Todo mundo sabe que no inicio do namoro tudo são flores, beijos e rock and roll. A voz falta, as mãos tremem e o coração dispara, num eterno verão escaldante. E haja btus no ar-condicionado para abrandar o calor das tantas noites em claro, por motivos que passam a quilômetros de distância da insônia. Com o tempo, as mãos suadas dão lugar às mãos dadas e os dedos passam a apontar na mesma direção. Convenhamos, não dá para levar a vida toda na adrenalina, a mil por hora. Mas dizem que todo cuidado é pouco quando a temperatura da pele do casal começa a baixar, e aquele curto-circuito inicial parece ter se transformado em geleiras da Antártida. Afinal, é chuva de verão ou um furacão arrasador?
Manter a chama da paixão com uma enxurrada de problemas devastando o relacionamento não é nada fácil. E é sob ameaça de uma intempérie amorosa que a vida de muitos casais acaba nublando. “Os homens acham que quando o sexo está bom, o resto é apenas detalhe. Tudo que eles têm na cabeça se resume a sexo, sexo e mais sexo”, diz a dentista Sônia Pereira, que está saindo de um namoro de três anos após várias tentativas frustradas de entendimento. “A gente se gostava e combinava sexualmente, mas não era suficiente. Pra mim, sexo é conseqüência de companheirismo, respeito e admiração. É aquele lance de olhar pro outro e saber o que ele está pensando. Meu tesão vem daí”, desabafa a dentista, alegando que assim a entrega é total.
Amanhecer com o dia claro, sem nuvens escuras pairando sobre a cabeça e a certeza de que ele anoitecerá sereno, para a publicitária Camila Zorba, é essencial para o termômetro do sexo se manter elevado. “No meio de um caos emocional é difícil pensar em transar. Mas se o problema não for entre o casal, é claro que o sexo não vai sofrer um abalo, agora, se for, acho que não tem muito jeito. A mulher é muito sentimental, se ela perde o tesão, já era”, diz Camila. Defendendo a teoria de que a temperatura no quarto do casal não permanece estável o ano todo, entra no debate a engenheira Simone Paranhos. “Sexo é fase. Tem períodos em que você está no cio, querendo transar na sala, no chuveiro, na cozinha e outros, que você não quer nem chegar perto. Para se viver uma relação longa, devemos ter consciência disso. A paixão vive de ciclos, cabe a nós saber administrá-los”, acredita Simone.
Dores de cabeça, cansaço, muito trabalho, pouca grana e preocupação com as crianças são algumas das desculpas usadas por quem já viu a libido, de alguma forma, despencar. Ao contrário do que se pode imaginar, ainda existem homens sensíveis nesse mundo que ligam o sexo ao amor. O professor Daniel Nunes é um raro exemplar que acredita que a parte afetiva mede o grau da relação. “Se um casal não está bem, isso reflete no sexo. Se o problema for só na parte sexual, é mais fácil de resolver. Vale a pena tentar de tudo para melhorar, porque sem sexo vira amizade. Agora, se a dificuldade é afetiva, fica muito mais complicado. Um dos dois não estando a fim, a solução é partir pra outra”, afirma ele, revelando que já passou por esse tipo situação.
Na opinião do psicólogo Marcos Ribeiro, o sexo é, sim, um termômetro do relacionamento. “Não a relação sexual propriamente dita, mas o sexo que propicia o encontro, a troca de carinho, afeto, diálogo. A intimidade que faz com que se compartilhe planos de vida, projetos e sonhos”, afirma. Mas calma, se a sua vida sexual anda fazendo você bater o queixo, segundo ele, há possibilidade de retomar o prazer – só que, claro, isso depende de cada casal. “Ambos precisam estar disponíveis para conversar sobre os conflitos, ouvir com atenção o outro e desistir de algumas coisas em prol do relacionamento”, relata.
Cumplicidade é um dos trunfos que Christiane Gonçalves dos Reis utiliza para manter o pique do casamento de oito anos. Programas com boa música, chope gelado e, de vez em quando, escapadas sem as filhas fazem parte do dia-a-dia do casal. “O sexo não é necessariamente um termômetro, porque você pode estar com problemas pessoais ou profissionais e isso interferir no desejo, apesar de estar vivendo uma boa relação. Agora, se estiver tudo bem e, mesmo assim, não der vontade nem de chegar perto, tem que parar pra pensar, porque todo mundo tem o direito de ser feliz. Sem tesão não há solução”, brinca a advogada, fazendo alusão ao título do livro do psicanalista Roberto Freire. Portanto, no fim das contas, mesmo que a frente fria chegue de repente, vale a pena redobrar a atenção e cuidados para manter os bons, velhos e suados 42º C de outros verões debaixo dos lençóis.