dar uma espiada no Marcelo enquanto o fotógrafo não chegava do trabalho. Essa mudança na rotina masculina é facilmente detectável. Não uma estatística sobre o assunto, mas basta olhar a presença de pais em reuniões escolares ou nas aulas extras como natação, judô ou balé ou ainda nas portas de academias, consultórios… Os homens estão trocando escalas no trabalho, desmarcando pacientes ou dando aquela ‘fugidinha’ estratégica em função do bem estar de seus rebentos. Mas nem sempre é possível desenvolver a capacidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Fazer o quê ? Quem responde é Eduardo: “elas eram prioridade, independente do tempo. A atenção e o amor independe do tempo que você fica com os filhos. O mais importante é a qualidade do amor. O tempo que estava com elas, era um tempo de qualidade”, explica.
Reação Das Crianças
Os filhos de Marcelo, Olívia e Gabriel, reagiram bem dentro do possível à decisão da mãe de se separar e morar em outro estado. “As crianças ficaram menos ansiosas. Foi tudo resolvido de uma forma muito amigável, foi tudo muito conversado. A gente separou e continuamos a morar juntos durante um tempo. A proximidade da idade deles (sete e oito anos) ajudou muito. O importante é não separar as crianças”, acredita Marcelo. Os meninos de Raimundo, porém, acabaram sendo criados separados. “O Marcelo ficou mais parecido comigo, colabora mais. O Rafael tem mais luxos, é mais mimado”, esclarece. Mônica e Viviane ficaram mais independentes depois que perderam a mãe “acho que foi justamente pela idade delas. Quando a perda ocorre nos sete primeiros anos da vida de uma criança, você compromete a identificação e a formação dela”, conjectura o pai, Eduardo.
Figura da mãe
Ser mãe. O que significa? Qual o papel? Um pai pode substituir a figura de uma mãe? “As pessoas me disseram que é possível o pai substituir a mãe. Eu acho quase impossível um pai substituir a mãe. Existem grandes possibilidades da mãe substituir o pai. O que falta ao pai é o instinto materno. Este instinto existe nas mulheres e nos animais e falta ao homem. Você consegue superar as necessidades, as tarefas, a atenção, o carinho mas sempre vai ficar faltando alguma coisa . Costumamos dizer que a mãe é como se fosse uma ponte para o mundo . A ponte pode ser considerada como um fator de equilíbrio e o futuro da criança depende da qualidade da ponte para o mundo”, diz Eduardo. “Elas tiveram que aprender a viver sem a mãe. Eu ria muito quando as pessoas diziam que eu era pãe. Eu ria muito disso porque é impossível eu ser isso. Eu sou PAI, elas não têm mãe e vão viver sem a mãe e vão viver bem, essa é a função do pai. Não quero tentar o tempo todo substituir a mãe.”, desabafa. O grande erro acontece quando o pai tenta negar a importância da figura materna. Mãe é insubstituível, o pai pode, e muito bem, educar, orientar, criar e mimar seus filhos. Com paciência, força de vontade e dedicação pode-se aprender a ser pai integral.
O pai integral também deve estar bem atento, os filhos nem sempre utilizam da linguagem verbal para manifestar seus desejos, medos, anseios,… Escutá-los, estabelecer limites, amar, acertar e não ter medo de errar é fundamental. Deixe o instinto paterno fluir.





